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Esquemas de corrupção no Rio de Janeiro

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  • Esquema denunciado na Operação Catarata II tem secretário, ex-deputada e empresários envolvidos; veja
  • Crivella e Rafael Alves eram protagonistas de esquema de corrupção na prefeitura, diz a Justiça
Segunda fase teve quatro presos na manhã desta sexta-feira, incluindo o secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes   
 
A Operação Catarata II, realizada nesta sexta-feira, trouxe nomes de peso entre os suspeitos de fazer parte do esquema de desvios em contratos de assistência social no estado do Rio. Nesta etapa, são alvos com mandato de prisão temporária o ex-deputado estadual e atual secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes; o empresário Flavio Salomão Chadud; o pai dele, o delegado aposentado da PCERJ Mario Jamil Chadud; e o ex-diretor de administração financeira da Fundação Leão XIII, João Marcos Borges Mattos. Todos tiveram mandados cumpridos pela manhã. Já a ex-vereadora e ex-deputada federal Cristiane Brasil se apresentou à policia no começo da tarde.  
Os alvos da Catarata II desta sexta apareceram depois que as investigações se aprofundaram no “núcleo político” do esquema de fraudes entre 2013 e 2018. Na primeira fase da operação, realizada em julho de 2019, somente Flavio Chadud já era citado nas investigações. A continuação da análise dos contratos firmados através de concorrências falsas trouxe os novos nomes, como de Pedro Fernandes, conforme apontou inquérito ao qual O GLOBO teve acesso em agosto deste ano.

Veja quem são os envolvidos na Operação Catarata II:

Pedro Fernandes

Pedro Fernandes

O nome do secretário estadual de Educação do Rio, Pedro Fernandes (PSC), apareceu no relatório da Polícia Civil em julho deste ano. Ele é suspeito de participar do esquema de propina em contratos da Fundação Leão XIII. Na época, em 2017, enquanto esteve à frente da pasta de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Social, Fernandes também era responsável pelo órgão. Desde então, manteria influência na indicação de cargos, como a de Sérgio Bernardino Duarte, que adota o nome político de Sérgio Fernandes (PDT), ex-deputado estadual, que presidiu a fundação.

Os integrantes do esquema chamavam Pedro Fernandes de “chefe”, aponta o inquérito do Núcleo de Investigação de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil do Rio e do Ministério Público, ao qual o GLOBO teve acesso. O envolvimento foi reforçado após os dados em um caderno de anotações apreendido com o empresário Marcus Vinícius Azevedo da Silva (sócio da empresa Rio Mix 10) e de diálogos encontrados no celular dele.

Pedro Fernandes vem de uma família de políticos e, entre 2010 e 2019, foi eleito duas vezes deputado estadual e ainda ocupou por duas vezes o cargo de secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos — uma no governo de Sérgio Cabral, de fevereiro a abril de 2014, e outra com Luiz Fernando Pezão, de janeiro a fevereiro de 2017. Ele deixou o cargo para assumir a pasta de Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Social.

Em janeiro de 2019, recebeu o convite de Wilson Witzel para assumir a Secretaria estadual de Educação e migrou para o Partido Social Cristão (PSC), o mesmo do governador. Agora, o secretário integra a lista dos secretários afastados.

Pedro Fernandes foi alvo de um mandado de busca e apreensão e outro de prisão. No entanto, se encontra preso temporariamente em casa, na Barra da Tijuca, por ter apresentado teste positivo de Covid-19. Mas ainda terá que se submeter a novo exame para comprovar o diagnóstico.

João Marcos Borges Mattos
 
João Marcos Borges Mattos

Ex-braço direito de Pedro Fernandes, o empresário João Marcos Borges Mattos é aliado de longa data do secretário. Esteve, inclusive, no comando da Subsecretaria Executiva da pasta até maio deste ano. João Marcos é ex-diretor de administração financeira da Fundação Leão XIII e aparece como integrante do “núcleo político” do esquema, ao lado de Cristiane Brasil, Pedro Fernandes e Sergio Fernandes. Nas investigações da Polícia Civil, o empresário é o “JM”, presente em um caderno de anotações onde era registrado o repasse de propina a agentes públicos. O documento foi apreendido na casa do empresário Marcus Vinicius Azevedo da Silva, preso na Operação Catarata no ano passado.

Em agosto deste ano, João Marcos foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) sob suspeita de pagar propina ao governador por meio de repasses ao escritório da primeira-dama, Helena Witzel. Segundo dados financeiros obtidos pela PGR, a empresa Quali Clínicas repassou R$ 102 mil ao escritório de advocacia da primeira-dama.

Flavio Salomão Chadud

Flavio Salomão Chadud

Em quatro leilões, um lucro de R$ 66 milhões. Este valor teria sido recebido pelo casal Flavio Salomão Chadud e Marcelle Chadud, como apontou a primeira fase da Operação Catarata, realizada em julho de 2019. Eles são donos da empresa Servlog Rio, que seria o centro dos contratos fraudados para programas de assistência social no Estado do Rio. A dupla foi presa na primeira etapa, e Flavio se tornou novamente alvo na segunda.

Nas redes sociais, Flavio ostentava uma vida de luxo e viagens com a família. Na Operação Catarata I, foram encontrados cerca de R$ 4 milhões em apenas uma conta bancária do empresário. Na ocasião, os investigadores também se encontraram R$ 60 mil em um confre, uma pistola com registro e uma lancha, que foi apreendida numa casa do casal em Angra dos Reis.

A empresa Servlog Rio, comandada por Flavio Chadud, já estava pré-escolhida a vencer os contratos fraudados. Para camuflar o sistema, eram feitos pregões falsos, com valor combinados previamente. A sede ainda funcionava como o “QG” para o pagamento das propinas.

Mario Jamil Chadud

Mario Jamil Chadud

O delegado aposentado Mario Jamil Chadud é pai do empresário Flavio Salomão Chadud e se tornou alvo da Catarata II por ter tentado obstruir a investigação na primeira fase, em 2019. Momentos antes da chegada das equipes que reaizariam a busca e apreensão na sede da Servlog Rio, empresa do filho, ele esteve no local e retirou dinheiro em espécie, computadores e documentos, conforme apontam os relatórios do Ministério Público.

De acordo com a denúncia, a sede funcionava como o “QG” do grupo e ponto de entraga de propinas, que variavam entre 5% e 25% de casa contrato. O valor era pago em dinheiro vivo a servidores públicos e a agentes políticos que eram responsáveis pelas secretarias municipais e pela Fundação Estadual Leão XIII, de acordo com o MPRJ.

Cristiane Brasil 

Cristiane Brasil

Filha do político Roberto Jefferson, delator do Mensalão, a ex-deputada federal Cristiane Brasil era secretária municipal de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida na época em que a Servlog Rio foi contratada para executar o projeto municipal Qualimóvel, no valor de R$ 20 milhões.

Segundo a investigação, a ex-deputada federal recebia a propina do esquema em dinheiro vivo, em depósitos em contas correntes de terceiros e em pagamento de despesas pessoais. A investigação apontou que ela recebeu repasses no “QG” do grupo, a sede da Servlog Rio, na Barra da Tijuca. Enquanto esteve à frente da pasta, teve na secretaria Marcus Vinicius Azevedo da Silva, preso na primeira fase da operação, no ano passado. Ela se entregou à polícia na tarde desta sexta-feira, alegando inocência.

Marcus Vinícius Azevedo da Silva

O empresário Marcus Vinícius Azevedo da Silva, ex-assessor do vice-governador Cláudio Castro (PSC), é um dos 25 acusados de integrar o esquema de propinas. Com a primeira fase da Operação Catarata, o sócio da empresa Rio Mix 10 chegou a ficar preso entre julho e agosto de 2019 por fraudes na Fundação Leão XIII. Em setembro deste ano, ele fez um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre desvios de recursos em contratos e também delatou deputados federais da bancada fluminense.

Marcus Vinícius é próximo do governador em exercício. Trabalhou no gabinete de Claudio Castro na Câmara Municipal do Rio de 2017 até este deixar o parlamento para se tornar vice na chapa de Wilson Witzel. Castro é o responsável, desde o início do governo, pela gestão da Fundação Leão XIII, foco das supostas fraudes relatadas por Marcus Vinícius. O governador interino, no entanto, não foi citado nas investigações.

A fase dois da operação, segundo as investigações, destaca que Marcus Vinícius além de ser responsável pela sociedade Rio Mix 10, atuou na Secretaria municipal de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida junto com a então vereadora e deputada federal Cristiane Brasil e na Câmara Municipal de Vereadores do Rio de Janeiro, sendo o braço direito de Flavio Chadud.

EntendaO que se sabe sobre a investigação que levou Pedro Fernandes à prisão

Crédito: Carolina Callegari/O Globo – disponível na internet 12/09/2020


Crivella e Rafael Alves eram protagonistas de esquema de corrupção na prefeitura, diz a Justiça

Para desembargadora, que determinou a operação de busca e apreensão, “a subserviência do prefeito a Rafael Alves é assustadora”   
 

Rafael Alves e Crivella, em evento oficial Foto: Reprodução

Detalhes da investigação sobre corrupção na prefeitura do Rio revelam a relação estreita entre Marcelo Crivella e Rafael Alves. De acordo com a Justiça, os dois protagonizavam o esquema, mas o prefeito era subserviente ao empresário. As informações são do RJ2.

Alves é irmão do ex-presidente da Riotur, Marcelo Alves, e teria indicado o irmão para o cargo. O empresário é o dono do celular para qual o prefeito supostamente ligou durante uma operação da polícia, no dia 10 de março, mas a ligação foi atendida por um delegado.

Contudo, elementos da investigação mostram que o poder de Rafael Alves vai muito além do setor de turismo e que ele e Crivella seriam os protagonistas de um esquema de corrupção montado na prefeitura.

Rafael não tem cargo em nenhum órgão ligado à prefeitura do Rio, ele também não é funcionário terceirizado, mas investigações do Ministério Público revelam que ele “manda muito”.

No despacho da desembargadora Rosa Helena Guita, que determinou a operação desta quinta-feira (10), de busca e apreensão, uma frase traduz o poder de Rafael Alves sobre o prefeito Crivella: “A subserviência do prefeito a Rafael Alves é assustadora”.

Retorno financeiro

Rafael tem voz ativa dentro do governo municipal a ponto de exigir a anulação de atos administrativos, como se o prefeito fosse seu subordinado. Segundo a decisão da Justiça, o empresário tratou a campanha eleitoral de Crivella como uma banca de negócios visando retorno financeiro.

Em uma outra troca de mensagens, Rafael afirmou: “Não quero cargo nem status, quero retorno do que está sendo investido”. Diz o documento da Justiça que Rafael Alves é notório no seio do grupo criminoso, tanto que é conhecido como “Trump”, uma referência ao presidente americano.

No documento, há reproduções também de conversas entre Rafael e o doleiro Sérgio Mizrahy, delator do esquema. Em uma conversa, Rafael avisa que precisa passar no Península: “na casa do chefe pra deixar um lance lá”.

O lance ao qual Rafael se refere, segundo o MP, é dinheiro em espécie. Península é o condomínio onde mora o prefeito.

De acordo com a investigação, certa vez, Rafael Alves reclamou diretamente com Sérgio Mizrahy sobre a demora pelo recebimento de uma quantia e, por mensagem, falou: “Aquela situação seria um “vacilo” e que era “parada” para o zero um”, em expressa alusão ao atual prefeito.

Crise entre Rafael e Crivella

O documento do MP obtido pelo RJ2 também registra crises na relação entre Crivella e Rafael Alves. Rafael usa com Crivella termos como: “covardia”, “falta de palavra comigo, eu não vou aceitar”. E se irrita com a possibilidade de o irmão deixar a presidência da Riotur, o que aconteceu depois da primeira fase da operação.

Entre os momentos tensos entre os dois, ele fala: “É um falso de duas caras que na frente é uma coisa e por trás é outra”. E, em letras maiúsculas, que na linguagem da internet significa grito, Rafael escreve: “Eu não aceito isso. Não aceito falta de palavra comigo. Fui leal até aqui.”

Para o Ministério Público, o conteúdo das mensagens é perturbador, postura típica de quem tem conhecimento de fatos que, caso tornados públicos, podem causar prejuízos irreparáveis a seu interlocutor, no caso, o prefeito Crivella.

Ainda segundo o RJ2, os promotores são enfáticos em dizer que as provas obtidas a partir das buscas e apreensões confirmam as suspeitas iniciais e revelam a efetiva participação e o protagonismo de Crivella no gigantesco esquema de corrupção, peculato, fraude a licitação e lavagem de dinheiro instalado no município do Rio.

Ligação de Crivella durante operação

Há seis meses, o Ministério Público estadual e a Polícia Civil realizavam a primeira fase da Operação Hades. Na casa de Rafael Alves, celulares foram apreendidos. Um deles tocou, nas mãos do delegado Clemente Braune, que atendeu a chamada. Em um documento, o delegado reproduziu as palavras de Crivella.

“Alô, bom dia, Rafael. Está tendo uma busca e apreensão na Riotur? Você está sabendo?”

E o delegado responde:

– Sim, estou ciente. É uma investigação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro.

O delegado disse que ao perceber que não era Rafael Alves, o prefeito encerrou a chamada imediatamente.

Segundo a decisão judicial, que determinou a operação desta quinta-feira, na análise do conteúdo dos telefones celulares de Rafael apurou-se que o prefeito figura como um de seus mais frequentes interlocutores.

Num dos aparelhos telefônicos apreendidos havia 1.949 mensagens trocadas entre eles, muitas delas contendo linguagem cifrada, deixando transparecer que seu conteúdo não poderia ser tratado por meios de comunicação convencionais.

Segundo os investigadores, a ascendência de Rafael sobre o prefeito Crivella chega ao ponto de ele exigir, incisivamente, ser ouvido, antes da tomada de qualquer decisão.

A investigação mostra ainda que o empresário interfere na escolha de empresas para prestar serviços aos mais diversos setores da administração e aponta pessoas para ocupar cargos-chave. Numa troca de mensagens com o prefeito, Rafael disse:”deixei pro senhor uma indicação – presidência Prevrio”.

O que os citados responderam à TV Globo

A defesa de Rafael Alves informou que ele refuta as acusações. E disse que tenta, há mais de nove meses, prestar esclarecimentos ao Ministério Público, mas não teve essa oportunidade.

O prefeito Marcelo Crivella voltou a afirmar que já havia colocado à disposição os sigilos bancário, telefônico e fiscal, que estranhou a operação de busca e apreensão, considerando que estamos em período eleitoral, que a ação é injustificada, e que ele não é réu nesta ou em qualquer outra ação.

Saiba quem sãoOs alvos da operação do MP e da Polícia Civil

Saiba maisEntenda a operação do MP que mira ‘QG da Propina’ no governo Crivella

Crédito: O Globo – disponível na internet 12/09/2020

2 COMENTÁRIOS

  1. Ainda dizem que o estado tá quebrado, quebrado pra pagar funcionários, pra incentivar privatizações, isso sim, mas todo dia os escândalos de milhões saem de onde? De onde vem esse dinheiro? Vem do estado meus amigos, entao, falta honestidade e não dinheiro para o nosso estado.

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