Paulo Guedes: Se presidente do BC tiver um plano melhor para recuperar credibilidade, peça a ele.

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Declaração vem após Campos Neto falar que País precisa mostrar preocupação com a trajetória da dívida pública; ministro da Economia disse ainda que é alvo de críticas injustas
 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta quarta-feira, 25, que o governo “manteve o rumo mesmo no caos” e rebateu críticos que veem falta de uma estratégia clara da equipe econômica para assegurar a sustentabilidade fiscal do País. Em entrevista na sede da pasta, ele também respondeu ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que mais cedo falou que é ponto-chave para o Brasil “conquistar credibilidade com um plano que dê uma clara percepção aos investidores de que o País está preocupado com a trajetória da dívida”.

“O presidente Campos Neto sabe qual é o plano. Se ele tiver um plano melhor, peça a ele qual é o plano dele. Pergunte a ele qual é o plano dele que vai recuperar a credibilidade. Porque o plano nós sabemos qual é. O plano nós já temos”, afirmou Guedes ao ser questionado sobre a declaração do presidente do BC.

O ministro voltou a citar reformas que já estão no Congresso Nacional, como o pacto federativo, a PEC emergencial (que contém medidas de contenção de gastos públicos) e a reforma administrativa (que pretende alterar as regras do RH do serviço público), mas ressaltou que o timing é político.

Ele se disse alvo de críticas injustas. “Quem entregou tanta coisa em tão pouco tempo?”, questionou. Ele afirmou que críticas justas “nos colocam no lugar” e “tiram a arrogância” e voltou a admitir que houve falha nas privatizações.

Guedes desceu de seu gabinete, na Esplanada dos Ministérios, junto ao senador Rodrigo Pacheco e ao secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, para celebrar a aprovação da nova Lei de Falências, que vai agilizar processos de recuperação judicial no Brasil. Ele passou a responder às críticas após ser questionado se estava desacreditado.

“Críticas injustas nos fortalecem”, disse o ministro. Depois, em outro momento da entrevista, ele afirmou que “crítica injusta não merece respeito”.

Guedes afirmou que o governo está “fazendo coisas que não foram feitas antes” e disse que não pede elogios, apenas a observação do que acontece. “Olhem os fatos”, afirmou. “O mercado faz altas todos os dias.” Ele citou ainda a reforma da Previdência. Embora a discussão tenha se iniciado no governo Michel Temer, o ministro ressaltou o envio de uma nova proposta, mais robusta, que então foi aprovada com modificações pelo Congresso. “A Previdência estava andando, mas ninguém fechou (antes de nós)”, ressaltou.

“Não quero nem saber quem falou que estou desacreditado”, disse o ministro. Ao citar as medidas de combate ao coronavírus, Guedes destacou que o auxílio emergencial nasceu dentro da equipe econômica, embora seu valor tenha sido aumentado pelo Congresso Nacional de R$ 200 para R$ 500 e, por fim, pelo presidente Jair Bolsonaro a R$ 600. Agora, segundo ele, o País está reduzindo o impulso fiscal, mas o impulso monetário continua.

“Negar esse trabalho, dizer que governo está sem rumo… mantivemos rumo mesmo no caos”, disse. “Estamos trabalhando duramente”, afirmou.

Brasil precisa de plano que mostre preocupação com trajetória da dívida, diz presidente do BC

Declaração vem num momento em que a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, é criticada pela ausência de uma estratégia clara para avançar na agenda de reformas econômicas e equilibrar as contas

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira, 25, que o Brasil precisa de “um plano que dê clara percepção aos investidores de que o País está preocupado com a trajetória da dívida” para reconquistar credibilidade e assegurar a sustentabilidade das finanças públicas.

A declaração vem num momento em que a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, é criticada pela ausência de uma estratégia clara para avançar na agenda de reformas econômicas e equilibrar as contas, pressionadas pelos gastos bilionários com medidas para conter a covid-19.

Campos Neto também disse concordar com avaliação do secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal, de que o Brasil tem “muito pouco ou zero espaço” para medidas adicionais, numa indicação de que o BC vê com cautela os efeitos fiscais de uma eventual prorrogação do auxílio emergencial. Segundo ele, a inclinação da curva de juros demonstra a “incerteza em relação ao que vai ser o fiscal à frente”.

“O mercado está ansioso esperando como vai ser o futuro do programa (auxílio emergencial), se vai ter extensão, se não vai ter extensão. O secretário do Tesouro (Bruno Funchal) disse ontem que o Brasil tem muito pouco ou zero espaço fiscal para fazer qualquer tipo de medida, nós aqui no Banco Central tendemos a concordar com essa afirmação. Sabemos que fica uma dívida muito grande que nós precisamos administrar”, alertou durante o evento 4º Painel do Cooperativismo Financeiro.

O presidente do BC afirmou que o aumento nos juros de longo prazo cobrados pelos investidores reflete a percepção de que o Brasil não retornaria para uma disciplina fiscal, de que não ficaria dentro do teto de gastos (regra que limita o avanço das despesas à inflação) e de que não cuidaria da trajetória da dívida.

“Talvez seja o ponto-chave da parte macroeconômica no Brasil hoje: reganhar credibilidade, conquistar credibilidade com a continuação das reformas e conquistar credibilidade com um plano que dê uma clara percepção aos investidores de que o País está preocupado com a trajetória da dívida”, afirmou.

Segundo projeções do Tesouro Nacional, o Brasil deve fechar 2020 com uma dívida bruta equivalente a 96% do PIB, uma das maiores entre países emergentes. Esse patamar deve continuar se elevando e passar dos 100% do PIB em 2025, para só depois começar a arrefecer.

Campos Neto ressaltou que a dívida é um fator de risco que precisa ser endereçado “com certa urgência”, mas buscou demonstrar otimismo com a capacidade do governo em reconquistar a credibilidade na política fiscal. “O governo está empenhado e negociando com a base, com o Legislativo o que é possível passar no curto prazo”, afirmou.

O presidente do BC também fez questão de ressaltar que, desde o início da atuação durante a pandemia, a autoridade monetária teve preocupação em dividir as atribuições com a Economia “para que o Banco Central não fosse empurrado a fazer política fiscal”. Segundo ele, o BC atuou em políticas monetária e cambial, em liquidez e capital.

Crédito: Idiana Tomazelli e Fabrício de Castro, O Estado de S.Paulo – @internet 26/11/2020

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