Em 2020, a Universidade Federal do Rio de Janeiro torna-se centenária. A data é uma oportunidade para recuperarmos sua memória do passado, fazermos um balanço dos desafios do presente e, principalmente, projetarmos o papel que queremos ter no futuro do país.
Universidade do Brasil, criada em 7 de setembro de 1920 pelo presidente Epitácio Pessoa sob a alcunha “Universidade do Rio de Janeiro”, reunia três escolas de formação superior: a Escola de Engenharia, a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Direito. A essas unidades iniciais somaram-se em seguida a Escola Nacional de Belas Artes e a Faculdade Nacional de Filosofia.
Foram necessárias algumas décadas, contudo, até que a Universidade se consolidasse como instituição de pesquisa. Além da excelência na formação superior, conquistou uma posição central para o desenvolvimento econômico e social do país, a partir do tripé ensino, pesquisa e extensão. Nos últimos anos, a UFRJ cresceu em diversos sentidos. Tornou-se mais diversa, voltada para a sociedade e mais rica em pesquisa.
A UFRJ, maior universidade federal do país, continua e continuará exercendo seu importante papel na educação e no desenvolvimento do Brasil, do mundo e das muitas vidas que o habitam.
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Carta Comemorativa pelo Centenário da UFRJ
O Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro, reunido em sessão ordinária no dia 27 de agosto de 2020, reafirma, na ocasião do centenário da instituição, dia 7 de setembro de 2020, os compromissos da UFRJ com a defesa do conhecimento, da vida e com os princípios republicanos e democráticos.
Ao longo de cem anos formamos milhões de estudantes e produzimos tecnologias e inovações plurais relacionadas com inúmeras formas da experiência humana. Coincidentemente, o centenário da UFRJ transcorre, tal como no contexto de sua criação, sob os impactos de uma pandemia. O decreto, assinado em 7 de setembro de 1920, instituiu a então Universidade do Rio de Janeiro entre o trauma da gripe espanhola e a efervescência dos preparativos para a comemoração do centenário da Independência do Brasil. Na ocasião, Epitácio Pessoa destacou a importância dos “congressos científicos, históricos, artísticos e econômicos”, previstos para a Exposição Internacional do Centenário, mas que precisavam ter como palco uma cidade moderna e sem “epidemias dizimadoras”. Esse esforço bastaria para convencer os visitantes de que “alguma coisa temos feito e muito poderemos ainda realizar para o futuro”.
Cem anos depois, felizmente, os recursos científicos e tecnológicos para combater a pandemia são maiores, nosso sistema de saúde pública se universalizou, nossa capacidade de produção de insumos médicos mostrou-se promissora. No entanto, precisamos avançar ainda mais e segue sendo pertinente enfatizar o muito que poderemos ainda realizar para o futuro.
As virtudes que universidades e instituições científicas demonstraram durante a pandemia devem servir de exemplo prático para um país possível, com mais investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação. A UFRJ se destacou por várias iniciativas voltadas para as necessidades imediatas de prevenção e assistência durante a pandemia. Pudemos nos apoiar em nosso sólido passado para reafirmar um presente engajado, que nos capacita para responder aos desafios do futuro. Efemérides são ocasiões para celebrar, mas também para fazer balanços e assumir responsabilidades. Estamos imersos em momento histórico muito grave e nosso horizonte para uma saída de crises superpostas não está claramente delineado.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro, nesta carta, reafirma sua disposição para contribuir com a reconstrução do país. Atividades integradoras de ensino, pesquisa e extensão são valiosas, contrapondo-se à insegurança e à desconfiança que podem nutrir o ódio. Precisamos fortalecer a autenticidade das aspirações humanas e do espírito crítico para que as novas gerações não confundam artifícios com fontes científicas, culturais e artísticas que possibilitam interpretar o mundo adequadamente. O papel de nossos cientistas e pesquisas de diferentes campos do conhecimento foi apenas uma amostra do que pode ser feito pelo país, caso decida priorizar o conhecimento e um modelo de desenvolvimento baseado em tecnologia, sustentado por estudos sociais e culturais. Para isso, precisamos de investimento e valorização por parte de governos, garantindo a autonomia para definirmos nossos rumos e nossa liberdade de pensamento. Em tempos de desafios ambientais, a integração de saberes será ainda mais estratégica.
A UFRJ reafirma a importância de seu caráter público e gratuito, ciente da relevância das conquistas que a tornaram mais democrática, diversa e inclusiva. Só recentemente a marca elitista da universidade começou a ser ultrapassada. Há cem anos, a preocupação declarada dos que criaram a universidade era preparar uma elite para a tarefa de organizar o país como nação. Hoje, sabemos que isso será impossível sem a presença plena dos excluídos daquele antigo projeto de nação. A desigualdade social continua sendo o maior problema do Brasil. A semelhança de nossa sociedade com o quadro de cem anos atrás ainda é grande demais, mesmo após os ganhos da redemocratização. Não podemos abrir mão das conquistas da Constituição de 1988 e precisamos aprofundá-las. Isso será essencial para construirmos um Brasil, não apenas menos desigual, mas orientado e conduzido pela pluralidade étnico-cultural que o caracteriza. Reafirmamos e redobramos nosso compromisso com a democracia, tanto em seu aspecto formal quanto material, ao mesmo tempo em que mantemos a aposta na pesquisa científica de ponta, levando em conta suas relações com os desafios da atualidade e os problemas brasileiros.
A missão da UFRJ pelos próximos cem anos será construir uma universidade mais plural, mais integrada em suas diversas áreas do saber e mais conectada à sociedade, aprofundando sua relação com os desafios econômicos e com as questões sociais dramáticas que marcam nossa história e ganharam vulto com a pandemia. Que nosso centenário, em meio a uma crise de muitas dimensões, seja uma ocasião para vincular a UFRJ que somos àquela que podemos ser – ao país e ao planeta que habitamos e que poderemos habitar.
UFRJ