Um dia depois de os servidores do Banco Central deflagrarem uma greve a partir do dia 1º por tempo indeterminado, categorias do funcionalismo intensificaram movimentos por reajustes nesta terça-feira, 29, prometendo ampliar mobilizações caso o presidente Jair Bolsonaro não conceda aumentos ou não recue de reestruturações prometidas apenas aos policiais.
Os funcionários do Tesouro aprovaram uma paralisação de dois dias para pressionar por reajuste de 19,9%, que, segundo a corporação, repõe a inflação entre 2019 e 2021. A decisão foi tomada em assembleia nesta terça do Sindicato Nacional dos Auditores e Técnicos Federais de Finanças e Controle (Unacon Sindical). Os servidores do Tesouro Nacional paralisarão os trabalhos na sexta-feira, 1º de abril, e na próxima terça-feira, 5. A categoria também deve votar na próxima terça a possibilidade de greve por tempo indeterminado.
Com remuneração anual entre R$ 380,38 mil (auditores da Receita) e R$ 341,1 mil (analista do BC) e salário médio entre R$ 26,2 mil e R$ 29,3 mil, essa elite do funcionalismo puxa a mobilização depois que o presidente Jair Bolsonaro acenou com aumento só para as categorias policiais.
Os auditores fiscais da Receita Federal também reforçaram o movimento grevista. Nesta terça-feira servidores da Receita Federal se manifestaram em frente ao prédio do Ministério da Economia. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o movimento da categoria pode evoluir, mas a paralisação não está pautada neste momento.
Levantamento do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais (Sindifisco), ao qual o Estadão teve acesso, mostra que orçamento da Receita Federal teve redução de 60% nos últimos cinco anos, sem considerar as perdas inflacionárias. A maior parte das perdas ocorreu em 2022. Somente neste ano, o corte foi de 51% se comparado ao orçamento que estava previsto incialmente, de R$ 2,2 bilhões.
Os auditores também pedem a regulamentação da Lei 13.464, de 2017, que trata da gratificação, um bônus de eficiência. Desde dezembro de 2021, os auditores fiscais estão mobilizados. Segundo o sindicato, mais de 5 mil auditores assinaram carta se recusando a aceitar cargos de chefia, além da articulação da operação-padrão (tartaruga) nos postos de fronteira.
No BC, o presidente Roberto Campos Neto se reuniu com os servidores hoje, mas segundo o sindicato da categoria, não houve apresentação de proposta para reajuste ou reestruturação para a carreira. Uma nova reunião do sindicato com Campos Neto deve ocorrer na quinta-feira, 31, para definir se haverá uma paralisação total dos servidores ou um efetivo mínimo trabalhará para manter as atividades da autoridade monetária. Os servidores do órgão querem reajuste de 26,6%.
Policiais
Ante um possível recuo de Bolsonaro em relação ao reajuste das polícias, a categoria também vai se reunir para debater a reestruturação das carreiras e os prazos legais. Está agendada uma assembleia-geral nesta quarta-feira para debater um futuro movimento.
Na segunda-feira, 28, o ministro da Justiça, Anderson Torres, reuniu representantes das polícias para conversar sobre o tema e tentar acalmar os ânimos e, segundo relatos, explicou que Bolsonaro não poderia anunciar o reajuste neste momento em razão da iminência de uma greve geral no Banco Central.
A lei eleitoral estabelece que reajustes na remuneração de servidores públicos para além da recomposição das perdas salariais estão vedados nos seis meses anteriores às eleições. Como o primeiro turno deste ano está marcado para 2 de outubro, o Executivo teria até o próximo sábado para editar uma MP com aumento de salário acima das perdas salariais, como reivindicam os policiais federais.
Crédito:Antonio Temóteo, Adriana Fernandes e Guilherme Pimenta, O Estado de S.Paulo – @dispnível na internet 30/03/2022