Busca por máscaras PFF2 dispara, e grupos cobram distribuição no SUS.
Especialistas recomendam máscaras filtrantes contra as variantes da Covid-19 e páginas nas redes sociais pedem proteção mais acessível para a população
A piora acentuada nos índices de contaminação e mortes por Covid-19 no país durante a segunda onda da pandemia levou a um aumento na procura por novas formas de proteção. As tendências de buscas do ‘Google Trends’ mostram um pico de pesquisa dos termos “máscara N95” e “máscara PFF2” entre o final de fevereiro e as primeiras duas semanas de março.
As duas nomenclaturas se referem ao mesmo produto, como explica a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo. O termo PFF2 (Peça Facial Filtrante) é utilizado pelos órgãos reguladores no Brasil para descrever os equipamentos de proteção com filtragem superior a 95% – é a N95, nomeada assim pelas agências norte-americanas e europeias.
As tendências da internet refletiram em procura por esses produtos nas distribuidoras, como conta Renato Joiozo, gerente de novos negócios da Descarpack, uma das maiores produtoras e distribuidoras de material cirúrgico e descartável do país.
“A maior procura por PFF2 foi nos últimos 30 dias”, conta Joiozo. Desde o início da pandemia, a empresa viu a demanda por esse tipo de máscara disparar e, por isso, quadruplicou a produção. “A máscara correta, que vai evitar que você se contamine, é a PFF2. As pessoas, de uma forma geral, têm se conscientizado um pouco mais e isso aumenta a demanda por esse material. Nós aumentamos a capacidade de produção para atender a esse volume.”
Segundo o gerente de novos negócios, o aumento da produção quase não é suficiente para atender à procura, que faz com que o estoque opere em níveis muito baixos desde o início da pandemia. Apesar da busca crescente por seus produtos, a empresa afirma que a penetração entre os consumidores finais ainda é baixa.
Não é o caso da Hospitalar Distribuidora, empresa localizada em Presidente Prudente. Rafael Araújo, farmacêutico e gerente de vendas, notou um aumento importante das vendas de máscaras filtrantes especialmente entre pessoas físicas, um público que não estava acostumado a atender. “Antigamente quase ninguém tinha necessidade de usar essa máscara.”
Assim como a Descarpack, a Hospitalar Distribuidora opera há mais de um ano com poucos produtos no estoque. Segundo Araújo, durante os primeiros meses da pandemia houve queda acentuada na distribuição de máscaras PFF2/N95, o que gerou escassez e um rápido desabastecimento. Porém, este não é o cenário atual.
“Não há indício de desabastecimento. Muitas indústrias foram criadas para atender à demanda nacional. Antes, boa parte do material vinha da China, mas hoje só utilizamos fornecedores nacionais. Temos, em média, 20 fornecedores”, afirma. “No início da pandemia houve um período curto de desabastecimento, mas foi rapidamente suprido. O problema é que foi suprido com um preço muito mais alto”. Uma N95 confiável custa entre R$15 e R$40.
Nas redes
A epidemiologista Ethel Maciel afirma que as particularidades protetivas das máscaras PFF2/N95 justificam o aumento da procura por esses produtos. Segundo a pesquisadora, a alta demanda é válida e deveria ser estimulada para proteger a população.
“O governo poderia baixar os impostos dessa máscara ou distribuir no Sistema Único de Saúde (SUS) para que todos possam ter acesso. Nossa luta tem de ser essa: máscaras filtrantes no SUS, para toda a população, principalmente para a população que precisa andar no transporte coletivo”, diz a cientista. “É importante estimular o uso porque essa máscara é muito eficiente e protege, inclusive, contra as novas variantes. A recomendação é de que todos deveriam usar.”
A defesa que a infectologista faz da distribuição de máscaras no SUS tem ganhado projeção nas redes sociais com algumas iniciativas independentes que visam a democratização do acesso às máscaras filtrantes para conter o avanço da pandemia no país.
Perfis como ”PFF para todos” e “Estoques PFF – máscaras melhores para todos” fazem campanhas ativas de mobilização na internet, com o objetivo de pressionar o poder público pela distribuição dos equipamentos de proteção facial.
Há ainda iniciativas como a “Qual máscara?”, que utiliza as redes sociais para informar e atualizar, com base em evidências científicas, a melhor forma de se proteger contra a Covid-19; e o “Guaxinim Facial Filtrante” que utiliza do humor para arrecadar recursos que são revertidos em compra e doação de equipamentos de proteção individual (EPI) aos profissionais da saúde e demais trabalhadores.
Em entrevista à CNN, o programador e administrador do site PFF para Todos, Bruno Carvalho, concorda que esse tipo de proteção deve estar mais acessível com o agravamento a pandemia no país.
“Queríamos ajudar as pessoas a conseguirem acesso às PFFs para que elas pudessem se proteger de uma maneria mais eficaz do que a que nós estávamos conseguindo fazer. Hoje, o SUS deveria distribuir e ensinar a usar as máscaras PFFs, não cirúrgicas, da mesma forma que o SUS começou a distribuir e ensinar a usar camisinha para combater a pandemia do HIV”, afirma.
A página gerida por Bruno monitora os níveis de abastecimento das distribuidoras em parceria como a iniciativa “Estoques PFF – máscaras melhores para todos”. De acordo com o idealizador do site, os administradores entram em contato com lojistas para checar a quantidade e o preço dos produtos disponíveis. Eles também dizem atuar como interlocutores entre os consumidores e os comerciantes, com o intuito de informar como os empresários podem colaborar com o combate à pandemia.
Assim como relataram os distribuidores, Carvalho afirma que os comerciantes estão operando com poucos produtos nos estoques. A operação de pequenas empresas funciona com dois terços dos produtos. Ele também revela uma grande dificuldade dos comerciantes das regiões Norte e Nordeste, que têm que arcar com fretes mais altos para receber as máscaras.
Quantas vezes posso utilizar? E onde devo guardar?
As máscaras PFF2 podem ser utilizadas de 10 a 15 vezes, por cerca de 3 meses. Elas podem ser penduradas em algum local para arejar. Evite colocar em sacolas plásticas, porque elas ficam úmidas e acabam durando menos tempo.
Guarde-as em caixas de sapato ou de papel, ou em envelopes de papel – preferíveis no lugar de recipientes de plástico. O ideal é ter uma máscara para cada dia de exposição: se você trabalha de segunda a sexta, deveria ter 5 máscaras. Cada máscara deve ficar “respirando” de 3 a 5 dias. Intercale as máscaras.
Devo utilizar a PFF2/N95 junto com outra máscara?
As máscaras filtrantes não devem ser utilizadas com nenhuma outra máscara por cima ou por baixo. Ela é suficiente, porque tem várias camadas de filtragem. São máscaras que protegem muito e são facilmente encontradas em lojas de material de construção, além de ser mais barata nesses lugares.
No início da pandemia, foram feitas campanhas para que se deixassem essas máscaras para os profissionais de saúde. Essa não é a realidade agora. O Brasil tem cerca de 28 fabricantes de máscaras PFF2.
Como saber se máscaras são verdadeiras e confiáveis?
Alguns modelos específicos são mais baratos do que a máscara de tecido, mas é preciso observar se eles têm o selo do Inmetro e o registro na Anvisa.
Especialistas ouvidos pela CNNexplicaram todos os procedimentos que devem ser seguidos para reconhecer as máscaras falsificadas. Denúncias apontam que o aumento da procura por esses produtos gerou uma rede de falsificação que vende as imitações livremente pela internet, inclusive em sites de grandes varejistas.
Crédito: Weslley Galzo, da CNN – @internet 20/03/2021