Terceiro banco brasileiro em ativos, atrás do Itaú Unibanco e do Banco do Brasil, o Bradesco vive um dilema. Como o antecessor Luiz Carlos Trabuco, atual presidente do Conselho de Administração, o novo presidente, Octavio de Lazari Junior, empossado na primeira quinzena de março veio da Bradesco Seguros, maior grupo segurador do país, 100% controlado pelo banco. Trabuco sempre disse que o Bradesco era uma moeda de duas faces: a financeira e a seguradora, que garante 30% do lucro do banco. Só que a face financeira vem perdendo terreno em função da maior inadimplência comparada aos concorrentes privados (Itaú e Santander).
No ano passado, o lucro de R$ 19 bilhões do Bradesco, já incluindo o resultado do HSBC, incorporado em 2016, cresceu 11%. Para uma economia que evoluiu só 1%, após dois anos de profunda recessão, o resultado refletiu a disparidade entre o setor financeiro e o produtivo. Entre seus pares, o Bradesco perdeu quase R$ 6 bilhões diante do lucro do Itaú (R$ 24,9 bilhões) e não acompanhou a expansão de 42% do lucro do Santander (R$ 10 bilhões), o único dos grandes a aumentar o volume de empréstimos. No Bradesco, houve queda de 4,3% nas operações de crédito. Com a economia ainda patinando e os altos índices de inadimplência, a origem dos resultados do banco mostra que algo não vai bem.
Maior que o dilema do Bradesco só o da sua clientela, sufocada por juros elevados. O Bradesco depende muito da sua clientela do mercado de cartões de crédito, do qual tem participação direta e indireta de quase 30%. A questão é que as taxas de juros cobradas no cartão de crédito rotativo regular estão entre as mais altas do mercado divido entre os cinco bancos do oligopólio bancário (Itaú, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander, incluindo duas subsidiárias do Itaú e duas do Bradesco). E o resultado da cobrança de juros altos é que o índice de inadimplência no rotativo dos cartões de crédito em situação regular chegou a 6,2% em dezembro de 2017 no Bradesco.
A alegação dos bancos brasileiros é de que os juros são altos porque há muita inadimplência. O economista chefe da Confederação Nacional do Comércio, Bens e Serviços (CNC), Fábio Bentes lembra que os juros caíram muito (mais de 50% na taxa Selic em relação a dezembro de 2016) e apenas 25% nos juros bancários médios na faixa livre, e a inadimplência só cedeu de 6% para 5% (em dezembro de 2017), “sinal de que ainda há muita gordura nos spreads para os bancos emagrecerem”, afirma.
No Bradesco a inadimplência entre os micro e pequenos empresário cedeu de 8,6% em 2016, para 6,63% no ano passado. Entre as pessoas físicas, a inadimplência baixou de 6,9% para 5,50%, segundo o próprio balanço da instituição. Para Fábio Bentes, se os bancos baixarem para valer os juros será possível que os clientes renegociem dívidas em melhores condições. No caso de prestações de três anos, a redução no valor mensal de um crédito de R$ 1 mil foi de menos de R$ 100 mensais.
O segmento de seguros tem sido importante para o Bradesco e outros conglomerados financeiros ao permitir arbitragem de juros dentro do conglomerado. Essa possibilidade era mais intensa nos períodos em que os juros básicos da economia flutuavam na faixa de 14% ao ano. Era a época de ouro da venda dos títulos de capitalização.
Quem não se incomodou em ouvir que a fila à frente não andava porque o caixa estava tentando empurrar um pé quente (o título de capitalização do Bradesco) ou um PIC (o do Itaú) para um aposentado que tentava receber seu parco dinheirinho?
Como os títulos exigem depósitos mensais (para um hipotético sorteio, mas, na prática, rendem bem menos que a caderneta de poupança, às vezes sem sequer acompanhar a inflação), a arrecadação dava uma base para o banco controlador da empresa de capitalização aplicar em títulos federais (remunerados pela Selic) ganhando uma bela diferença. Com a queda na Selic, caíram a margem e a cantilena nos guichês. Nos últimos dois anos a renda das empresas de capitalização caiu quase 20%.
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