Operadoras de plano de saúde ampliam receita, apesar de perda de clientes.

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Em 2016, lucro saltou 66% com reajustes ao consumidor bem acima da inflação.

A recessão e o desemprego fizeram com que mais de 1,5 milhão de pessoas deixassem de ter plano de saúde no ano passado. Mesmo assim, as operadoras conseguiram aumentar seus ganhos: a receita das empresas cresceu 12%, e o lucro líquido aumentou 66%, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Segundo especialistas, a estratégia para obter resultados melhores em ano de crise é repassar a conta para o consumidor. Há reajustes de planos coletivos — equivalentes a 80% do mercado — que chegam a 40%. Nos planos individuais, o aumento foi de 13,55%, índice similar aos dos últimos dois anos. A própria ANS reconhece o problema e diz que a tendência é que os planos de saúde se tornem um serviço de elite.
O reajuste dos planos foi muito superior à inflação, que fechou o ano passado com alta de 6,29%. Mesmo assim, as contas não fecham para as operadoras, muito menos para os usuários. Os planos individuais, cujo reajuste é fixado pela ANS, praticamente não estão disponíveis no mercado. O consumidor, muitas vezes, é levado a contratar planos coletivos por adesão, nos quais o reajuste é livremente negociado entre operadora e empresa ou associação que contratou o serviço. Ao aumentar o preço da mensalidade, as operadoras empurram mais consumidores para fora dos planos e não resolvem a pressão de custos médicos e hospitalares, que subiram 14% no último ano. Para analistas, há risco até de se inviabilizar o segmento.
As operadoras estão lucrando num contexto de crise em que outros setores estão indo mal. Se está havendo prejuízo pelo aumento maior de despesas que de receita, ele não está sendo repassado ao acionista, mas ao consumidor — diz Ana Carolina Naverrete, pesquisadora de saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
O estudante Michel Menezes, de 19 anos, contratou seu primeiro plano de saúde, em fevereiro, e já sentiu o peso do reajuste: foram 28%, aplicados em maio.

— Consigo pagar porque ainda moro com meus pais. Mas o valor me surpreendeu por vir antes de completar um ano que firmei o contrato e pelo percentual — diz Menezes, que teve o aumento aplicado na data de aniversário do contrato de adesão ao qual se vinculou.

A conta para Marco Antônio Cavalcanti veio ainda mais salgada. O fotógrafo aposentado, de 65 anos, teve seu plano reajustado em 40%, em junho, para R$ 2.900. Sem êxito na tentativa de negociar com a administradora do benefício, ele vai recorrer à Justiça.

— Minha aposentaria toda vai para pagar essas taxas — desabafa Cavalcanti.

Imagem do Jornal O Globo

Segundo José Cechin, diretor-executivo da Fenasaúde (federação com 23 grandes empresas do setor) e ex-ministro da Previdência, as operadoras fecharam as contas com déficit em seis dos últimos dez anos. De acordo com Cechin, o resultado positivo de 2016 — de R$ 6,46 bilhões — foi influenciado por ganhos obtidos com a aplicação financeira das reservas obrigatórias exigidas pela ANS. A regra é uma forma de assegurar que as empresas tenham recursos para garantir a operação futura. Outro fator que contribuiu para o salto de 66% nos ganhos do segmento foi a reversão de depósito judicial de uma das empresas.

— A preocupação das nossas associadas é que a despesa com a assistência está crescendo mais rapidamente do que as receitas. E a sinistralidade (frequência de uso) também cresceu de uma média de 75% para 85% em 2016 — destaca Cechin.

Pedro Ramos, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), que reúne os planos, afirma que 30% das operadoras que atuam no mercado estão no negativo. Ele argumenta que o setor sofreu com reajustes represados em governos anteriores e que, mesmo com os aumentos recentes, o equilíbrio dos contratos ainda não foi retomado. O setor busca fechar um acordo com os hospitais — que representam 40% das despesas — com duração de cinco anos para reduzir custos. A proposta é trocar o pagamento por procedimento por um modelo de pacote de serviços:

— Estamos reescrevendo a relação com os hospitais no Brasil.

Ramos diz ainda que só um modelo adequado de reajustes permitiria mensalidades mais baixas no futuro:

— Precisamos aumentar a oferta de produtos, acabar com o imbróglio dos reajustes por faixa etária, que sobrecarregam os jovens. Estão todos embalados por uma canção que diz que os planos têm que dar tudo, mas tudo tem um custo. Isso não pode ser suportado.

Nos hospitais, por sua vez, os efeitos da crise se refletem nos atrasos dos pagamentos das operadoras, que variam de 15 a 60 dias, nos casos mais graves, segundo Fernando Boigues, vice-presidente da Federação dos Hospitais do Estado do Rio (Feherj). Ele afirma que é necessário fazer mudanças no modelo.

— É preciso fazer um estudo sobre esse pagamento por pacotes e trabalhar em prevenção de custo — diz Boigues.

Rodolfo Garcia Maritano, superintendente executivo da Unimed Brasil, admite que o ritmo de reajuste não é sustentável para o consumidor.

— Ao aplicar um aumento elevado, você estimula quem usa pouco o plano a sair. Ficam aqueles que usam com maior frequência. Isso não é sustentável. No entanto, os custos na área de saúde sobem de elevador, enquanto os reajustes vão pela escada. Para mexer no custo, é preciso mexer na abrangência da cobertura e em gestão assistencial — afirma.

Até agora, a solução apresentada pelas empresas para resolver a crise é diminuir ainda mais a regulação sobre o setor. Na Câmara dos Deputados se discute, em regime de urgência, a mudança na Lei 9.656/1998, que rege a saúde suplementar. Simultaneamente, a ANS discute com especialistas uma proposta do Ministério da Saúde de criação de planos acessíveis. Nas duas frentes, as iniciativas preveem uma regulação ainda menor dos reajustes — hoje, somente planos individuais ou coletivos com até 30 beneficiários são acompanhados pela agência. Outras sugestões incluem reajustes baseados em planilha de custos das empresas, prazo maior para atendimento e redução de coberturas.

Arthur Rollo, titular da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), propôs à ANS, na última semana, o fim da figura das administradoras de benefícios, obrigatórias pela regulação do setor na contratação de planos coletivos:

— Em toda cadeia produtiva, o intermediário onera o custo. As administradoras têm a função de proteger o consumidor, mas, se assim fosse, não estariam como rés, ao lado dos planos, em ações judiciais.

ANS: PLANO DEVE VIRAR SERVIÇO DE ELITE

Leandro Fonseca da Silva, diretor de Normas e Habilitação das Operadoras e diretor-presidente substituto da ANS, diz que a trajetória de custos das operadoras é insustentável e que a única saída é repassar o custo ao consumidor:

— A tendência é que plano de saúde vire um serviço de elite. Temos que fazer uma discussão mais ampla, como a que está sendo feita para a Previdência, sobre como fechar essa equação da saúde, seja ela pública ou privada. Essa conta vem pelo imposto ou pela mensalidade.

Indagado sobre como a ANS vai atuar para evitar que o consumidor seja muito onerado, ele foi lacônico:

— O desafio é grande.

Perguntada sobre o fato de não exigir maior oferta de planos individuais, a ANS disse, em nota, que não há previsão legal para obrigar as empresas a ofertarem estes planos. Em relação aos planos coletivos, a agência argumenta que neste caso há livre negociação entre empresas e operadoras. Na prática, porém, caso o trabalhador não concorde com o reajuste aplicado, dificilmente encontrará um plano individual disponível no mercado.

 

Seus direitos em caso de negativa de atendimento pelo plano de saúde

Problemas no atendimento

Você paga o Plano de Saúde e, na hora que precisa, tem o atendimento negado. Numa situação desta, o usuário deve fazer contato de imediato com a operadora para exigir solução. De acordo com a Proteste, em casos de urgência e emergência, não pode haver negativa de atendimento. Todos os Tribunais de Justiça do país mantêm um juiz de plantão  (24

Negativa deve ser registrada por escrito

A operadora que se negar a cobrir determinado procedimento deverá fazer essa comunicação por escrito, sempre que o beneficiário do plano solicitar. A negativa deverá estar em linguagem clara, indicando a cláusula contratual ou o dispositivo legal que a justifique. A operadora que não fornecer a negativa por escrito pode ser multada pela ANS em R$

Cobertura de procedimentos pode ser consultada

Em caso de dúvidas sobre o que o plano de saúde deve ou não cobrir, é possível consultar o Rol de Procedimentos da ANS, onde constam todos os procedimentos que um plano de saúde deve cobrir. Desde o dia 2 de janeiro, foram incluídos mais 21 novos procedimentos, ampliando a lista para 3.216. É preciso ter muita atenção com a modalidade do plano de

A quem recorrer em caso de recusa

Nos casos de urgência, o usuário pode entrar em contato com os Tribunais de Justiça para valer seu direito. Mesmo nas situações em que não há urgência, há a possibilidade de recorrer à Justiça, à ANS e aos órgãos de defesa do consumidor.

 

Os cuidados necessários para cancelar um plano de saúde

Crise x plano de saúde

Com a crise econômica, há famílias cujo orçamento familiar já não está permitindo manter o plano de saúde. Mas na hora do cancelamento, é preciso alguns cuidados para não ter dor de cabeça futura, como a inserção do nome em cadastro de inadimplência. Para ajudar aqueles que estão nesta situação, a Proteste listou algumas dicas orientações para que o processo seja tranquilo.

Aviso de cancelamento

O usuário deve verificar no contrato com quanto tempo antes é preciso avisar sobre o cancelamento. Após essa verificação, basta enviar um pedido formal por escrito à operadora do plano. Dê preferência, uma carta com Aviso de Recebimento (AR) para ter o comprovante do envio. O cancelamento também pode ser feito pessoalmente, levando à sede da operadora, duas vias do pedido. O desligamento por telefone não é recomendável.

Taxa para rescisão de contrato

A operadora não pode cobrar qualquer tipo de taxa de rescisão de contrato, nem exigir fidelidade contratual mínima de um ano.

Quando a iniciativa é da operadora

Só existem duas situações em que os contratos de planos individuais ou familiares podem ser cancelados por iniciativa da operadora. A primeira, em caso de fraude, como mentir sobre doenças preexistentes e emprestar a carteira do plano para outra pessoa. A outra, pelo não pagamento da mensalidade por período superior a 60 dias, consecutivos ou não, nos últimos 12 meses de vigência do contrato.

Rompimento unilateral

Para que acontece o rompimento unilateral, ou seja, por iniciativa da operadora, o titular do plano precisa ser comprovadamente notificado até o quinquagésimo dia de inadimplência. Caso contrário, o rompimento unilateral é proibido. Já no caso de plano de saúde coletivo, o cancelamento pode ocorrer a qualquer momento.

Regularizando o pagamento após notificação

Quem tem um plano individual e recebeu comunicado de desligamento, para regularizar o pagamento deve entrar em contato com o plano de saúde e tentar fazer um acordo. Em caso de cancelamento indevido é importante apresentar os comprovantes de pagamento. Caso não consiga solucionar o problema, é importante formalizar queixa na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Saiba mais:

Especialista vê com apreensão medidas para reduzir regulação do setor de saúde

https://oglobo.globo.com/economia/especialista-ve-com-apreensao-medidas-para-reduzir-regulacao-do-setor-de-saude-21544470

ANÁLISE: O sistema de planos de saúde é viável?

https://oglobo.globo.com/economia/analise-sistema-de-planos-de-saude-viavel-21544297

Planos de saúde: o que saber antes de contratar.
https://oglobo.globo.com/economia/defesa-do-consumidor/2017/03/13/174641-planos-de-saude-que-saber-antes-de-contratar

Crédito: Luciana Casemiro e Glauce Cavalcanti/ Jornal O Globo – disponível na internet 03/07/2017 

 

2 Comentários

  1. Bom dia
    Preciso saber quando receberemos a visita da ASSIM aqui no RC, para efetuarmos mudança de plano de saúde.

    E se é possível passar o contato para agendarmos o mais rápido possível essa visita.

    obrigado

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