O Salário no Inmetro

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Zoroastro e Astrogilda entraram no Inmetro em 2010 para os cargos de Pesquisador e Analista. Ambos recebiam 80 pontos da GQDI até a primeira avaliação de desempenho, que ocorreria em 2011.

Em 2010, Zoroastro tinha somente a graduação e Astrogilda já possuía doutorado, quando entraram no Inmetro. Veja seus salários no início da vida:

Março/2010 (80 pontos GQDI):
Ambos no nível C-I

Zoroastro : R$ 5.964,34
Astrogilda: R$ 7.563,01

Junho/2011 (100 pontos GQDI):
Ambos no nível C-II (uma progressão funcional)

Zoroastro : R$ 6.975,09
Astrogilda: R$ 8.778,03

O tempo passou e estamos em 2022. Zoroastro conseguiu fazer um mestrado, melhorando sua qualificação, e tanto ele quanto Astrogilda atingiram o nível A-III em 2022 (o último da carreira), graças à mudança da regra de promoção trazida pelo Decreto nº 8.285/2014, que possibilitou alguns saltos de níveis. (Se não fosse isso, é importante mencionar que eles estariam, em 2022, passando do nível B-VI para o A-I.)

Ao longo de 12 anos, nossos amigos viram os seguintes aumentos de salário.

Vencimento básico:
Aumentou em:
– jul/2012
– jan/2013
– jan/2014
– jan/2015
– ago/2016
– jan/2017

GQDI:
Aumentou em:
– jul/2012
– jan/2013
– jan/2014
– jan/2015
– ago/2016
– jan/2017

Retribuição por titulação:
Aumentou em:
– ago/2016
– jan/2017

Só que de lá para cá, os preços também subiram. Não só a comida ficou mais cara, mas o aluguel, a escola dos filhos, o plano de saúde, o vestuário, o lazer, a gasolina etc. Zoroastro e Astrogilda têm a sensação de que estão levando a mesma vida de 12 anos atrás e resolvem fazer umas contas para testar essa hipótese. Têm uma brilhante ideia: Vamos atualizar nossos primeiros salários no Inmetro, de 2010 com 80 pontos e o de 2011 (que foi o primeiro salário com 100 pontos) usando o IPCA, para ver quanto eles valeriam hoje? E chegam aos seguintes números:

Março/2010 (80 pontos GQDI):
Nível C-I, 80 pontos (corrigido pelo IPCA)

Zoroastro : R$ 12.436,78
Astrogilda: R$ 15.770,31

Junho/2011 (100 pontos GQDI):
Nível C-II, 100 pontos (corrigido pelo IPCA)

Zoroastro : R$ 13.444,55
Astrogilda: R$ 16.919,73

Eles olham para seus contracheques atuais e pensam: depois de mais de uma década de trabalho, 6 aumentos salariais observados e 15 saltos de níveis, a verdade é que seus salários não mudaram lá muita coisa.

Contracheques (08/2022):
A-III, 100 pontos da GQDI, com mestrado para Zoroastro e doutorado para Astrogilda.

Zoroastro : R$ 15.804,58
Astrogilda: R$ 18.929,03

E nossos amigos ficam pensativos, relembrando as suas conversas do passado: “Quando entramos no Inmetro e a gente olhava o final da tabela salarial parecia que seria muito bom, né? A gente sonhava com o fim da carreira, imaginando a vida que teria… Quanto será que estaria o final da carreira do Inmetro hoje, corrigido pelo IPCA, com os valores vigentes naquela época?” E vão aos cálculos:

Tabela vigente em março/2010 corrigida pelo IPCA até agosto/2022:
A-III, 100 pontos da GQDI, com mestrado para Zoroastro e doutorado para Astrogilda.

Zoroastro : R$ 25.592,77
Astrogilda: R$ 30.966,24

Pesquisador-Tecnologista no Inmetro. Engenheiro Ricardo Ivanov
Químico, MSc. e estudante de Ciências Atuariais e Estatística

“Poxa! Isso representa, hoje, o que eu de fato imaginaria para o fim da minha carreira!”

Eles são tomados pelo desânimo, sentindo que estão presos em uma verdadeira máquina do tempo onde nada muda. Se há algum alento para eles é o fato de saber que a situação deles é similar a de muitos outros servidores públicos no Brasil.

Fonte dos cálculos: www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/publico/exibirFormCorrecaoValores.do?method=exibirFormCorrecaoValores

Referências: Lei nº 11.355/2006

Crédito : Ricardo Ivanov – 16/09/2022

9 COMENTÁRIOS

  1. Dá vontade de chorar! em 2010, a escola do meu filho era R$650,00, em dezembro de 22, já era R$ 3.920,00, nem falo em condomínio, alimentação, combustível. Não precisaria chegar ao valor reajustado, mas um reajuste de menos de mil reais após todo este tempo é surreal. Gostaria de saber o que está sendo feito pela associação. Se tivessemos negociado junto com os demais órgãos, teríamos tido algum reajuste pelo caminho.

    • As datas elencadas para os reajustes correspondem às datas em que houve efeitos financeiros produzidos, seguindo o estabelecido na Lei nº 11.355/2006.

      Aí há uma questão de ponto de vista também. Por exemplo, se eu falasse hoje (em 2022) que o servidor ganhará 40% de aumento dividido em 4 parcelas anuais, alguns podem optar em pensar que “foi em 2022 ele ganhou aumento” (porque a mesa de negociação foi realizada em 2022) e outros podem preferir pensar que os aumentos ocorrerão em 2023, 2024, 2025 e 2026, pois será só nesses anos que ele produzirá efeitos financeiros.

      Mas, de fato, se for computar só as mesas de negociação em que houve decisão por dar algum reajuste, elas foram em menor quantidade que a lista de anos com aumentos que foi citada.

  2. Parabéns Ricardo! Excelente artigo. Precisamos tornar explicito a Sociedade Brasileira a importância dos nossos trabalhos, da nossa expertise e a necessidade de sermos bem remunerados para podermos trabalhar com tranquilidade e segurança.

  3. Essa reportagem é um exemplo claro da omissão e ostracismo dado aos servidores do Nível Médio e Técnico e remanescentes do Fundamental. Fizeram um levantamento ano a ano do Analista e do Pesquisador. Qual a explicação pra não haver os cálculos dos demais níveis? Será feito uma reportagem a parte? Não houve tempo? Não houve espaço? Não há dados? Não há do que reclamar e exigir da carreira intermediária? Pq há uma separação se todos fazem parte da mesma autarquia? Como conseguir maior representatividade e ter certeza que o interesse dos intermediários também está sendo tratado nas inúmeras reuniões em BSB? Há carência de informação e a meu ver se não falarmos de todas as níveis numa reportagem então a reportagem não deveria ser feita, pois cria-se um ar de esquecimento e até mesmo desvalorização.

    • Olá, Atilio!

      Quem escreveu o texto acima fui eu. Ele não é uma reportagem e tampouco tem a intenção de servir de estudo ou análise de dados sobre os salários das diversas carreiras do Inmetro. Trata-se somente de uma narrativa para ilustrar a perda do poder de compra do salário do Inmetro. Eu o enviei a alguns amigos e o Ballerini, ao tomar conhecimento, pediu-me autorização para publicá-lo no site da Asmetro.

      Feito esse necessário esclarecimento, faço alguns comentários sobre algumas das perguntas provocativas do teu comentário (considerando também o outro comentário realizado por ti).

      As carreiras de nível médio do Inmetro estão bem longe do esquecimento. No último concurso, por exemplo, houve 39 vagas para Analista (nível superior) e 19 vagas para Assistente (nível médio), com nenhuma vaga para Pesquisador, por exemplo. Nos concursos anteriores, também foram ofertadas vagas para as carreiras de nível médio, onde recordo o concurso de 2011, com 49 vagas de Analista, 84 de Pesquisador, 10 de Assistente e 79 de Técnico.

      Sobre o aspecto salarial da carreira de nível médio, é importante recordar que no ano de 2013 ela foi contemplada com um significativo aumento e alteração na Gratificação por Qualificação (GQ), alteração essa que foi substancial e não ocorreu, nem de perto, com a retribuição por titulação (RT) das carreiras de nível superior.

      Para fins ilustrativos, vou colocar a situação de um Assistente Executivo C-I e um A-III (início e fim da carreira, respectivamente), usando as mesmas datas da narrativa acima.

      Março/2010:
      GQ (C-I): R$ 167,83
      GQ (A-III): R$ 278,53

      GQ de março/2010 corrigida pelo IPCA acumulado até agosto/2022:
      GQ (C-I): R$ 349,96
      GQ (A-III): R$ 580,79

      Mas, como eu disse, a GQ passou por uma reestruturação e aumento significativo em 2013, passando a ter também três diferentes possíveis valores para cada classe-padrão na carreira. Vamos aos valores vigentes em agosto/2022:

      GQ (C-I): R$ 580,02 | R$ 1.015,02 | R$ 1.776,28
      GQ (A-III): R$ 964,97 | R$ 1.688,70 | R$ 2.955,24

      É patente que, ao menos para a GQ, houve um ganho real substancial nas carreiras de nível médio, quando comparadas aos valores de 2010 corrigidos pelo IPCA, concorda?

      Os valores vigentes da GQ são, inclusive, maiores que as retribuições por titulação (RT) das carreiras de nível superior (Analista e Pesquisador), cujo crédito depende de possuir especialização, mestrado ou doutorado. Veja os valores vigentes em agosto/2022 para a RT de Pesquisador e Analista:

      RT (C-I): R$ 203,96 | R$ 524,65 | R$ 1.314,52
      RT (A-III): R$ 407,72 | R$ 1.048,42 | R$ 2.626,87

      Sinceramente, o argumento de que as carreiras de nível médio estão esquecidas simplesmente não se sustenta.

      Sobre a carreira de nível intermediário, esta foi contemplada, sim, nos citados aumentos do artigo que ocorreram em 2012, 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017, além de ter sido contemplada na reestruturação da gratificação por qualificação (GQ) em 2013. Portanto, não ela também não foi esquecida. Importante lembrar somente que, segundo o Art. 67 da Lei nº 11.355/2006, “os cargos de nível auxiliar integrantes do Plano de Carreiras e Cargos do Inmetro serão extintos quando vagos”.

      Reitero que o artigo não se propôs a ser reportagem ou estudo salarial. O ponto que quis destacar nele é a perda do poder de compra do salário do servidor, e o fato de que o avanço na carreira ao longo dos anos acabou servindo como simples reposição da inflação e não como avanço real salarial, de qualidade de vida e na carreira. E neste aspecto, entendo que todas as carreiras do Inmetro estão no mesmo barco.

      Por fim, uma última reflexão: qual será o horizonte e a esperança futura dos servidores que alcançaram o final da carreira recentemente? Pois, nesses últimos anos, as progressões e promoções que serviram para atenuar a inflação deixarão de existir.

      Abraço a todos!

  4. Vejo várias vezes comentários e reportagens da Asmetro mostrando a luta em prol dos servidores do Inmetro, mas a meu ver há um esquecimento de que a carreira no Inmetro também engloba servidores de Nível Médio, Técnico e remanescentes do Fundamental. Creio eu que esses servidores devam receber o mesmo espaço e atenção nas lutas, pois assim como os cargos de nível superior também compomos a força de trabalho dessa Autarquia.

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