MEC acaba com o “Ciências sem Fronteiras”. Especialistas concordam com o fim do Programa.

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O governo decidiu enterrar de vez uma das estrelas do governo Dilma na Educação, o Ciência sem Fronteiras, que pagava cursos de graduação para estudantes no exterior.

O Ministro do MEC, Mendonça Filho,  fez as contas e afirma que, com o montante gasto para mandar 30 mil estudantes para fora, seria possível pagar a merenda escolar para 40 milhões de alunos da educação básica.

Em 2015, o programa consumiu cerca de R$ 3,2 bilhões, enviando alunos principalmente para universidades americanas e europeias.

A avaliação do MEC é que o programa não trouxe resultados devido à deficiência em inglês dos brasileiros e à falta de diretrizes claras sobre que perfil de estudante deveria ser financiado.

As bolsas de pós-graduação permanecerão como eram antes.

Crédito: Guilherme Amado/Blog do Lauro Jardim/ O Globo – disponível na internet 03/04/2017

Especialistas concordam com o fim do Programa Ciência Sem Fronteiras. Projeto não deu o resultado esperado nos cursos de graduação, segundo análise.

Acadêmicos aprovam o corte do Programa Ciência Sem Fronteiras para alunos de graduação. Segundo o Ministério da Educação, o plano, uma das principais vitrines do governo Dilma Rousseff, era dispendioso — em 2015, consumiu cerca de R$ 3,2 bilhões — e não gerou os resultados esperados, devido a limitações como a deficiência em inglês dos estudantes selecionados. A concessão de bolsas continua nos cursos de pós-graduação.

“O Ciência Sem Fronteiras (CsF) está funcionando plenamente como programa de internacionalização para pós-graduação (mestrado, doutorado, pós-doutorado e atração de jovens cientistas). A Capes mantém editais para bolsas de pós-graduação e pós-doutorado e estágio sênior no exterior. Em 2017, recebem bolsas cerca de 5 mil nestas categorias”, informou o MEC, por meio de nota.

De acordo com os especialistas entrevistados pelo GLOBO, o perfil das universidades brasileiras é defasado e impede o aproveitamento de uma série de disciplinas lecionadas no exterior.

— A faculdade no Brasil é profissionalizante, excessivamente direcionada para um curso. No exterior, ela tem uma visão mais ampla — compara Edson Nunes, ex-presidente do Conselho Nacional de Educação. — Os estudos são mais genéricos e preparam para uma vida plena, não apenas para um ofício. Havia, por isso, uma colisão entre o que aluno via no ensino superior aqui e em outros países.

Nunes acredita que um programa como o Ciência Sem Fronteiras é “importante e desejável”, mas não foi “bem desenhado”.

— Temos um dever de casa para fazer, que é saber o que vamos ensinar para os jovens no ensino superior. Esta reavalização é urgente — alerta Nunes, que lamenta que o término do Ciência Fronteiras tenha coincidido com a crise política do país. — É pena que esta discussão tenha aparecido neste momento, onde uma questão técnica, sobre um programa que há tempos está dando errado, ganha uma conotação ideológica.

Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader critica a falta de tutores que ajudariam os alunos recém-chegados do exterior .

— Perdemos uma oportunidade para internacionalizar a nossa educação — critica. — Na Europa, por exemplo, é muito fácil trocar de universidade aproveitando disciplinas que já foram lecionadas. No Brasil, é quase impossível. Nossos cursos de graduação são muito fechados. O conteúdo programático é uma camisa de força. Precisamos de uma visão mais abrangente.

Helena recomenda que as universidades brasileiras invistam em currículos mais flexíveis, facilitando a adaptação dos estudantes que vêm de outras regiões, e realizem cursos em inglês.

— Temos que divulgar nosso ensino lá fora — reivindica a presidente da SBPC, que, no entanto, se declara pessimista. — Hoje o governo só pensa em cortar custos. À medida em que educação, ciência e tecnologia forem vistos como gastos, e não investimentos, estaremos morando em um país que não pensa no amanhã.

Diego Gouvêa, estudante de Sistemas de Informação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, passou pouco mais de um ano, entre 2013 e 2014, na University de New Brunswick, no Canadá. Agora, está no oitavo e último período de seu curso. Em sua temporada no exterior, cursou cerca de dez disciplinas. Na volta para o Brasil, conseguiu aproveitar apenas “três ou quatro” em seu currículo escolar.

— Sabia que este aproveitamento poderia ser baixo, mas a minha meta era melhorar minha fluência em inglês — conta. — Claro que é importante fazer matérias que seriam reconhecidas aqui, mas trabalhar o idioma era o meu foco. Acredito que, na graduação, a maior importância do Ciência Sem Fronteiras é a imersão cultural, e não o desempenho acadêmico.

Gouvêa defende o viés social do programa:

— Trata-se de uma das poucas oportunidades para que as pessoas de baixa renda possam viajar para estudos. É preciso conhecer outra realidade. No exterior, a grade de disciplinas é mais aberta. São três períodos de quatro meses, em que o aluno não precisa estudar e fazer estágio simultaneamente.
Crédito: O Globo – disponível na internet 03/04/2017

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