Inflação abaixo do piso

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A probabilidade de a inflação fechar este ano abaixo de 3%, o piso da meta perseguida pelo Banco Central, aumentou muito. Nas contas de alguns dos mais renomados economistas do país, a chance de isso acontecer já é de 50%. Não por acaso, há casas bancárias apostando que a taxa básica de juros (Selic) pode cair até 6% ao ano, nível sem precedentes na história recente do Brasil.

Nos cálculos do mercado, para que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique abaixo de 3% no acumulado do ano, basta que o resultado de setembro seja inferior a 0,2%, o que está se mostrando muito provável frente às recentes reduções de preços dos combustíveis. Foram justamente os fortes reajustes da gasolina e do diesel que evitaram uma deflação em agosto.

Apesar de ser uma ótima notícia para empresas e famílias, um IPCA inferior ao piso da meta será um problema para o Banco Central. A instituição terá que publicar uma carta à nação explicando por que errou na calibragem do índice de preços. Essa obrigação também vale quando o custo de vida ultrapassa o teto 6%. Por lei, o centro da meta da inflação é de 4,5%, podendo variar 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Dinheiro de sobra

A forte queda da inflação deveria ter aberto uma avenida para o crescimento da economia, mas não foi o que aconteceu até agora. Na melhor das hipóteses, o Produto Interno Bruto (PIB) avançará 1% neste ano. Os juros atuais, de 8,25% ao ano, são os menores em quatro anos. Mesmo assim, os investimentos produtivos estão suspensos. Não há confiança sobre o futuro do país. As eleições de 2018 são uma incógnita.

Diretor da Berkeley Research Group (BRG), uma das maiores consultorias do mundo, Marco Antonio Fernandes afirma que dinheiro há de sobra para financiar o crescimento econômico brasileiro, mas os investidores estão receosos. Preferem manter os recursos em caixa do que correrem o risco de o país eleger um radical tanto de direita quanto de esquerda, o que é bastante provável se levadas em consideração as atuais pesquisas de intenção de votos.

Claudio Graeff, também diretor da BRG, diz que a confiança é fundamental, porque o crescimento mais sustentado do PIB não virá da indústria, que registra um elevado nível de ociosidade, mas da infraestrutura. “Estamos falando de projetos de 25, 30 anos”, ressalta. Por isso, é preciso previsibilidade, certeza de que não haverá mudanças nas regras no meio do caminho. “O Brasil de hoje tem muitos riscos”, acrescenta.

Governos de plantão

Na avaliação de Fernandes, mesmo mergulhado em uma grave crise política, o governo de Michel Temer não é o maior problema. A inquietação é com quem emergirá das urnas. Ele reconhece que o Brasil tem potencial de sobra para retomar o crescimento, mas acaba sendo atropelado pelas incertezas em relação ao Executivo. Graeff ressalta que o temor dos investidores se agrava ante o histórico das concessões. As regras mudaram de acordo com o humor dos governantes de plantão.

Para os diretores da BRG, o pacote de concessões e privatizações preparado por Temer pode contribuir para dar um fôlego importante à economia. Mas é preciso que nada seja feito no atropelo, apenas para dizer que se está agindo. A falta de planejamento e de bons projetos sempre foi a marca do país. Insistir nesse erro custará caro. Portanto, num quadro tão favorável de inflação e juros baixos e de oferta maciça de recursos pelo mundo, uma boa dose de juízo não fará mal a ninguém.

Crédito: Blog do Vicente/Correio Braziliense – disponível na internet 15/09/2017 

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