Contribuições ao planejamento estratégico do Inmetro – Posição do Brasil e do Inmetro quanto à Infraestrutura em Qualidade

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O presente artigo aborda o posicionamento do Inmetro face a seus congêneres, e tece considerações sobre sua visão de futuro e os caminhos para atingi-la, de forma a fornecer subsídios para o seu planejamento estratégico.

Como visto ao longo deste e dos meus artigos anteriores publicados pelo Asmetro, o “core business” do Inmetro é a Infraestrutura em Qualidade, que exige a busca da excelência.

No plano internacional, isso fica muito claro na acreditação e na metrologia, onde o Inmetro participa de avaliações de pares, inclusive com os melhores congêneres do mundo, como os aqui fartamente mencionados NIST (National Institute of Standards and Technology) dos EUA e PTB (Physikalisch-Technische Bundesanstalt) da Alemanha . Na metrologia ocorrem ainda comparações interlaboratoriais.

No plano nacional, isso também está claro, já que quem fiscaliza, audita e concede acreditações, entre outras atividades, procurando sempre estabelecer a confiança da sociedade em produtos e serviços, deve dar o exemplo.

A busca da excelência pelas organizações responsáveis pela Infraestrutura em Qualidade de um país é bastante evidente no NIST e no PTB, os dois mais famosos institutos de metrologia do mundo. Basta ver que no NIST tem trabalhado vários agraciados pelo Prêmio Nobel (https://www.nist.gov/nist-and-nobel). De forma similar 13 detentores do Prêmio Nobel, tem atuado no Conselho Consultivo do PTB ao longo de sua história, entre eles Albert Einstein e Max Planck (https://www.ptb.de/cms/fileadmin/internet/struktur_abteilungen/kuratorium/Advisory_Board.pdf). Não por acaso, o NIST também desenvolveu e mantém os critérios de excelência do Malcolm Baldridge Quality Award, um dos três mais famosos critérios de excelência do mundo.

A Infraestrutura em Qualidade é a ponta do iceberg. Na busca da excelência em IQ há uma série de atividades meio onde igualmente deve-se buscar a excelência, para que as atividades fim atinjam o nível pretendido.

Em muitos aspectos, isso tem ocorrido no Inmetro, porém, em algumas áreas meio, não tem sido o caso. A não realização do planejamento estratégico é o maior exemplo, mas não o único. O Inmetro precisa reverter essa situação.

A realização do novo planejamento estratégico é uma excelente oportunidade para, de fato, iniciar uma nova fase de busca da excelência em áreas meio do Inmetro, visando a excelência em suas áreas fim.

De imediato, no novo planejamento estratégico, na fase de análise do ambiente (contextualização) o Inmetro deve procurar determinar qual a sua posição real face a seus congêneres, baseado em fatos e dados. Implícito está que deve abrir mão de fazer declarações vazias, como, num exemplo hipotético, “estar entre os melhores do mundo” Tais afirmações devem ocorrer sim, em áreas específicas onde essa afirmação é ou poderá ser comprovadamente verdade, baseada em evidências.

A determinação da posição real do Inmetro é fundamental para os próximos passos de determinação da posição futura e dos caminhos para atingi-la.

Nesse processo algumas questões se colocam: faz sentido o Inmetro almejar estar entre os primeiros do mundo, face aos seus congêneres? Qual sua posição em relação aos congêneres no cenário internacional e especificamente em relação aos BRICS e aos países da América Latina?

Para responder essas perguntas, em relação às atividades fim do Inmetro, inicialmente são citadas neste artigo afirmações do Instituto e do governo brasileiro, segundo as quais o Inmetro se equipararia aos mais bem-sucedidos congêneres internacionais. São mencionadas também afirmações do PTB altamente elogiosas ao desempenho do Inmetro, em importante estudo publicado pelo Banco Mundial e pelo próprio PTB.

Além disso, analisa-se o significado do Inmetro pertencer a acordos internacionais de reconhecimento mútuo no âmbito da metrologia e da acreditação, que envolvem inclusive renomadas organizações estrangeiras.

Apresenta-se a seguir afirmações de consagrados institutos de metrologia estrangeiros sobre o posicionamento relativo entre eles, onde o NIST ocuparia a posição de maior destaque, seguido do PTB e do NPL (National Physical Laboratory) do Reino Unido. Ressalta-se que tais afirmações são baseadas em estudos de benchmarking.

O PTB chegou inclusive a elencar os cinco melhores NMI (da sigla em inglês National Metrology Institute) do mundo, a saber:

  • PTB (Physikalisch-Technische Bundesanstalt);
  • NPL (National Physical Laboratory), Reino Unido;
  • LNE (Laboratoire National de Métrologie et d’Essais), França;
  • NIST (National Institute of Standards and Technology), USA e
  • NMIJ (National Metrology Institute of Japan), Japão

Vemos assim que a crença que o Inmetro se equipara aos congêneres líderes no mundo não corresponde necessariamente à visão de tais congêneres no campo da metrologia, muito embora veremos na sequência afirmações impressionantes do PTB sobre o alto nível técnico do Inmetro.

Relata-se também a existência de inúmeros estudos de benchmarking entre organismos de acreditação, embora não tenha sido divulgado para o público externo (pelo menos não do nosso conhecimento) o posicionamento relativo entre eles.

A seguir recorre-se a uma publicação muito recente do Banco Mundial e do PTB, datada de 2019, “Ensuring Quality to Gain Access to Global Markets – A Reform Toolkit” (8), que ao analisar a correlação entre Infraestrutura em Qualidade (IQ) e desempenho econômico, remete ao trabalho de Harmes-Liedtke and Di Matteo (5) publicado pelo PTB em 2011, que concluiu haver correspondência entre nível de IQ e desenvolvimento econômico. Confira:

“(…) a country with a well-developed QI is also economically successful and, inversely, countries lagging behind in QI are also economically less advantaged.”

O estudo demonstra também que existe uma relação específica entre IQ e competitividade, o que é particularmente importante para o Inmetro, que se encontra subordinado à Sepec – Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia. Esse é um assunto que deveria ser explorado também nos Relatórios de Gestão do Inmetro (exigência do TCU – Tribunal de Contas da União) e nas contribuições do Inmetro à Mensagem Presidencial, enviada pelo presidente da República por ocasião da abertura anual dos trabalhos do Legislativo. No entanto, para não nos alongarmos muito, esse assunto será tratado em outro artigo.

Nesse trabalho Harmes-Liedtke and Di Matteo adicionalmente apresentam ranking dos diversos países em relação à IQ e seus componentes, entre eles comparações-chave e suplementares.

Esse ranking foi atualizado por seus autores em dezembro de 2019, o que está disponível em https://www.researchgate.net/publication/337840061. Observe-se que a atualização do trabalho como um todo não está finalizada, mas os dados numéricos podem ser acessados e checados, já que são baseados em informações disponíveis gratuitamente na Internet.

Ressalte-se que o Inmetro é o principal responsável pela IQ brasileira, de forma que a posição do Brasil nesse ranking é em boa parte devida à atuação do Instituto.

Tal ranking apresenta os países europeus, ocupando as dez primeiras posições, no índice IQ/população. A República Checa é a primeira colocada, seguida da Alemanha e da Bélgica. Os EUA ocupam a 22ª posição, o que, só não é uma surpresa maior, por que no ranking de 2011 esse país ocupava a 17ª colocação.

É a seguinte a posição do Brasil e dos países com os quais mantemos contato mais frequente em relação à IQ, com dados de 2019 e 2011.

Índice Infraestrutura em Qualidade / População
Países 2019 2011
Alemanha 3
EUA 22º 17º
Brasil 46º 32º

 

Ao olharmos o indicador comparações chave e suplementares, um dos subíndices do trabalho de Harmes-Liedtke and Di Matteo, o quadro se aproxima mais daquilo que intuitivamente seria de se esperar:

Comparações chave e suplementares
Países 2019 2011
Alemanha
EUA
Brasil 24º 22

 

Como vimos, os estudos até agora disponíveis não permitem determinar, com precisão razoável, a posição atual do Inmetro, o que é fundamental para o planejamento estratégico. Ademais, não encontramos até agora nenhum outro trabalho que compare o desempenho dos países em relação à Infraestrutura em Qualidade. Harmes-Liedtke and Di Matteo chegaram a afirmar em 2019 que estes não existem, ou seja, o “composite index” por eles desenvolvidos seria único no mundo. Confira:

“The composite index is also so far the only quantitative instrument with which to compare the development status and performance of QI of different countries.” (https://www.researchgate.net/publication/337840061).

Sendo assim, recomenda-se que o Inmetro promova estudos comparativos, ou que acesse estudos já realizados, de modo a, em complementação aos trabalhos já existentes, determinar sua posição atual face a seus congêneres.

O trabalho de Harmes-Liedtke and Di Matteo tem méritos inegáveis, porém a IQ não deve ser vista como uma competição entre os países. A propósito, texto do PTB, específico sobre metrologia lembra a importância da cooperação entre os NMIs. Confira:

“Collaborating in such (…) activities would improve the results and reduce the costs incurred by each NMI. Furthermore, as the worth of metrological knowledge increases along with the number of economic actors using it, cooperative activities are likely to increase the number of users of the same metrological system, hence fostering the economic integration of countries and enlarging the networks through which companies can innovate.”

Além disso, estar entre um seletíssimo grupo dos melhores do mundo muitas vezes não é viável no período de tempo estipulado e nem sequer é a posição mais adequada.

Na realidade, a IQ deverá ser adequada ao nível de desenvolvimento atual e pretendido no futuro de cada país e jamais poderá ser um empecilho ao desenvolvimento.

Assim, não faz sentido determinar a posição futura almejada (visão de futuro) simplesmente com frases do tipo “ser uma das três melhores organizações no mundo entre seus congêneres” (exemplo hipotético).

Para determinar sua posição futura de forma mais realista, o Inmetro deve envolver stakeholders, dos setores governamental e privado, já que a IQ deve ser adequada às necessidades específicas dos países.

Entre os stakeholders deverão estar representantes chave do setor privado, assim como da área governamental. Idealmente, congêneres selecionados também devem se fazer representar, levando-se em conta inclusive que, como dito, a cooperação é fundamental entre institutos de metrologia nacionais.

Para a determinação da posição atual, assim como da futura e dos caminhos para atingi-la é oportuno analisar o planejamento estratégico de congêneres e organizações relacionadas, no cenário nacional, assim como também no internacional.

Para a elaboração deste artigo foram levantados inúmeros planejamentos estratégicos, não só dos parceiros tradicionais do Inmetro, mas também de outras organizações nacionais e estrangeiras. Só para citar alguns poucos exemplos podemos elencar no plano nacional a Petrobrás e alguns ministérios. No internacional podemos citar organismos internacionais de metrologia (BIPM e OIML), de acreditação (IAF, IAAC e APLAC) e organismos regionais de acreditação (EURAMET E WELMEC), entre outros. A análise desse material, entretanto, não foi feita neste artigo, para não torná-lo demasiadamente longo.

Enfatiza-se também neste trabalho a necessidade do Inmetro contar com equipe experiente e com visão estratégica, para a condução do seu planejamento.

Reconhece-se, no entanto, que há premência de realização do planejamento estratégico em menos de um ano, já que esta foi uma condição para o Inmetro não ter sido penalizado no contrato de gestão, justamente por não dispor de planejamento estratégico atualizado. Esse prazo pode inviabilizar um planejamento estratégico mais criterioso, que deveria ser postergado para um segundo momento.

Leia a íntegra do artigo >>> L. Arigony, Pla. Estratégico, Posição Inmetro qto à Infraestrutura em Qualidade 24052020

Crédito: Luiz Carlos Arigony –  Analista Executivo em Metrologia e Qualidade no Inmetro (aposentado)

Analista Executivo em Metrologia e Qualidade no Inmetro

Luiz Carlos Arigony ([email protected]) é CQE (Certified Quality Engineer) pela ASQ (American Society for Quality), senior member da ASQ e mestre em engenharia ambiental pela UFRJ. Em sua vida profissional atuou sempre no que hoje se denomina Infraestrutura em Qualidade. Dessa forma trabalhou na Eletronuclear, tendo sido chefe da Divisão de Controle da Qualidade. Nesse período atuou na Alemanha por dois anos e meio na KWU, subsidiária da Siemens, em função do Programa Nuclear Brasileiro. Posteriormente, como engenheiro da Eletrobrás, atuou na ISO e na ABNT por longos períodos. Desde 2017 é o representante brasileiro no ISO/TC 309/WG1, Grupo de Trabalho da ISO que desenvolve a norma ISO 37001 – Governança das Organizações.

2 COMENTÁRIOS

  1. Enquanto o inmetro tiver orgaos delegados com presidentes politicos colocando diretorias cabos eleitorais semi analfabetos como em SC. Nunca havera continuidade e excelencia em nada

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