Embrapa busca ficar sócia de empresas e vê economia de R$ 320 milhões por ano com novo modelo de gestão
Reestruturação prevê que empresa se associe a grupos privados para vender os produtos que desenvolve, eliminando a dependência do Tesouro; projeto também envolve a criação de um centro de serviços compartilhados e o corte de cargos
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), estatal com papel preponderante no desenvolvimento do agronegócio brasileiro, prepara uma grande reestruturação que deve mudar sua face nos próximos anos. O projeto envolve corte de custos e redução de despesa com pessoal. Paralelamente, entrará em vigor um novo modelo de parceria com o setor privado que pretende tornar a empresa autossustentável, para não ter mais de depender dos recursos do Orçamento federal – sempre submetidos ao humor do governo e do Congresso – para sobreviver.
Segundo o presidente da Embrapa, Celso Moretti, um dos pilares do plano é um novo modelo de negócios: associar-se a empresas privadas que colocarem no mercado os produtos desenvolvidos em seus centros de pesquisa e, dessa forma, obter os recursos necessários para sua operação.
Atualmente, a Embrapa recebe apenas royalties pelos produtos que desenvolve. Mas, tornando-se sócia das empresas, Moretti acredita que poderia arrecadar, num prazo de 5 anos, o suficiente para não depender do governo – em 2020, a operação custou cerca de R$ 350 milhões. “Nós entregamos valor, mas capturamos muito pouco.”
Como exemplo, ele citou a Bioma, que comercializa o BiomaPhos, um bioinsumo produzido a partir de pesquisas da Embrapa. “Eles faturaram aproximadamente R$ 100 milhões e pagaram R$ 4 milhões para a Embrapa. Se fôssemos sócios com 50%, receberíamos R$ 50 milhões. Mesmo tendo 30%, seriam R$ 30 milhões.”
Ele afirma, porém, que a Embrapa continuará cumprindo seu papel social. “Temos orçamento público que financia ações públicas de desenvolvimento, e esses resultados são transferidos sem custos para a sociedade brasileira. Isso vai continuar acontecendo.”
Economia
A Embrapa prevê atingir, em até 12 anos, uma economia de mais de R$ 320 milhões por ano com o Transforma Embrapa. Segundo Celso Moretti, com as mudanças a empresa ficará mais ágil e eficiente. “A empresa poderá gastar mais energia com aquilo que é importante: desenvolver soluções para resolver os problemas do agronegócio brasileiro”, afirma. A reorganização da estrutura da estatal, que vem sendo discutida e implementada há alguns anos, ganhou corpo após um trabalho da consultoria Falconi, iniciado em agosto do ano passado e que deve ser concluído em março.
As primeiras economias vêm do corte de custos na sede da Embrapa. Segundo Moretti, é possível economizar R$ 4 milhões, de um custo total de R$ 15 milhões. Já para o médio prazo, de um a três anos, a economia é de R$ 18,6 milhões e virá do redesenho da organização, principalmente na sede, mas com reflexo nas unidades. Está prevista a criação de um centro de serviços compartilhados, que substituirá áreas administrativas das unidades. “O centro vai gerenciar a operação da empresa em todo o Brasil.”
Segundo Moretti, com o centro será possível eliminar até 35% das funções comissionadas. A empresa cairá de 640 cargos comissionados, que preveem remuneração adicional, para 420. “Mas não existe, nos planos da empresa, demissão de empregados”, afirma.
No longo prazo, a empresa prevê a saída de 840 funcionários por conta do limite de idade de 75 anos para a aposentadoria compulsória no setor público. Isso geraria uma economia de quase R$ 300 milhões a partir do 12.º ano.
Moretti diz, porém, que a Embrapa vai negociar com o Ministério da Economia a possibilidade de outro Plano de Demissão Incentivada (PDI). A perspectiva é de saída de funcionários de apoio, que trabalham em campos experimentais, laboratórios e na administração. “A ideia é avançar com a terceirização, para que foquemos a contratação de pessoas da atividade-fim, que são pesquisadores e analistas.” Atualmente, a Embrapa tem cerca de 8 mil funcionários.
Crítica
Para Pedro de Camargo Neto, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), no entanto, a mudança de modelo na Embrapa pode ser arriscada. “A pesquisa pública, no sentido de pesquisar o necessário para o futuro da agricultura brasileira no longo prazo, não necessariamente é resultado de investimento privado, quer seja do limitado capital nacional em pesquisa, quer seja dos capitais internacionais que nem sempre têm o mesmo objetivo nacional de longo prazo”, disse. Camargo Neto já integrou o conselho da Embrapa – saiu após divergências.
Para o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf), Marcus Vinicius Sidoruk Vidal, a reestruturação proposta no “é mais do mesmo”. “Em 2018, aconteceu outra experimentação semelhante com as mesmas supostas economias, e que só resultou em desorganização institucional.”
Vidal diz que a Embrapa não tem “grandes problemas de gestão”. “O problema da Embrapa é a redução do seu orçamento para pesquisa.”
Crédito: Augusto Decker e Leticia Pakulski, O Estado de S.Paulo – @ disponível na internet 11/02/2022
Embrapa: Em 2020, foi apurado um lucro social de 61,85 bilhões de reais
Apesar da crise mundial, os benefícios econômicos da instituição à sociedade brasileira continuaram a ser muito maiores do que os investimentos nela realizados pelo governo. Em 2020, foi apurado um lucro social de 61,85 bilhões de reais, contra os 46,49 bilhões de reais no ano anterior. Boa parte dessa diferença se deve à alta do dólar. De qualquer forma, o lucro social da Embrapa ocorreu devido aos impactos das 152 soluções tecnológicas relacionadas neste Balanço Social, somadas às 287 soluções tecnológicas que já estão no campo, com adoção consolidada pelos produtores, embora ainda não avaliadas quanto aos seus impactos econômicos, sociais, ambientais e institucionais. Além disso, 2020 foi o ano em que a Embrapa pavimentou novos caminhos, redirecionou sua atuação por meio do lançamento de seu VII Plano Diretor, reavaliou sua programação de pesquisa com a realização do III Workshop Virtual de Gestores de Portfólio e Chefes de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e aprimorou o alinhamento de seu processo de inovação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). No que diz respeito ao consumidor, a Embrapa contribuiu para a formulação de uma nova norma sobre rotulagem nutricional de alimentos, tornando suas informações muito mais transparentes.
Fonte: www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1131469/balanco-social-2020