Retratação Cientifica de estudo sobre cloroquina

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Autores pedem retratação de estudo sobre cloroquina

Após “The Lancet” levantar suspeitas sobre estudo que suspendeu pesquisas com o fármaco, autores dizem que não é possível garantir a veracidade de dados utilizados. Com pedido, revista cancela validade da publicação. 

Três dos quatro autores de um estudo alvo de críticas sobre a cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 publicado pela revista científica The Lancet pediram nesta quinta-feira (04/06) a retratação da publicação. Eles argumentaram que não é possível garantir a veracidade dos dados utilizados. Com o pedido, a revista cancela a validade do artigo.

O pedido de retratação foi apresentado após a The Lancet ter colocado em dúvida o estudo publicado em 22 de maio e anunciado que estava fazendo uma autoria independente sobre os dados utilizados. A publicação, numa das revistas científicas mais renomadas do mundo, levou à suspensão de ensaios clínicos de hidroxicloroquina e cloroquina em todo o mundo, pois a pesquisa apontava que os medicamentos não seriam benéficos para pacientes hospitalizados com covid-19 e poderiam até ser prejudicial.

Em nota, a The Lancet diz que os autores pediram a retirada do estudo por não conseguirem “completar uma auditoria independente dos dados que sustentam sua análise” e, desta maneira, concluíram que não podiam mais assegurar a veracidade das fontes. 

“Há muitas questões pendentes sobre a empresa Surgisphere e os dados que supostamente foram incluídos neste estudo”, acrescentou a revista.

estudo se baseia em dados de 96 mil pacientes hospitalizados entre 20 de dezembro e 14 de abril em 671 hospitais e compara a condição dos doentes que receberam tratamento com cloroquina ou hidroxicloroquina (cerca de 15 mil) com os que não receberam.

Os dados usados são da empresa Surgisphere, que se apresenta como uma empresa de análise de dados em saúde com sede nos Estados Unidos. O jornal britânico The Guardian colocou em dúvida a idoneidade da empresa, que tem apenas uma meia dúzia de funcionários, que aparentam ter pouca experiência científica, e pequena presença online. O dono da Surgisphere, Sapan Desai, é um dos autores do estudo.

Os autores do estudo dizem “não terem conseguido confirmar o benefício da hidroxicloroquina ou da cloroquina” nos doentes analisados, apontando um acréscimo de efeitos adversos potencialmente graves, incluindo “um aumento da mortalidade”, durante a hospitalização de doentes com covid-19.

Após a publicação, a Organização Mundial da Saúde (OMS) suspendeu temporariamente, por precaução, o uso dos medicamentos, empregados há décadas contra a malária, em pesquisas por ela coordenadas em 35 países. Depois de uma análise interna sobre a segurança dos fármacos, a OMS retomou o estudo com mais de 3,5 mil pacientes.

Muitos investigadores expressaram dúvidas sobre o trabalho, incluindo alguns cientistas céticos sobre o benefício da hidroxicloroquina contra a covid-19.

Numa carta aberta divulgada na semana passada, dezenas de cientistas expressaram preocupação com o trabalho e disseram que um exame detalhado levantou questões de metodologia e de integridade dos dados, apontando a recusa dos autores em dar acesso total aos dados e a falta de “revisão ética”.

A hidroxicloroquina, normalmente utilizada no tratamento contra a artrite, vinha sendo alardeada pelo presidente americano, Donald Trump, como benéfica no combate à doença. Trump, inclusive, chegou a afirmar que estava se tratando preventivamente com o medicamento.

Seguindo o exemplo de Trump, o presidente Jair Bolsonaro passou a defender o uso da cloroquina como sendo eficaz no combate à doença, apesar de não haver comprovação científica da eficácia do medicamento em pacientes com covid-19.

A insistência de Bolsonaro em ampliar o uso da cloroquina foi um dos motivos de divergência que levou à demissão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, e menos de um mês depois de seu sucessor, Nelson Teich.

Crédito:  Deutsche Welle Brasil – disponível na internet 05/06/2020


Por que cientistas tiveram que se retratar por estudo que negava efeito da cloroquina contra o coronavírus

A hidroxicoloroquina é um derivado mais brando da cloroquina. Direito de imagem GETTY IMAGES

O periódico científico The Lancet anunciou na tarde desta quinta-feira (4) que um artigo publicado em 22 de maio refutando os benefícios da hidroxicloroquina e da cloroquina no tratamento para a covid-19 foi retratado.

A retratação de um artigo é prevista nos protocolos de periódicos renomados quando algum tipo de má conduta, fraude ou erro é detectado.

O processo é semelhante ao de uma correção — mas, quando esta é considerada insuficiente para dar conta do problema encontrado, é preciso retratá-lo. Frequentemente, são os próprios autores que submetem ao periódico um pedido de retratação.

Após críticas de outros pesquisadores ao artigo do Lancet, que originalmente usou dados de 96 mil pacientes em 671 hospitais de seis continentes, três de seus autores afirmaram que solicitaram uma auditoria independente do trabalho da empresa Surgisphere Corporation e de seu fundador e coautor da publicação, Sapan Desai. Os dados coletados pela empresa em seu sistema foram base para o artigo.

“Nossos revisores independentes nos informaram que a Surgisphere não transferiria o conjunto de dados completo (…) já que isto violaria contratos com clientes e compromissos com a confidencialidade. Assim, nossos revisores não foram capazes de conduzir uma revisão por pares independente e privada e, portanto, notificaram-nos de sua retirada do processo”, escreveram os autores na nota de retratação.

“Com esse desenrolar dos fatos, não podemos mais garantir a veracidade das fontes de dados primárias. Devido a esse acontecimento infeliz, os autores solicitam a retirada do artigo.”

“Todos nós entramos nesse trabalho conjunto para contribuir de boa fé e em um momento de grande necessidade durante a pandemia da covid-19. Lamentamos profundamente a você, editores e leitores do periódico, por qualquer constrangimento ou inconveniência que isso possa ter causado.”

A revista científica também publicou sua própria nota nesta quinta, afirmando que o aviso de retratação será incluído em breve na página onde está o artigo, que com isso não poderá mais ser citado por outros autores em sua bibliografia.

“O Lancet leva a integridade científica extremamente a sério, e há muitas questões pendentes sobre o Surgisphere e os dados que teriam sido incluídos neste estudo”, diz a nota.

Crédito: BBC Brasil – disponível na internet 05/06/2020

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