Pirataria na saúde afeta máscaras, remédios, vacina e coloca população em risco

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Com a disparada da procura por itens de proteção como máscaras, luvas e álcool em gel, não demorou para que os falsificadores chegassem a esse setor

A pandeia de Covid-19 abriu mais um nicho do mercado para criminosos. Com a disparada da procura por itens de proteção como máscaras, luvas e álcool em gel, não demorou para que os falsificadores chegassem a esse setor.  
 

“O primeiro movimento que nós enfrentamos em 2020 foi exatamente de combate à falsificação à venda de produtos que são utilizados na pandemia”, diz Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade.

Uma das maiores fábricas de máscaras de alta proteção de São Paulo, a Venkuri viu sua produção crescer é cinco vezes em relação ao período pré-pandemia, mas o dono acredita que poderia ter avançado ainda mais, se não tivesse que concorrer com os produtos piratas.
 
Para comprovar as falsificações, ele enviou várias máscaras presentes no mercado para um laboratório que testa a eficácia. O resultado?   
 
“[Os itens analisados] ficaram totalmente aquém do que deveria ser nos quesitos restauração, respirabilidade e barreira bacteriana. As máscaras falsificadas não seguiam a norma quanto à forma do elástico e da filtragem, que é o mais importante”, disse André Aiach, dono da Venkuri.
 

Yuri Gricheno, empresário, sócio-fundador da Insider, fábrica que produz máscaras antivirais, também e obrigado a disputar o mercado com a pirataria. O produto feito nessa empresa promete 99,9% de proteção contra o vírus da Covid-19. Para ter essa certificação, porém, precisou passar por várias etapas de testes. Bem diferente do produto falsificado.

“As máscaras piratas podem até oferecer uma comprovação falsa de que são eficazes contra vírus e bactérias sendo que às vezes são meras máscaras de pano”, diz Gricheno.

“A minha dica é procurar empresas que estão estabelecidas no mercado há muito tempo, empresas que têm história, empresas que são sérias. Isso não é difícil hoje em dia de se descobrir. Grandes redes de farmácia vendem bons produtos”, diz Aiach, da Venkuri.

Risco para a saúde

Para a saúde, o prejuízo com a falsificação é muito mais alto. “Existe obviamente o prejuízo econômico, mas acho que o prejuízo maior é para o usuário, que acha que está protegido, mas não está”, diz Aiach.

O problema vai muito além das máscaras. Segundo a Receita Federal, entre os meses de janeiro a abril deste ano foram apreendidas 1.119 caixas de luvas cirúrgicas falsificadas. Em 2020, no mesmo período, foram apenas oito. Ou seja, um aumento de mais de 1.300%. O órgão também apreendeu mais de uma tonelada (1,3 tonelada) de medicamentos ilegais, contrabandeados e falsificados. Isso apenas nos quatro primeiros meses deste ano. 

“Se o preço está muito baixo, desconfie, alguma coisa está errada, porque a margem para essas empresas farmacêuticas junto às drogarias não é enorme. Se algo custa R$ 100 e eu vou te vender por R$ 25, não é possível”, diz José Marcelo Natividade, endocrinologista.

Foi justamente o preço mais baixo que fez um homem com quem a reportagem conversou, e que pediu para não ser identificado, comprar pela internet um remédio para emagrecimento falsificado sem saber que estava sendo enganado.

“Uma pessoa me indicou, falou que era bom. O produto era 60% mais barato, aí você já arregala o olho. E eu comecei a tomar o remédio”, conta. 

Bastaram algumas doses para ele perceber que alto estava errado. “Sentia as pernas fracas e não conseguia andar, tinha que me apoiar na parede. Era muito mais barato, achei que ia me dar bem, mas isso quase custou minha vida”, diz. 

Itens mais caros são alvo

Em São Paulo, a Receita Federal registrou no ano passado um aumento de 147,65% nas apreensões de medicamentos piratas e contrabandeados, quando comparado com 2019.

De acordo com a Anvisa, os medicamentos mais pirateados no Brasil costumam ser os de alto custo. Para diabetes, hepatite, câncer e hormônios para crescimento. Mas, na lista, também entram os remédios para emagrecimento e disfunção erétil. 

Sem mandar para a análise, não dá para saber o que realmente contém em um medicamento falsificado. Dependendo da substância, pode haver vários efeitos colaterais. 

“Pode elevar a pressão arterial durante o sono e você sofrer um AVC, por exemplo”, alerta o endocrinologista José Marcelo Natividade.

“Esse é um caso que, inclusive, acaba sendo um crime contra a saúde pública. É muito mais grave do que uma simples pirataria ou do que um crime contra a propriedade industrial”, diz Wagner Carrasco, delegado da 1ª Delegacia de Polícia de Investigações de Propriedade Imaterial, do Deic. 

O início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil também acendeu um alerta nas autoridades. O Conselho Nacional de Combate à Pirataria passou a monitorar mais de 2 mil sites com possíveis ofertas de imunizantes. Em Minas Gerais, uma falsa enfermeira e o filho chegaram a ser presos depois de aplicar vacinas em empresários. 

A suposta vacina contra a Covid-19 teria sido aplicada em mais de 50 pessoas. Com a investigação, a polícia descobriu que o imunizante era falso. 

“Essa é uma preocupação muito grande, porque, na ânsia de querer se imunizar logo, o consumidor pode ser enganado. Todo mundo fica muito inseguro. É importante deixar bem claro que alguns tipos de produtos pode gerar muito mais mal do que bem”, diz Juliana Domingues, presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria.

Seja na saúde, no digital ou no comércio físico, quando o assunto é pirataria, a matemática só pode ter um resultado: o negativo para consumidores e para o desenvolvimento do país. 

Crédito: Diego Mendes, Karla Chaves e Tiê Santoro / CNN @internet 04/05/2021

 

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