Para a fabricante, metodologia aplicada não reflete modo de uso no mundo real; comparamos outros motores turbo e aspirados para ver se o ‘problema’ se repete
Consumo de combustível é uma paixão do brasileiro. Nem tanto pela apreciação a eficiência energética dos motores, mas sim pelo preço que pesa no bolso dos motoristas. Mas o consumo é um dado cercado de variações… Relevo das vias, clima, trânsito, forma de dirigir, peso dos ocupantes e da carga, motor turbo, estado de conservação da mecânica do carro e até o estado de humor do motorista podem afetá-lo.
Para auxiliar os consumidores na compra de um carro novo, o Inmetro desenvolveu seu teste padronizado e a etiqueta de eficiência energética. O exame é feito em laboratório, com condições controladas e iguais para todos os carros. O veículo roda sobre um dinamômetro simulando um ciclo urbano e um ciclo rodoviários e assim chega aos números da etiqueta. E fica a questão: será que os números são mesmos fiéis à realidade?!
O teste é feito desse jeito para haver uma forma neutra e imparcial de comparação entre os carros, tirando as variáveis que são encontradas no mundo real. Claro que os motoristas podem não encontrar os mesmos números. Um belo-horizontino, por exemplo, pode obter consumo mais alto devido aos morros de sua cidade enquanto um brasiliense pode conseguir consumo mais baixo por causa do relevo mais plano da cidade e suas vias expressas.
Ainda assim, com os resultados do teste do Inmetro o consumidor pode deduzir que o carro X pode ser mais eficiente que o carro Y e fazer a sua escolha.
Fiat X Inmetro: consumo do motor turbo
A nova Fiat Toro equipada com motor 1.3 turbo virou manchete pelo motor novo, que deveria ser mais econômico, mas acabou sendo mais beberrão que o antigo 1.8 E.torQ no ciclo rodoviário com gasolina e igualou com o antigo usando etanol. No ciclo urbano, a picape equipada com o motor novo conseguiu consumo menor, mas foi uma diferença pequena conforme podemos ver na tabela abaixo:
Versão | Cidade (gasolina/etanol) | Estrada (gasolina/etanol) |
---|---|---|
Toro Endurance 270 | 9,4 km/l / 6,5 km/l | 10,8 km/l / 8 km/l |
Toro Endurance 1.8 | 9 km/l / 6,3 km/l | 11,1 km/l / 8 km/l |
A justificativa da marca é que o teste padronizado do Inmetro não valoriza motores turbo e que no mundo real a picape com o motor GSE 1.3 turbo deverá gastar menos.
Essa informação de que o teste não ajuda aos novos motores turbinados despertou nossa curiosidade. Fomos atrás dos dados oficiais de outros carros que possuem motores aspirados e turbo na mesma geração para ver se a justificativa da Fiat cola.
Volkswagen Polo 1.6 MSI X 1.0 TSI
O hatchback alemão oferece um motor 1.6 16v aspirado de 117 cv e o 1.0 TSI de 128 cv, ambos da mesma família EA211. O cambio automático Aisin de seis marchas também é o mesmo, tornando a comparação mais justa. Segundo a tabela do Inmetro, o motor turbinado é mais econômico tanto na cidade quanto na estrada, independente do combustível. A diferença é pequena, principalmente com o etanol, mas na gasolina o motor TSI aumenta sua vantagem.
Versão | Cidade (gasolina/etanol) | Estrada (gasolina/etanol) |
---|---|---|
Polo 1.6 MSI | 11 km/l / 7,9 km/l | 13,8 km/l / 9,6 km/l |
Polo 1.0 TSI | 11,6 km/l / 8 km/l | 14,1 km/l / 9,8 km/l |
Volkswagen Golf 1.6 MSI X 1.0 TSI
A dupla de motores EA211 da Volkswagen repetem nessa comparação, mas a transmissão agora é manual. O Golf 1.6 tem a desvantagem de ter apenas cinco marchas, contra seis do 1.0 turbo. O peso extra do hatch médio faz o torque do motor 1.0 TSI mais necessário na condução diária. No teste de laboratório o motor turbo levou vantagem em todas as variantes mais uma vez, tendo como destaque a diferença de 1,3 km/l na cidade com etanol.
Versão | Cidade (gasolina/etanol) | Estrada (gasolina/etanol) |
---|---|---|
Golf 1.6 MSI | 10,1 km/l / 7,0 km/l | 13 km/l / 9,2 km/l |
Golf 1.0 TSI | 11,9 km/l / 8,4 km/l | 14,3 km/l / 10,1 km/l |
Hyundai HB20 1.6 X HB20 com motor turbo (1.0 TGDI)
A Hyundai oferece nos modelos topo de linha do HB20 o motor 1.0 turbo de 120 cv, a potência é menor que os 130 cv do motor 1.6 aspirado. A vantagem do 1.0 fica no torque de 17,5 kgfm a 1.500 rpm, contra 16,5 kgfm a 4.500 rpm do motor 1.6.
Na tabela do Inmetro, o HB20 equipado com motor 1.0 TGDI levou vantagem sobre o 1.6 em todos os ciclos, mas com diferença pequena entre os motores. Foram usadas as versões Evolution com cambio automático de seis marchas para a comparação.
Versão | Cidade (gasolina/etanol) | Estrada (gasolina/etanol) |
---|---|---|
HB20 1.6 | 11,5 km/l / 7,8 km/l | 13,9 km/l / 9,8 km/l |
HB20 1.0 TGDI | 11,8 km/l / 8,2 km/l | 14,2 km/l / 10,2 km/l |
Ford Fiesta 1.6 X 1.0 Ecoboost
Pouco lembrado, o Fiesta 1.0 turbo era um carro interessante na linha da Ford enquanto foi oferecido. Esse motor foi premiado no exterior e chegou a equipar até o sedã médio-grande Mondeo na Europa.
Aqui veio apenas em versões mais equipadas do Fiesta, sempre acompanhado da transmissão Powershift e movido apenas a gasolina.
No Programa Brasileiro de Etiquetagem, o Fiesta equipado com o motor turbo ficou a frente de seu irmão com motor 1.6 aspirado e garantiu nota B na categoria, ante a nota C do Fiesta 1.6.
Versão | Cidade (gasolina/etanol) | Estrada (gasolina/etanol) |
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Fiesta 1.6 | 11,2 km/l / 7,8 km/l | 14,9 km/l / 10,3 km/l |
Fiesta 1.0 Ecoboost | 12,2 km/l / – km/l | 15,3 km/l / – km/l |
Conclusão
A justificativa da Fiat não colou.
No teste padronizado, todos os carros comparados com motor turbo obtiveram números de consumo menores. Alguns mais próximos entre os motores como o HB20 e outros com vantagem maior para o motor turbo como o Fiesta e o Golf.
Os motores turbo modernos apresentam o torque máximo em baixas rotações e, por isso, exigem menos aceleração para manter o ritmo do transito e encarar subidas. Na prática esse uso menor do acelerador junto do deslocamento menor resulta em consumo menor – e no teste o mesmo deve se repetir.
Crédito: Eduardo Rodrigues/Auto Papo – @internet 03/05/2021