Terror sem trégua.

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A escalada do Estado Islâmico passa por Berlim, Istambul e Jerusalém, e aqui ganha o aplauso do Hamas

Califado do Estado Islâmico (EI) planejou e marcou no calendário cristão, para o fim de 2016 e início de 2017, a realização de sangrentos ataques terroristas. Em Berlim, em 19 de dezembro, um dos jihadistas do EI lançou, a fim de atropelar para matar, um caminhão de carga de selo TIR (para transporte transnacional pesado) contra um tradicional mercadinho de Natal, resultando 12 mortos e 48 feridos.

O autor desse atentado, um tunisiano, logrou fugir com facilidade à Itália e acabou morto nas primeiras horas do dia 23, numa troca de tiros com dois policiais em ronda preventiva pela cidade de Milão.

Nas primeiras horas de 2017, no lado ocidental de Istambul, outro jihadista do Califado invadiu o Club Reina, ocupado por 500 pessoas em festa de réveillon, e disparou 180 projéteis de Kalashnikov, com um saldo de 39 mortos e 24 feridos. O autor deste ataque ainda está foragido.

Foto: Um soldado do Exército Livre da Syria brinca com um cachorro na base que eles capturaram do Estado Islâmico

No dia 9 deste mês, em Jerusalém, um palestino arremessou outro TIR contra um grupo de pessoas, ferindo 15 e matando 4 jovens de menos de 20 anos. O autor do atentado foi morto a tiros e o governo de Israel atribuiu a responsabilidade ao Estado Islâmico.

Em Berlim, os 007 germânicos pensaram tratar-se de um “lobo solitário”, firme no legado de Bin Laden do “faça você mesmo a sua parte na Jihad”. Àquela altura, nenhuma autoridade alemã acreditava estar o Califado por trás da ação. Logo depois, no entanto, o EI exibiu um vídeo gravado na véspera do atentado, com o terrorista Anis Amri avisando ter chegado a Berlim para “abater os porcos dos cruzados”.

Fora isso, a Amaq-News, que veicula por telemática as ações do Califado, difundiu um vídeo gravado no dia seguinte ao atentado, no qual Amri reivindicava o ataque e criticava os cruzados pelos bombardeios diários feitos contra muçulmanos.

Até o momento, não se sabe se Anis Amri recebeu apoio logístico da rede europeia do Estado Islâmico. Sabe-se, entretanto, que em novembro a rede do principal homem do EI na Alemanha, Abu Walla, pregador e arregimentador de jihadistas, foi desmantelada e ele, preso.

O certo é que Amri saiu com facilidade de Berlim e chegou à Itália. A respeito da Itália, os 007 israelenses e norte-americanos consideram-na um “corredor jihadista”. Chega-se, através de Bari, à Síria e ao Norte da África. No lugar onde Amri foi morto, na estação milanesa de Sesto Giovanni, pode-se embarcar para a Espanha, Albânia, Tunísia e Bósnia, além da Sicília, por onde Anis Amri entrou no país, num barco de refugiados, em 2011.

 

Foto: A polícia italiana exibindo uma bandeira do EI capturada durante uma operação anti-terrorista (Tiziana Fabi/AFP)

Ainda sobre o apoio logístico a Amri por uma rede jihadista europeia, muitos 007 italianos duvidam. Fazem comparações com Paris, ou, melhor, destacam não ter sido Anis Amri um Salah Abdeslam, o terrorista que, depois do ataque ao Bataclan parisiense, fugiu para a Bélgica e ficou meses sob proteção do Estado Islâmico.

É sabido que o EI possui uma eficaz network na Turquia. Só em 2016, em Istambul, o Califado atacou, em 10 de dezembro, com um carro-bomba, com um saldo de 38 mortos e 166 feridos. Em junho, houve o ataque no c, com 45 mortos. Em Istambul, o clima era diferente daquele festeiro de Berlim.

Na cidade turca, desde meados de dezembro, panfletos advertiam não serem o Natal e o ano-novo efemérides mulçumanas, que as definem como “festas de apóstatas”. Fora isso, o novo porta-voz do Califado, Abu Hassan al-Muhajir, havia, ainda em dezembro, convocado os jihadistas para ataques na Turquia.

No campo da geopolítica, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, aproveita-se de tudo para alargar seus poderes ditatoriais e aponta seu país como alvo não somente do EI, mas também dos extremistas curdos do PKK e dos falcões do TAK, do Curdistão.

Na Alemanha, a ultradireita abre uma campanha internacional contra a chanceler Angela Merkel, com apoio do líder antieuropeísta inglês Nigel Farrage, da direitista francesa Marine Le Pen (unida à Liga Norte italiana de Matteo Salvini) e da ultranacionalista alemã Frauke Petry.

Contava também com o Movimento 5 Estrelas, de Beppe Grillo, mas as relações com este partido italiano azedaram. Todos falam do massacre de Berlim como sendo uma herança deixada por Merkel, com sua política de abertura a refugiados.

Para rematar esse quadro, a decisão do Conselho de Segurança da ONU de condenar Israel por promover assentamentos em terras palestinas ocupadas, com o premier Benjamin Netanyahu a afirmar desobediência à resolução da ONU e depois recuar, serviu para o EI tentar enviar um sinal ao Hamas, por meio do ataque terrorista do último fim de semana. O Hamas, em nota, aplaudiu a ação sangrenta.

 

Crédito: Artigo publicado dia 19/01/2017 na revista Carta Capital  – disponível na web 20/01/2017 

Nota: O presente artigo não traduz a opinião do ASMETRO-SN. Sua publicação tem o propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

 

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