Dados de pesquisa da agência mostram que aproximadamente 7 em cada 10 empresas no Brasil ainda estão em níveis iniciais no processo de modernização digital
Pesquisa recente da ABDI, em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), mostrou que a transformação digital de micro e pequenos negócios no Brasil está em estágio inicial. Segundo o estudo, a média de maturidade digital das micro e pequenas empresas brasileiras é de 40,77 pontos, em uma escala que varia de 0 a 100 pontos, sendo 0 nada digital e 100 totalmente digital.
“Essa é uma pesquisa que nós realizamos com mais de 2,5 mil empresas no Brasil. É uma pesquisa representativa, do ponto de vista estático, e podemos fazer inferências nacionais a partir dela. Fomos de Norte a Sul do país e entramos em contato com empresas da indústria, do comércio e dos serviços. Portanto, temos um grande quadro de como estamos digitalmente”, explicou.
“Aproximadamente 7 em cada 10 empresas no Brasil ainda estão em níveis iniciais, que já utilizam alguma ferramenta digital, têm seu próprio site, utilizam internet banda larga, mas param por aí. Isso não basta, veja que uma das coisas principais para nós, como país, é conseguirmos aumentar nossa produtividade a longo prazo e adentrar nessa economia digital. Ainda temos um longo caminho para nossas empresas se tornarem competitivas”, completou o presidente da agência.
Investimento em políticas públicas e educação
De acordo com Calvet, para a evolução da digitalização empresarial brasileira, é necessário tanto um investimento em políticas públicas, quanto na educação de micro e pequenos empresários. “A pesquisa nos mostra que há um conhecimento das necessidades das empresas de se incluir ou evoluir, modernizando-se digitalmente. Há, então, um trabalho não só de sensibilização, pois ainda temos muitas empresas que não sabem que devem fazer isso, mas também temos um trabalho de fomento de políticas públicas”, comentou.
A pesquisa revelou que as empresas demonstraram maior maturidade digital na dimensão ‘inovar mais rápido e colaborativamente’, com pontuação média de 47,72 pontos. O foco dessa dimensão é conhecer como as organizações estão encorajando o risco e a inovação aberta para mudar seus produtos, serviços e modelos de negócios e testar ideias. Nesse aspecto, 43,7% das empresas pesquisadas afirmam estar abertas a opiniões e a sugestões para o desenvolvimento de produtos ou serviços, mas apenas 11,6% colaborou com outras empresas e com seus clientes nesse processo.
Cavelt explica que os modelos startups de negócio trazem uma nova dinâmica para essa inovação e ajudam no processo de transformação digital: “As startups partem de um movimento de ‘inovação aberta’. As empresas, em geral, têm seus departamentos de inovação, de novos negócios e querem abrir novas fronteiras de negócios, mas muitas vezes não têm condições dentro de suas próprias corporações para inovar. Aí que entram as startups, já que é preciso um terceiro — uma empresa enxuta, pequena, com uma base tecnológica e uma ideia que precisa de um financiamento inicial para tocar alguma coisa”.
Em compensação, a dimensão “estabelecer novas bases de competição” foi aquela para a qual as empresas demonstraram menor maturidade, com média de 35,2 pontos. Essa dimensão avalia a capacidade das empresas em reposicionarem sua atuação e passarem a competir em mercados que antes não competiam. Nesse ponto, somente 7,3% das empresas informaram que participam de canais de venda onl-ine ou marketplaces.
Novo mercado de trabalho
Na avaliação do presidente da instituição, investir nessa área não só traz lucros para o setor, mas também ajuda no índice de empregos e na renda do país. “Há uma relação com emprego e renda. Há alguns dados com os quais trabalhamos que dizem que empresas que se digitalizam crescem três vezes mais rápido do que as empresas que não entram. Isso significa, no fim do dia, mais negócios e mais renda. Agora, é inegável que esse mundo novo gera mudanças no mercado de trabalho”, pontuou.
Para Cavelt, os jovens que estão entrando no mercado de trabalho precisam se atentar às novas demandas das empresas. “Há mais ou menos dois anos, nós realizamos uma pesquisa com mais de 1,4 mil jovens de todo o Brasil e essa pesquisa falava um pouco sobre o futuro do trabalho. Naquele momento, 80% dos jovens pensavam em profissões tradicionais, como direito, enfermagem e administração de empresas. E o que mais surpreendeu foi que essa era a ideia dos jovens, mas a ideia das empresas, ao contrário, era outros tipos de empregos”, afirmou.
“Então, naquele momento, havia uma dissociação entre o que as empresas queriam e o que os jovens projetavam para seu futuro. Enfim, as empresas precisam cada vez mais de jovens com habilidades, mas não necessariamente com formações. Por isso, começamos a trabalhar com os ministérios da Economia e da Educação na conformação de novas bases para os currículos das instituições federais de ensino. Nós precisamos trabalhar com educação técnica, que ensina rapidamente ofícios aos estudantes, que conseguem fazer essa mudança rápida para o trabalho. Os profissionais novos e mais experientes precisam adquirir novas habilidades”, complementou.
Crédito: Gabriela Bernardes, estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer/ Correio Braziliense – @internet 22/07/2021