Orçamento de 2020 deixa pouca margem para máquina pública funcionar

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Mínimo para máquina funcionar é R$ 78,2 bilhões, enquanto orçamento previsto para gastos é um pouco maior, de R$ 89,161 bilhões

A meta fixada para o governo central em 2020, de um déficit de R$ 124,1 bilhões, é possível de ser cumprida, mas traz despesas que se aproximam muito do nível que inviabiliza o funcionamento da máquina pública, o chamado limite de shutdown.   

A análise é do diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, Felipe Salto.

Ele acrescenta ainda que as metas previstas para 2021 e 2022 – de resultados negativos de R$ 68 bilhões e R$ 31,6 bilhões – são preocupantes e “não parecem críveis”, à medida que estabelecem uma trajetória muito acelerada de diminuição dos déficits.  
 

Para o ano que vem, Salto avalia que o cumprimento do déficit de R$ 124 bilhões é viável, mas o orçamento está apertado. Nas contas da IFI, o limite de despesas discricionárias para que a máquina continua funcionando em 2020 será de R$ 78,2 bilhões, muito próximo dos R$ 89,161 bilhões previstos no Orçamento.   

Ou seja, se um contingenciamento for necessário – e nenhuma receita extraordinária entrar -, há pouca margem para manobra. “Mas apostamos no cumprimento da meta em 2020. Não parece haver risco de descumprir”, diz

Cumprimento do teto de gastos será um problema em 2022, diz Salto.
Cumprimento do teto de gastos será um problema em 2022, diz Salto. Foto: Agência Brasil / Estadão

O resultado primário estimado pela Instituição para o ano que vem sem nenhum contingenciamento é de R$ 156,8 bilhões. Por esse número, o governo seria obrigado a fazer um ajuste nas contas de R$ 32,7 bilhões para chegar à meta. Para Salto, ainda há espaços em 2020 para um corte, à medida que há alguma manobra com o uso de reservas de contingências ou a entrada de receitas extraordinárias, mas essa margem fica cada vez menor nos anos seguintes.

O economista chama a atenção ainda para uma grande diferença entre as receitas estimadas pela IFI e pelo governo. O PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual) prevê receitas líquidas em um patamar de R$ 1,355 trilhão, cerca de R$ 31 bilhões acima do número da IFI. “Isso pode ter a ver com receitas extraordinárias, não fica claro. O governo destaca receitas de concessões da ordem de R$ 21 bilhões, o que pode explicar parte dessa diferença”, afirma.

Para os próximos anos, no entanto, Salto avalia que os números fixados pelo governo são “irrealistas”. A projeção da IFI é de déficit de R$ 109,3 bilhões em 2021 e de R$ 98,95 bilhões em 2022, bem distantes dos projetados pelo governo. “Essa diferença tão grande acende um sinal de alerta, o governo pode estar com números um pouco inflados”, destaca. Segundo o economista, se contingenciar as despesas para chegar ao número proposto como meta, o governo bateria no limite de paralisação da máquina, impossibilitando cortes.

“Ou o governo está projetando uma pequena revolução na despesa obrigatória – e não estou me referindo à previdência – ou essa meta será descumprida. Está completamente fora da realidade. A não ser que tenha um crescimento extraordinário de receita”, diz.

Salto pondera que, de fato, para estabilizar a dívida, o governo necessita recuperar rapidamente a geração de superávits em um horizonte curto de tempo. “O problema é que isso só seria factível com cortes mais vultosos da despesa ou aumentos mais expressivos da receita”, afirma. O economista pondera que hoje não há um direcionamento claro sobre quais são os limites da equipe econômica quando o assunto é dívida. Uma vez que isso seja definido, diz, seria possível estabelecer uma trajetória de convergência e uma relação mais clara entre a meta e a dívida.

Teto

Salto destaca que o cumprimento do teto de gastos (pelo qual as despesas não podem crescer mais do que a inflação do ano anterior) é viável em 2020 e que só passa a ser um problema em 2022. Ele destaca que a margem fiscal – que mede a diferença entre o limite fixado pelo teto e as despesas sujeitas a ele – é de R$ 95,7 bilhões no ano que vem. Como a execução mínima de discricionárias para que a máquina funcione em 2020 é de R$ 78,2 bilhões, há uma folga e o risco de descumprimento é baixo.

Em 2022, contudo, esse risco é considerado “altíssimo” pelo diretor-executivo da IFI. Isso porque, segundo a previsão da Instituição, o limite para funcionamento do Executivo será de R$ 84,5 bilhões. E a margem fiscal, de apenas R$ 56,1 bilhões. Salto pondera, contudo, que as previsões estão sendo analisadas pela IFI e “pode ser que revise descumprimento para antes de 2022”.

Crédito: Barbara Nascimento/ Estadão Conteúdo/EXAME

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