Existe o Dia do Homem?

0
540

Organizando velhos papéis (Ô coisa chata), encontro um envelope a mim postado muito tempo atrás…, no outro século. O tal envelope continha vários cartõezinhos ilustrados, da série “Amar É”.

Esta série teve grande repercussão lá pelos anos 80, e se repetia em todas as mídias (quando ainda nem se usava a palavra mídia com o sentido mais amplo que tem atualmente).

Pois bem, a frase “Amar é.…”, tinha todo tipo de prosseguimento para definir o que seria amar.

Vou dar um exemplo de como era: Amar é… “Olhar com os olhos e ver com o coração”, e se completava de mil outras formas, quase sempre seguindo o gênero, sempre muito “românticas”, posso mesmo dizer melosíssimas.

E eu, pensativa que estava ontem, no Dia Internacional da Mulher, me vi com esta lembrança do passado em mãos.

Os cartõezinhos eram ilustrados com duas lindas figurinhas, tipo assim um minicasal de Adão e Eva. Uma graça a ilustração, mas o conteúdo… Nossa, machista até a alma. E eu fiquei me perguntando que graça eu possivelmente teria encontrado naquilo, a ponto de guardá-lo.

A resposta me veio aos poucos. Acho que todos achávamos “normal” a ideia da força dos homens e da fraqueza das mulheres. Nós, mulheres, talvez até mesmo a reforçássemos, demonstrando uma pseudofragilidade.

Era muito comum ouvirmos “Meu marido é muito participativo, me ajuda muito com a casa e com as crianças”.

Ajuda, cara pálida? Por quê? Você acha que a “participação” masculina obrigatória se dá apenas na hora da “produção”? Foi isto o que eu argumentei com a amiga da família que disse a frase.

Passam-se os anos, as figurinhas do “Amar é” somem do mercado, ou, pelo menos, eu nunca mais as vi, e, francamente, não registro grandes mudanças.

Amar é… “estar a dois e sentir-se livre como um passarinho”.

Acho que não, porque o que vejo é: criança com febre, mamãe na área; papai não falta trabalho porque criança está doente, mas mamãe pode faltar.Observo que os casais compartilham as tarefas, mas a responsabilidade????

Acho que nós, mulheres, fizemos e fazemos muita pressão, mas na real o que existe é muita hipocrisia, porque a responsa ainda é das mulheres. Quer uma prova disto? Dê uma chegadinha em reunião da escola dos seus filhos ou netos e conte quantos pais foram e quantas são as mães…

O pior é que essa coisa de jogar nos ombros das mulheres todas as tarefas do lar só vai mudar de verdade quando nós, as mães que criam os homens do futuro, acostumarmos os meninos desde a tenra idade à ideia da igualdade.

Igualdade na criação, no compartilhamento das tarefas em casa, e no respeito – não porque a menina não sabe dar soco ou chutar, mas porque ela merece respeito do mesmo jeito que o coleguinha fortão que chuta e dá socos. Afinal, respeita-se porque o outro merece respeito ou porque inspira medo?

Até mesmo essa história de Dia da Mulher já cheira a falcatrua… existe Dia do Homem?

Vamos pensar então, e, no próximo ano, antes de sairmos dando Parabéns umas às outras, vamos lembrar do que efetivamente fizemos para mudar essa história. Que este dia seja um dia de reflexão, e não de uma homenagem que não passa de discurso pronto.

Esqueça-se a melosidade porque os tempos mudaram e hoje, amar é respeitar que o outro veja a vida com o seu próprio olhar, compartilhando planos, facilidade e também as dificuldades.

É… acho que hoje deveria ser: Amar é… “estar a dois e sentir-se livre como um passarinho”.

Crônica  publicada na página da escritora –http://www.daisylucas.com.br/ – disponível na internet 10/03/2018

Nota: O presente artigo não traduz a opinião do ASMETRO-SN. Sua publicação tem o propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui