Inmetro: MPF investiga redução de qualidade em peças de reposição para motos

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Mudança nas regras de produção aumentariam os riscos de acidente causado pelo travamento das rodas e exigiriam trocas mais frequentes das peças
Em 2018, o Inmetro mudou as regras sobre a qualidade de uma peça que equipa motos, a coroa. Esse componente é parte do sistema de transmissão secundária, ou “relação” da moto, composta por três elementos: coroa, corrente e pinhão. São essas peças que interligam o motor com a roda traseira do veículo. Segundo denúncia feita pelo Sindicato Nacional das Indústrias de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos (Sicetel), além de aumentar o risco de acidentes, o novo padrão de qualidade faz com que as coroas tenham de ser renovadas a cada 2 mil km, e não mais a cada 40 mil km como previsto anteriormente. Agora, o Ministério Público Federal pediu que o Inmetro se manifeste sobre isso.

Documento obtido em primeira mão por Autoesporte mostra que a procuradora Adriana da Silva Fernandes recomendou ao Inmetro que preste esclarecimentos sobre a medida dentro de dez dias. Em sua decisão, a procuradora considerou que o MPF convidou representantes da presidência do Inmetro para uma reunião sobre o assunto em duas ocasiões, mas que o órgão “respondeu que não foi possível remanejar a agenda de seus representantes para a reunião em questão e solicitou alteração da data agendada”.

Entenda o caso

O caso veio à tona depois que o Sicetel fez uma denúncia afirmando que a Portaria nº 215/2018 do Inmetro permitiu que coroas vendidas no mercado de reposição fossem fabricadas sem um tratamento térmico que as peças originais recebem. Assim, segundo a denúncia, as peças teriam menor durabilidade, poderiam travar a roda e causar um acidente, catapultando o motociclista.

A Procuradoria da República decidiu pedir os esclarecimentos depois de analisar estudos técnicos que alertam para o aumento no risco de acidentes. Também contribuiu com o pedido o fato de que o MPF convidou representantes do Inmetro a participar de reuniões sobre o caso, porém ninguém compareceu para prestar os esclarecimentos. O parecer técnico que foi usado como base para a decisão de mudar as regras de fabricação das coroas também não foi disponibilizado pelo Inmetro, segundo o MPF.

O outro lado

Em nota enviada a Autoesporte, o Inmetro afirma que levou em consideração Estudos de Impacto e Viabilidade, tomou parte de comissões técnicas “com a participação das entidades representativas dos fabricantes e importadores de componentes de motocicletas, bem como das montadoras” e abriu consultas públicas. Depois de diversas análises, o órgão afirma que “chegou-se à conclusão que as normas identificadas e procedimentos de ensaios eram inadequados para a realidade do setor nacional”.

“No que tange à dureza dos componentes coroa e pinhão, destaca-se a inexistência de uma referência normativa internacional, bem como não há um consenso entre os próprios fabricantes nacionais e representantes das montadoras sobre esse critério, que está diretamente ligado à necessidade de realização de tratamento térmico ou termoquímico nesses componentes”, diz a nota. O Inmetro também afirma que “parte das montadoras alegaram como justificativa que o tratamento térmico não é necessário e que pode produzir peças com falha (trincas)” e que “as motos de 125 cc  não requerem coroa com tratamento térmico, ou seja, o requisito de dureza estaria relacionado às diferentes cilindradas da moto”.

“Em função de todo o exposto, como forma de evitar o desabastecimento do mercado, e considerando que não há evidências de que tais produtos estejam expondo seus usuários a acidentes, o Inmetro optou por ajustar o requisito de dureza, até que seja possível a avaliação dos componentes por meio do requisito de durabilidade, sugerido como o caminho mais adequado”, finaliza o texto.

Questionados sobre a ausência do Inmetro em reuniões convocadas pelo MPF e se as respostas solicitadas pela Procuradoria serão encaminhadas dentro do prazo, representantes do órgão afirmaram que as reuniões foram adiadas pelo MPF, assim como o prazo para as respostas. Tais informações, porém, constam da Recomendação assinada pela procuradora Adriana da Silva Fernandes a que Autoesporte teve acesso.

Coroa de moto (Foto: thinkstock)
 
Crédito: Guilherme Blanco Muniz/Auto Esporte – disponível na internet 10/12/2018

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