Cesare Battisti deixa Bolívia para cumprir pena na Itália

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O italiano Cesare Battisti, de 64 anos, já deixou a Bolívia em direção a Itália, onde vai cumprir pena de prisão perpétua. O avião partiu por volta das 19h (horário de Brasília) do Aeroporto Internacional de Viru Viru, em Santa Cruz de La Sierra. A previsão é que ele chegue a Roma por volta das 13h30, no horário italiano.
 
Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália pelo assassinato de quatro pessoas, na década de 1970, quando integrava o grupo Proletários Armados pelo Comunismo. Ele se diz inocente e que foi vítima de perseguição política. Ontem (12), foi preso em Santa Cruz de La Sierra, uma das principais cidades da Bolívia.
 O italiano passou 30 anos como fugitivo entre o México e a França e, em 2004, chegou ao Brasil, onde foi preso três anos depois. Em 2009, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a extradição em uma decisão não vinculativa que deixava a palavra final ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No último dia de seu segundo mandato, em 2010, Lula negou a extradição.

Em setembro de 2017, o governo italiano pediu ao ex-presidente Michel Temer a revisão da decisão sobre Battisti. No dia 13 de dezembro do ano passado, o ministro Luiz Fux determinou a prisão do ex-ativista. No dia seguinte, a extradição foi autorizada por Temer. Desde então, Battisti estava foragido.

*Com informações da RAI, emissora pública de televisão da Itália

Saiba mais

Agência Brasil de Notícias 14/01/2019

Quem é Cesare Battisti, italiano que vivia no Brasil e foi preso na Bolívia

Ex-ativista de esquerda, Battisti foi condenado a prisão perpétua em seu país por homicídios e passou cerca de 40 anos em fuga

Cesare Battisti, ex-ativista de esquerda italiano condenado por homicídios e que foi detido no sábado (13) na Bolívia, passou cerca de 40 anos de sua vida em fuga quase permanente, com períodos de prisão e lutas político-judiciais para evitar a Justiça do seu país.
 
Condenado à revelia à prisão perpétua na Itália, Battisti, de 64 anos, passou por México, França e Brasil, onde a Justiça rejeitou em um primeiro momento sua extradição para a Itália para depois autorizá-la. 
 
A Itália quer punir um dos últimos protagonistas dos “anos de chumbo” de violência dos anos 1970. 
 
Battisti, um poliglota de voz suave e conhecido por suas polêmicas, nasceu no sul de Roma em 18 de dezembro de 1954 em uma família comunista, mas também católica, como ele. 
 
Após passar várias vezes pela prisão por crimes comuns, no final dos anos 1970 entrou para a luta armada dentro do grupo Proletários Armados Pelo Comunismo (PAC). 
 
“Tentar mudar a sociedade com as armas é uma estupidez, mas bom, naquela época todo mundo tinha pistolas”, declarou em 2011. “Havia guerrilheiros no mundo inteiro, a Itália vivia uma situação pré-revolucionária”, acrescentou. 
 
Após ser detido em Milão, Battisti foi preso em 1979 e fugiu em 1981. Em 1993, foi condenado à revelia à prisão perpétua por dois homicídios e por cumplicidade em outros dois, cometidos em 1978 e 1979, crimes pelos quais diz ser inocente. 
 
Após passar pelo México, encontrou refúgio na França entre 1990 e 2004, graças à proteção do ex-presidente socialista François Mitterrand, que se comprometeu a não extraditar nenhum militante de extrema esquerda que tivesse renunciado à luta armada. 
 
Assim como uma centena de militantes italianos dos anos 1970, Battisti refez sua vida em Paris.
 
Trabalhou como vigia em um prédio e começou a escrever e publicar uma dezena de romances policiais com muitos elementos autobiográficos, que abordam temas como a redenção ou o exílio de ex-militantes extremistas. 
 

Antes morrer no Brasil

Em 2004, o governo de Jacques Chirac decidiu pôr fim à “jurisprudência Mitterrand” e extraditá-lo. 
 
Apesar do apoio de várias personalidades, como o romancista Fred Vargas ou o filósofo Bernard-Henri Levy, a Justiça francesa recusou o recurso contra a extradição. Battisti, então, fugiu para o Brasil com uma identidade falsa, segundo ele, com ajuda dos serviços secretos franceses. 
 
Depois de três anos vivendo na clandestinidade, em 2007 foi detido no Rio e ficou quatro anos na prisão, onde fez uma greve de fome porque dizia preferir morrer no Brasil a voltar para a Itália. 
 
“Escrever para não me perder na névoa dos dias intermináveis, repetindo-me que não é verdade. Que não sou eu esse homem que os meios transformaram em monstro e reduziram ao silêncio das sombras”, diz em “Minha fuga sem fim”, livro escrito no cárcere. 
 
Em 2009, o Supremo Tribunal Federal autorizou sua extradição, mas deixou a decisão final nas mãos do então presidente Lula, que acaba rejeitando extraditá-lo. Em represália, a Itália chama a consultas seu embaixador em Brasília. 
 
Em junho de 2011, Battisti é libertado e consegue obter a residência permanente no Brasil. Instala-se em Cananeia, litoral sul de São Paulo, onde continua escrevendo e tem um filho. 
 
Mas a Justiça brasileira toma decisões contraditórias. Em 2015, uma juíza da 20ª Vara Federal do Distrito Federal determinou a deportação de Battisti para a Itália. No mesmo ano, ele se casa com a companheira brasileira Joice Lima em um camping de Cananeia. 
 
Dois anos depois, é detido em Corumbá (MS), na fronteira da Bolívia, acusado de querer fugir, e foi mantido monitorado com tornozeleira eletrônica por quatro meses. 

Após a eleição, em outubro passado, do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, que prometeu extraditá-lo, Battisti voltou à clandestinidade após 40 anos de fuga até este sábado, quando sua prisão foi anunciada em Santa Cruz de la Sierra, região central da Bolívia.

Crédito: Agência France-Presse/Correio Braziliense – disponível na internet 14/01/2019

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