A globalização não perdoa os sem economia e sem soberania.

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Em um contexto internacional em que há fortalecimento dos movimentos nacionais de defesa da produção e emprego, torna-se ainda mais injustificável a opção brasileira pela destruição das políticas públicas de estímulo ao mercado interno.

Após o início da grande crise em 2008, a globalização perdeu um dos seus principais pilares propulsores: o comércio mundial. No quadriênio de 2012 a 2016, por exemplo, o comércio mundial cresceu apenas 3% em média ao ano, ao passo que no período entre 2003 e 2007 aumentava 8% por ano, em média.

Para o mesmo lapso de tempo, a produção mundial expandiu 5,1% ao ano em média entre 2003 e 2007 e 3,4% entre 2012 e 2016. Em função disso, percebe-se que no período que antecede a grande crise de 2008, as trocas externas aumentaram 1,6% a cada 1 ponto percentual de elevação do produto mundial, enquanto nos anos pós-crise de dimensão global, o comércio mundial subiu 0,9% a cada 1 ponto percentual de crescimento do produto.

Duas razões principais ajudam a entender o decréscimo em 43,7% na relação entre variação da produção e do comércio externo entre os períodos anterior e posterior à crise iniciada em 2008. De um lado, a atual fase de maturação das cadeias globais de valor, cujas restrições encontram-se nos limites de continuidade na divisão do trabalho ao longo do território mundial.

Fato importante disso tem sido a mudança mais recente no comportamento da Ásia, especialmente da China. Entre os anos de 2003 e 2007, por exemplo, o ritmo chinês de expansão das importações foi de 20%, em média, ao ano, ao passo que no quadriênio recente (2012 – 2016), o crescimento das compras externas decaiu 7% como ritmo médio anual.

Ao mesmo tempo, as exportações dos produtos chineses que incorporavam anteriormente 60%, em média, de componentes importados, passaram, no período pós-grande crise de 2008, a deter o equivalente a 35% de componentes de importação. Também o comércio intrafirma (matriz e as filiais das corporações transnacionais) que registrava forte ritmo de crescimento, tendeu a desacelerar no período recente.

De outro lado, o fortalecimento dos movimentos nacionais de defesa da produção e emprego vem impondo a recuperação das medidas de proteção do sistema econômico local, inclusive com o retorno das modalidades de substituição das importações. A redução da participação dos países não ricos no total das importações mundiais aponta para outra orientação no sentido da globalização pela via do comércio externo.

Pelos balanços mais recentes a respeito da globalização, surgem cada vez mais questionamentos sobre a sua natureza desigual e o esvaziamento da soberania nacional. No caso da abertura das fronteiras comerciais na Inglaterra, por exemplo, os ganhos na ampliação das importações permitiram a redução em até 80% do preço interno dos produtos têxteis, o que contribuiu para a elevação do poder de compra médio no conjunto das famílias em 3%.

Por outro lado, o emprego no mesmo setor têxtil decresceu em 90%, o que significou a passagem da relação de um ocupado na indústria do vestuário a cada 30 ocupações no total do país para, atualmente, uma vaga a cada 370 em todo o país. Com a globalização, a indústria têxtil inglesa praticamente desapareceu, fazendo com que a redução do nível de emprego implicasse queda de 1,3% no poder de compra médio do conjunto das famílias.

Para o Brasil, que vem recentemente diminuindo o poder de compra médio das famílias e tornando cada vez menos valorizado o seu mercado interno, parece injustificável a destruição das políticas públicas de estímulo e defesa da produção e emprego nacional. Salvo pelo sentido do abandono que decorre do compromisso de garantir a soberania nacional.

Artigo publicado dia 17/10/2017 na página do DIAP – disponível na internet 20/10/2017 

Nota: O presente artigo não traduz necessariamente a opinião do ASMETRO-SN. Sua publicação tem o propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

1 Comentário

  1. Quanto à globalização, sugiro a quem quiser se informar sobre isso ler o livro O FRACASSO DA GLOBALIZAÇÃO de André Costa, que não é nenhum idiota pois é doutor em economia pela Universidade de Barcelona. Ali ele mostra que a globalização é um filhote do neoliberalismo, e serve só para manter a subserviência do terceiro mundo aos grandes cartéis internacionais.
    No Brasil, enquanto não houver um esforço contínuo para fazer as famílias ganharem dinheiro que lhes dê um nível de renda decente, sempre seremos todos pobres. E isso se faz a longo prazo, através de EDUCAÇÃO.

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