Serão coisas que não costumamos ver, como softwares e outros produtos da internet.
Antes que o coronavírus transformasse as nossas vidas, as listas de tecnologias que surgiam todos os anos eram frequentemente dominadas por aparelhos de grande fama como caixas de som inteligentes e televisões com curvatura. Mas a pandemia nos obrigou a abraçar a tecnologia útil muitas vezes menosprezada. Aplicativos antes deficientes ou engenhocas inovadoras nos nossos dispositivos tornaram-se de repente ferramentas indispensáveis.
Por exemplo, aplicativos como Apple Pay e Square. Embora já existam há anos, algumas pessoas continuam com cartões de crédito e dinheiro. Mas a nova preocupação com o vírus incentivou o uso de pagamentos por celular sem necessidade de contato em detrimento dos leitores de cartões.
Há ainda a realidade aumentada. A tecnologia, que nos permite interagir com objetos digitais em sobreposição ao nosso mundo físico, está em preparação há mais de uma década. Nos últimos anos, pareceu mais futurista do que útil. Mas agora, que não podemos ir para uma loja física para experimentar algum produto, poder tirar uma selfie para ver como fica a maquiagem no nosso rosto parece evidentemente uma ideia melhor.
“Começamos a considerar todas essas coisas como uma necessidade durante a covid-19”, disse Carolina Milanesi, analista de tecnologia de consumo para a Creative Strategics. “Basta pensar por quanto tempo negligenciamos as chamadas de vídeo. Finalmente, conseguimos. Não é sexy, mas faz uma diferença”.
Baseadas nessas previsões, abaixo estão quatro tendências tecnológicas que deverão invadir nossas vidas este ano.
Tecnologia que substitui lojas físicas
Talvez vocês não tenham notado isso nas compras online, mas a experiência do comércio eletrônico está mudando. Clicar em uma barra de navegação de um site para encontrar um item ficou algo ultrapassado. Uma barra de busca que nos permite procurar um produto específico é mais rápida. Em alguns casos, conversar com um robô pode ser até mais eficiente.
Há anos, experimentamos robôs de conversação. O Facebook ofereceu ferramentas para os comerciantes fazerem robôs que lidam com os clientes. Varejistas como a Amazon usam ‘chatbots’ para responder às perguntas dos clientes, e quando os robôs não podem ajudar, uma pessoa assume em seu lugar.
Atualmente, visitar uma loja física é algo em grande parte impraticável na pandemia, mas podemos esperar que estas tecnologias de conversação se tornem fundamentais, afirma Julie Ask, analista de tecnologia da Forrester Research. “A possibilidade de ir online e buscar, clicar e usar uma janela de navegação já é ultrapassada”, ela disse. “O que vem depois disso? Muitas coisas passarão pela conversação, seja por texto ou por voz”.
Já existem vários exemplos disso. Recentemente, tentei comprar um par de sapatos na Beckett Simonon, uma marca da moda online, e perguntei a um funcionário via chat a respeito do tamanho exato para os meus pés.
Muitas companhias também estão usando a realidade aumentada para ajudar as pessoas nas compras online, disse Julie Ask. Na Jins Eyewear, que vende óculos sob receita, por exemplo, o cliente tira uma foto do rosto para provar virtualmente os óculos antes de decidir se os comprará. Snap, a controladora da Snapchat, associou-se a marcas de luxo como Gucci e Dior para as pessoas experimentarem os produtos.
A realidade aumentada será particularmente popular este ano porque a tecnologia continua se aperfeiçoando. Novos smartphones da Apple e Android mais caros incluem sensores para detectar a profundidade, o que torna mais fácil para os aplicativos de realidade aumentada colocar objetos como mobiliário virtual em espaços físicos.
O Wi-Fi está ficando mais inteligente
Um problema da tecnologia doméstica que a pandemia evidenciou foi o das nossas conexões de internet, que não costumam ser confiáveis. No ano passado, quando as pessoas se fecharam em casa para conter a disseminação do coronavírus, as velocidades médias da internet no mundo inteiro reduziram, em parte porque as provedoras de banda larga estavam sobrecarregadas por causa do tráfego pesado.
Felizmente, a tecnologia de Wi-Fi vem sendo continuamente aprimorada. Este ano, veremos uma onda de novos roteadores de internet, entre eles o Wi-Fi 6, um novo padrão de rede. Ao contrário dos upgrades sem fio anteriores, o Wi-Fi 6 se concentrará não na velocidade, mas na eficiência, compartilhando a banda larga com um grande número de dispositivos.
O que isto significa? Digamos que a sua família tem smartphones, vários computadores e um console para jogos. Se todos eles estão em uso consumindo grandes quantidades de dados – com streaming de vídeo, por exemplo – o Wi-Fi 6 faz algo melhor, fornecendo banda larga a todos os dispositivos ao mesmo tempo, em vez de permitir que um deles apenas monopolize a maior parte.
A tecnologia permite que não usemos nossas mãos
O ano passado foi um ponto crucial para os pagamentos via celular. Por razões de segurança, os que só confiavam no dinheiro vivo, como os comerciantes do mercado de produtores agrícolas e os caminhões que vendem comida, começaram a aceitar os pagamentos móveis.
Nos Estados Unidos, cerca de 67% dos comerciantes aceitam pagamentos sem tocar no dinheiro, sendo que em 2019 eram 40%, de acordo com uma pesquisa da Forrester. Entre os entrevistados, 19% disseram que fizeram um pagamento digital em uma loja, pela primeira vez, em maio do ano passado.
E essa tecnologia não acaba nas carteiras móveis. A chamada Ultra Banda Larga, uma tecnologia por rádio relativamente nova, também poderá ter o seu momento este ano. A tecnologia, que usa ondas de rádio para detectar objetos com extrema precisão, não foi muito usada desde a sua estreia nos smartphones, há cerca de dois anos. Mas a necessidade de experiências sem o toque poderá mudar isto, afirmou Carolina Milanesi, da Creative Strategies.
A tecnologia que leva o trabalho e o atendimento ao mundo virtual
A pandemia deixou claro que as experiências virtuais, como as reuniões por vídeo e a ioga via Zoom, são substitutos viáveis do mundo real, quando adotados persistentemente ou com a devida insistência. Em 2021, esperamos que outros produtos ofereçam a digitalização da maneira como trabalhamos e cuidamos da saúde.
Um exemplo: algumas companhias de tecnologia estão experimentando com a recriação da sala de conferências do escritório com realidade virtual.
A Oculus, divisão de realidade virtual do Facebook, disse que está acelerando o seu plano de trazer a realidade virtual para os escritórios. Ela pretende unir o seu mais recente fone de ouvido, o Oculus Quest 2, a um software de business-ready que ajuda as empresas a treinar os funcionários e a colaborar, por cerca de US$ 800.
Com as academias fechadas, estamos nos voltando cada vez mais aos cuidados com a saúde
No ano passado, a Amazon lançou o seu primeiro dispositivo para acompanhar o exercício físico – ele inclui até um software que escaneia a gordura do nosso corpo. Recentemente, a Apple lançou o Fitness +, um replicador do Peloton, o serviço por vídeo que oferece instruções para as pessoas se exercitarem em casa. Segundo Julie Ask, a tendência continuará e se estenderá a outros aspetos da saúde, como o autoatendimento e a saúde mental, com aplicativos de vídeo que oferecem meditação ou terapia guiada.
Crédito: Crédito: Brian X. Chen do The New York Times, artigo traduzido por Anna Capovilla/O estado de São Paulo @internet 09/01/2021