Ciência e eleição presidencial.

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Desenvolvimento exige uma sólida base científica, forte estimulo à interação entre o setor acadêmico e o setor industrial e programas induzidos de inovação tecnológica

Como parte do processo democrático, voltaremos às urnas este ano para a escolha da cúpula dos Poderes Executivo e Legislativo federal e estaduais. Mais do que nunca, é necessário conhecermos o pensamento dos diferentes candidatos em pontos importantes. Esperamos que os eleitos tenham compromisso claro com o desenvolvimento econômico e social do país, cada vez mais dependente de um sistema educacional sólido, capaz de formar recursos humanos necessários para um projeto de desenvolvimento que requer o uso de tecnologias cada vez mais sofisticadas.

Hoje, o desenvolvimento exige uma sólida base científica, forte estimulo à interação entre o setor acadêmico e o setor industrial e programas induzidos de inovação tecnológica. Precisamos ouvir o que os candidatos têm a dizer sobre estes pontos e quais seus reais compromissos com o desenvolvimento nacional. Na hora de investir os recursos públicos, é preciso ter clareza do que é acessório e do que é essencial.

Para as áreas de ciência, tecnologia e inovação, sugiro que os candidatos à Presidência estudem um texto intitulado “Ciência, tecnologia, economia e qualidade de vida para o Brasil”, elaborado pela Academia Brasileira de Ciência-ABC (www.abc.org.br) e que será entregue e debatido com eles, mas também útil aos candidatos a governadores, deputados e senadores. O documento expõe a situação atual da ciência brasileira, que vem tendo seu orçamento reduzido significativamente nos últimos anos, justamente no momento em que os demais países estão ampliando o investimento nesta área. Tal redução ocorre tanto no orçamento do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC) quanto no Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Estas duas fontes, que deveriam ser independentes, vêm sendo tratadas equivocadamente como uma só. A redução drástica no financiamento à área nos últimos anos já vem levando a vários pós-doutores a optar por sair do país ou ser motoristas de Uber.

O texto enfatiza a inexistência de um plano de Estado que, efetivamente, aponte um rumo para o desenvolvimento. A experiência secular de muitos países já havia deixado claro que este é o caminho. O mesmo rumo foi mais recentemente traçado, com sucesso, por países como Japão, Cingapura, Coreia do Sul e China. O Brasil tem tudo para seguir esta mesma rota, mas continua indeciso, com avanços e retrocessos. Nas poucas áreas em que o país investiu, como produção agrícola, indústria aeronáutica e exploração de petróleo, o sucesso é percebido pela sociedade.

Finalmente, a ABC apresenta um conjunto de propostas que poderão promover o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação do país. É fundamental que o Brasil passe, em curto prazo, a investir cerca de 2% do PIB em ciência, tecnologia e inovação.

No caso do setor público, uma sinalização importante é acabar imediatamente com a “reserva de contingência” do FNDCT. Dessa forma, a ABC oferece sua contribuição para os futuros governantes, colocando-se à disposição para debater as propostas apresentadas.

Artigo publicado na página do jornal O Globo – disponível na internet 26/05/2018

Nota: O presente artigo não traduz a opinião do ASMETRO-SN. Sua publicação tem o propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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