Como anda a proteção internacional do clima?

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Depois da UE, a China apresenta novos planos para reduzir suas emissões. Medidas climáticas pouco ambiciosas de vários países empurram mundo rapidamente em direção ao limite de aquecimento previsto no Acordo de Paris.    

No último sábado, ativistas do clima instalaram um relógio gigante com uma contagem regressiva em Nova York. O dispositivo mostra quanto tempo ainda falta para que a temperatura global atinja um aumento de 1,5 grau Celsius. Esse é o limite estabelecido pelos Estados signatários do acordo de proteção climática de Paris, firmado em dezembro de 2015.

Um colapso climático global pode ocorrer se a marca ficar acima desse limite. Porém, faltam apenas sete anos e quase 100 dias até que essa marca de 1,5 grau Celsius seja atingida.

Em Nova York, representantes governamentais, líderes empresariais e membros de organizações de proteção ambiental e climática se reuniram nesta semana para discutir ideias sobre como a proteção climática pode ser bem-sucedida em uma ampla variedade de áreas.

Já se sabe há muito o que precisa mudar: a humanidade precisa reduzir drasticamente suas emissões de gases de efeito estufa.

“Basicamente, todos os países fizeram muito pouco para proteger o clima”, diz Niklas Höhne, cofundador da ONG alemã NewClimate Institute. Esta semana, a organização, juntamente com o Climate Analytics, um instituto sem fins lucrativos voltado para a ciência e política climática, publicou o relatório Climate Action Tracker (CAT) sobre as ações dos Estados durante a pandemia. O CAT analisou as medidas climáticas tomadas pelos governos no contexto da meta de 1,5 grau do Acordo de Paris.

“A pandemia de coronavírus apresenta desafios especiais para a comunidade global. Infelizmente, muitos países a usaram como desculpa para dizer um adeus ainda mais acentuado aos esforços de proteção climática”, afirma Höhne.

Em seu programa de recuperação, por exemplo, os Estados Unidos quase não direcionaram investimentos para o clima ou proteção ambiental. Em vez disso, o país preferiu apoiar incondicionalmente setores altamente poluentes, como as companhias aéreas.

A nova estratégia energética da Rússia também continua a promover os combustíveis fósseis e seu mais recente pacote de estímulo econômico ignora completamente medidas relacionadas ao clima, de acordo com o relatório CAT.

O México, por sua vez, está usando a pandemia como desculpa para interromper investimentos em energias renováveis ​​e voltar a promover os combustíveis fósseis. Por fim, o Brasil não apenas está ignorando medidas para conter o desmatamento e as emissões causadas pela agricultura, como está flexibilizando ou até suprimindo regulamentações ambientais.

O CAT concentra-se especialmente nos planos de investimento de cinco países ou blocos: China, EUA, União Europeia, Índia e Coreia do Sul. “Além da UE, a Coréia do Sul deliberadamente definiu uma abordagem verde em seu pacote para aliviar a pandemia com o “New Green Deal para a Coreia”, aponta Höhne. No caso da Índia, de acordo com o relatório, ainda não é possível prever com precisão como os planos do país afetarão o clima.

Em relação à China, não havia muito sinais de que o país mostrasse no futuro uma abordagem mais aberta para a proteção do clima. Mas o anúncio do presidente da China, Xi Jinping, na Assembleia Geral da ONU, tem potencial de mudar isso. Ao falar que a China “lutará pela neutralidade do CO2 antes de 2060”, Xi surpreendeu a comunidade internacional nesta semana.

“Este é o anúncio mais importante no âmbito da política climática global em pelo menos cinco anos”, enfatiza Niklas Höhne. “Se a China, que é responsável por um quarto das emissões mundiais de gases de efeito estufa, conseguir atingir neutralidade de carbono até 2060, isso reduziria as projeções de aquecimento global em até 0,3 graus Celsius.”

Mas, mesmo com esses novos planos de proteção climática da China, o aquecimento global deverá fazer com que a temperatura aumente em média 2,4 a 2,5 graus Celsius até o final do século, de acordo com o CAT. Nem mesmo as emissões de CO2 que caíram neste ano por causa da pandemia – entre 5% e 9% – poderiam mudar essa direção, aponta o estudo.

Pequenos estados com ambições climáticas

Todos os Estados signatários do Acordo de Paris haviam se comprometido a anunciar até 2020 quais “ambiciosos objetivos climáticos” eles pretendiam estabelecer para 2030. No entanto, até agora, segundo CAT, apenas 12 países fizeram algo nesse sentido. São pequenas nações como o Chile e a Noruega que apresentaram os planos mais ambiciosos.

Ruanda, na África Central, também está acelerando seus planos de proteção ao clima. Em maio, o país se tornou a primeira nação africana a anunciar que endureceria suas metas climáticas e reduziria suas emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 16% até 2030.

“Tal movimento é um sinal importante em um momento em que os países ainda estão analisando como acelerar o crescimento após a pandemia”, afirma Helen Mountford, vice-presidente do World Resources Institute, uma ONG baseada nos EUA.

Mountford espera que a pandemia, apesar de todos os exemplos negativos em termos de proteção climática, possa resultar em algo positivo no longo prazo. A crise mostrou como o mundo globalizado está interligado.

“As nações industrializadas dependem definitivamente dos países do sul global, por exemplo, no que diz respeito à produção de alimentos. Há um interesse crescente em fazer mais pelo bem desses estados, incluindo limitar os impactos climáticos negativos, para manter o fluxo de mercadorias e frear o ritmo de movimentos migratórios”, diz Mountford.

Rixa Schwarz, da ONG Germanwatch, afirma que a pandemia deixou claro o quanto a resiliência é importante, ou seja, a capacidade das sociedades de lidar com as crises. “É importante tirar lições disso e aplicá-las na crise climática, tornando a comunidade mundial mais resiliente a choques como pandemias e as consequências das mudanças climáticas”, aponta Schwarz.

O quão longe o mundo está dessas metas é explicitado pelo chamado Índice de Proteção Climática (KSI, na sigla em alemão), que as ONGs e institutos Germanwatch, NewClimate Institute e Climate Action Network International publicam uma vez por ano.

No KSI de 2020, a coisa está bem clara: nenhum país aparece em primeiro, segundo ou terceiro lugar no ranking porque nenhuma nação está fazendo o suficiente para evitar mudanças climáticas.

O anúncio da China deve provocar um efeito positivo em sua classificação no novo Índice de Proteção Climática em 2021. Mas ainda há um longo caminho a percorrer até 2060. E o relógio continua do clima continua a avançar, rumo ao aumento de 1,5 graus Celsius.

Crédito: Deutsche Welle Brasil – disponível na internet 26/09/2020

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