Da era do megabyte lascado à realidade aumentada.

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Pesquisaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!’

O grito, lançado sempre tarde da noite, informava à redação que o pessoal do departamento de pesquisa estava indo embora: se alguém tivesse alguma dúvida, que a encaminhasse logo, ou não teria como resolvê-la. Sim, tínhamos alguns dicionários surrados espalhados pelas mesas, revistas, documentos soltos e obras de consulta. Mas nada substituía o Departamento de Pesquisa, que tinha acesso ao arquivo do jornal, e mais enciclopédias, mais livros, mais dicionários. Os pedidos eram respondidos com pastas de papel cheias de recortes e cópias de documentos.

Sei que era assim porque estava lá, mas realmente não sei como conseguíamos fazer jornal sem internet. Quando o Globo On estreou, a web era uma novidade tão recente no Brasil que não só escrevíamos Internet com I maiúsculo, como acrescentávamos um invariável parênteses na sequencia: “rede mundial de computadores”. Era difícil explicar para os amigos e parentes que não tinham computador — ou seja, quase todos — o quê, exatamente, era aquele novo produto do jornal.

Os celulares ainda eram objetos de luxo, caríssimos, grandes, pesados. A era dos telefones pequenos estava para começar. Pessoas muito solicitadas ainda usavam pagers, aparelhinhos miúdos que emitiam bips quando recebiam uma mensagem. Os modelos avançados mostravam mensagens curtas, perto das quais os 140 caracteres dos tuítes são autênticas epopeias; mas a ideia geral era correr até o telefone mais próximo, ligar para a central e saber o que estava acontecendo. Muitos de nós, no jornal, chegamos a usar bips, como os pagers acabaram sendo popularmente conhecidos. Nosso cordão umbilical com a redação, porém, continuava sendo o rádio dos carros de reportagem.

As câmeras digitais estavam começando a ficar conhecidas, mas era preciso ter mais paixão do que objetividade para gostar do resultado que produziam. A grande revolução, porém, ainda demoraria alguns anos para acontecer — mas quando celulares e câmeras se juntaram, já nos anos 2000, a comunicação humana mudou de forma radical. Os jornais nunca mais foram os mesmos; as nossas vidas nunca mais foram as mesmas. Nossa relação com as notícias e com o tempo mudou; o mundo encolheu.

A comunicação ganhou novos canais nas redes sociais, onde leitores, jornalistas e notícias se misturam 24 horas por dia. Texto, fotografia, vídeo, transmissões ao vivo — participamos de tudo ao mesmo, existindo simultaneamente em muitas mídias e diferentes redes sociais. Os jornais, como todos nós, alimentam as redes sociais e se alimentam delas. Para onde vamos? Realidade virtual e realidade aumentada começam a fazer parte do leque das nossas possibilidades, que parecem ilimitadas.

O que é certo é que nunca o mundo mudou tanto em 20 anos quanto nos últimos 20 anos.

Texto publicado na página no Jornal O Globo  – disponível na web 29/07/2016

Nota: O presente artigo não traduz a opinião do ASMETRO-SN. Sua publicação tem o propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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