– Esse é um fenômeno visto no mundo inteiro. A tendência é a oferta de uma rede menor, mas mais articulada entre si, dentro da ótica de cuidado de saúde. E também de concentração da saúde suplementar. No Brasil, isso pode ser um pouco diferente no que diz respeito aos planos pela regionalização – diz uma fonte do setor que preferiu não se identificar.
A concentração já começou. O número de operadoras do setor caiu de 1.135, em 2008, para 745, em fevereiro deste ano, num movimento visto como natural nesse mercado. A mudança no modelo de pagamento caminhava até agora, porém, a passos lentos. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em 2018, apenas 4% dos pagamentos feitos por operadoras foram em modelos diferentes da remuneração por serviços.
– Há um trabalho de muita conversa entre operadora e prestadores de serviço. Tentamos um movimento coletivo, mas fomos convencidos de que as negociações bilaterais são mais produtivas. É um trabalho de desenvolvimento de confiança e transparência. O pagamento por procedimento não estimula eficiência – diz José Cechin, diretor-executivo da FenaSaúde, que reúne as maiores empresas do setor.
Foco em Rede própria
Em 2010, lembra a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), o Relatório Mundial sobre o Financiamento dos Sistemas de Saúde da OMS já apontava que usar modelos de pagamento alternativos ao de remuneração por serviços seria eficaz na redução de desperdícios e custos desnecessários.
Segundo fontes, a negociação entre Amil e Rede D’Or emperrou porque a operadora propõe remuneração por orçamento anual, com base no gasto do ano anterior, com um redutor. Já o grupo de hospitais defende remuneração por pacote de serviços.
– A Amil é o terceiro maior cliente da Rede D’Or. O descredenciamento de todos esses hospitais terá impacto. Trata-se de uma estratégia de verticalização da Amil – conta uma fonte.
Risco para qualidade
Verticalização é como o setor explica a concentração do atendimento na rede própria de um grupo. A Amil conta hoje com uma rede hospitalar. E a Rede D’Or passou a vender, em parceria com uma seguradora, um plano criado a partir da gestão de sua carteira de funcionários. Procurada, a Amil não comentou. A Rede D’Or diz que as negociações com a operadora continuam.
Quando uma operadora inaugura um novo hospital, tem sido comum no setor o descredenciamento de unidades próximas, segundo fontes.
No curto prazo, diz Ana Carolina Navarrete, pesquisadora em saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a ampliação do número de hospitais próprios das operadoras pode ter um efeito de redução de preços dos planos, com o aumento do poder de negociação com as demais unidades da rede credenciada. A questão é o resultado de longo prazo. Com a concentração, no futuro, os preços podem subir. A maior preocupação, diz, é com a qualidade assistencial:
– Será necessário termos indicadores claros de qualidade e transparência para que se tenha certeza de que estão sendo adotadas as melhores práticas e não aquelas que oferecem o melhor custo.
Para Fernando Boigues, vice-presidente da Feherj, que reúne os hospitais do Estado do Rio, é preciso incluir os médicos na discussão:
– Aumentar a remuneração dos médicos pode ampliar a qualidade do atendimento e reduzir gastos com exames e internações. Em paralelo, o impasse entre Amil e Rede D’Or deixou os hospitais receosos. Temem o que pode ser feito com os pequenos.
A Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) diz que já há diversos sistemas de pagamento de fornecedores implementados no setor.
Crédito:Luciana Casemiro e Glauce Cavalcanti – disponível na internet 03/05/2019