“Fui e continuo conservadora”: o que pensa Regina Duarte, que fará ‘teste’ no governo Bolsonaro

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Bem antes de aceitar fazer um “teste” para decidir se assume ou não o cargo de secretária de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, a atriz Regina Duarte, de 72 anos, já vinha se mostrando uma figura conservadora e politicamente de direita. Pelo menos é o que demonstram declarações suas nos últimos anos, além das muitas postagens em suas redes sociais relativas à política.

Em publicação nas redes sociais, o presidente afirmou que o governo iniciou um “noivado” com a atriz, depois de se encontrarem nesta segunda-feira (20). “Tivemos uma excelente conversa sobre o futuro da cultura no Brasil. Iniciamos um ‘noivado’ que possivelmente trará frutos ao país.”

Entre suas posições tornadas públicas, estão a afirmação de que Bolsonaro é “um cara doce”. No ano passado, ela também disse que defendia o corte de verbas na pasta da Cultura.

Ainda em 2019, primeiro ano de governo do presidente, a atriz postou várias imagens no Instagram mostrando não só Bolsonaro, mas também o ministro da Justiça e Segurança Pública, o ex-juiz federal Sergio Moro; e da Economia, Paulo Guedes; frases defendendo a Operação Lava Jato e ações do governo na segurança, economia e combate à corrupção; além de convocações para manifestações pró-governo.

Agora, a atriz pode assumir o posto mais alto da política cultural no Brasil no lugar de Roberto Alvim. O diretor de teatro, que comandava a área havia apenas dois meses, deixou o cargo após divulgar um vídeo com um discurso em que repetia frases de Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda na Alemanha nazista.

‘Um cara doce’

Dois dias antes do segundo turno que elegeu Bolsonaro, em 2018, Regina Duarte deu uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Na ocasião, a atriz contou que havia se encontrado com o então candidato.

“Quando conheci o Bolsonaro pessoalmente, encontrei um cara doce, um homem dos anos 1950, como meu pai, e que faz brincadeiras homofóbicas, mas é da boca pra fora, um jeito masculino que vem desde Monteiro Lobato, que chamava o brasileiro de preguiçoso e que dizia que lugar de negro é na cozinha”, disse.

Na mesma entrevista, ela afirmou que a imagem de Bolsonaro como uma pessoa “truculenta” foi montada por seus opositores.

“São imagens montadas, pois mostram a reação dele, mas não a de quem provocou a reação. É unilateral. Quando souberam que ele ia se candidatar, começaram a editar todas as gravações e também a provocá-lo para que reagisse a seu estilo, que é brincalhão, machão.”

‘Nunca me declarei feminista’

Já em maio do ano passado, em entrevista ao programa Conversa com Bial, na TV Globo, a atriz afirmou nunca ter se declarado feminista, mesmo que entre suas interpretações mais famosas esteja a protagonista de Malu Mulher.

A série da TV Globo, de 1980, contava a história de Malu, uma mulher essencialmente feminista e que se posicionava contra os valores morais da época.

“Eu nunca me declarei feminista, mesmo fazendo a Malu. Eu não acho que as coisas são por aí. Acredito que há caminhos intermediários. Eu fui e continuo conservadora”, disse.

Em novembro de 2006, Duarte também falou sobre como estava sua vida pessoal quando interpretou Malu. “[Eu] vivia uma situação exatamente igual à da personagem. Tinha acabado de me separar e estava assustada, machucada, com dois filhos para criar e não mais sob tutela do meu pai. Fazer o seriado me fortaleceu, foi terapêutico”, afirmou.

Corte de verbas na Cultura

No mesmo programa Conversa com Bial, a atriz também defendeu o corte de verbas na área da cultura, em consonância com o que o governo Bolsonaro já vinha fazendo.

“O momento agora é de sanar o problema, controlar os gastos. Quem não entender está sendo muito egoísta nas suas ambições. Eu acredito e confio no nosso presidente e tenho certeza de que daqui a pouco o Brasil vai se equilibrar, e as coisas vão melhorar”, comentou.

Além disso, a atriz contou que tem sido chamada de “fascista” nas redes sociais por seu apoio a Bolsonaro e suas posições políticas conservadoras.

“Em 2002, fui chamada de terrorista e hoje sou chamada de fascista, olha que intolerância”, disse. “E eu achando que vivia em uma democracia, onde eu tenho o direito de pensar de acordo com o que eu quero. Eu respeito todo mundo que pensa diferente de mim. Não saio xingando as pessoas por aí”, disse.

Postagem no Instagram de Regina Duarte com foto de Michelle e Jair Bolsonaro na posse do presidente, e legenda: 'Desejando saúde, fé e força à família Bolsonaro na grandiosa missão de gerenciar o destino do Brasil junto com os brasileiros'
Postagem no Instagram de Regina Duarte com foto de Michelle e Jair Bolsonaro na posse do presidente, e legenda: ‘Desejando saúde, fé e força à família Bolsonaro na grandiosa missão de gerenciar o destino do Brasil junto com os brasileiros’ -Direito de imagem REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Impeachment de Dilma Rousseff

Em 2016, quando um processo de impeachment levou à derrubada de Dilma Rousseff (PT) do poder, a atriz se manifestou diversas vezes a favor da saída da petista.

Além de participar de manifestações pró-impeachment em São Paulo, Duarte fez postagens nas redes sociais e deu entrevistas sobre o tema.

“Havia tanta esperança nesse governo, e ele frustrou um país, de uma forma muito agressiva, violenta”, disse a artista em uma entrevista ao canal português TVI.

“Acredito ser extremamente importante o país passar por essa dor (impeachment), para cada cidadão aprender a cidadania, aprender que um bom governo não cai do céu”.

Em maio daquele ano, ela postou uma imagem da urna com os dizeres: “Lembre-se, petista: foi você quem votou no Michel Temer!”

‘Estou com medo’

Na disputa eleitoral de 2002 à Presidência da República, outro posicionamento da atriz causou grande repercussão — contra o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

Duarte participou de um programa eleitoral de José Serra (PSDB), ex-ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso e candidato tucano à Presidência.

“Estou com medo [de uma possível vitória de Lula]… Fazia tempo que eu não sentia tanto medo. Sinto que o Brasil, nessa eleição, corre o risco de perder toda a estabilidade que já foi conquistada […] Não dá para ir tudo para a lata do lixo”, afirmou.

No vídeo, Regina Duarte também afirma não conhecer Lula e ter receio “da volta da inflação desenfreada, de 80% ao mês”. Lula acabou vencendo a disputa.

Quatro anos depois, logo depois da reeleição do petista em novembro de 2006, a atriz falou à Folha de S.Paulo sobre sua “decepção”. “Não sei qual é a palavra. Mas é isso que a nação quer, temos que respeitar.”

‘Quero um mundo melhor’

Na mesma entrevista à Folha, ela contou como surgiu seu interesse por política.

“Desde quando fiquei grávida do meu primeiro filho, que agora fez 33 anos, comecei a me interessar por política. Se quero um mundo melhor, não adianta ficar romanticamente desejando. Tem que votar direito, conhecer os candidatos e se engajar em algumas causas do interesse geral da nação”, disse.

Diretas Já

Quando falava do impeachment de Dilma à TV portuguesa, Duarte destacou que vinha de uma “geração muito participativa”, já que tinha vivido uma ditadura, “a luta pelas Diretas Já, a luta do primeiro presidente eleito democraticamente pelo povo”.

Em um mundo distante das redes sociais, os acervos de jornais mostram que nos anos 80 a atriz participou de diversos atos pelas Diretas.

A artista também lembrou no programa Conversa com Bial de situações que viveu durante a ditadura militar.

“Eu corri de cavalos, me enfiei debaixo de porta para fugir da cavalaria, eu participei de palanques ao lado de Lula pelas Diretas Já, pela Anistia Ampla Geral e Irrestrita, Revolução dos Cravos… Tenho uma história de participação que não é de hoje.

Crédito: BBC Brasil – disponível na internet 21/01/2020

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