15 de outubro é o Dia do Professor

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“Se eu não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro.” (D. Pedro II)”


Dia do Professor: Tome um café com o tempo Os anseios de uma educadora

Ah! Houve um tempo em que eu creditava que o meu palco sala de aula fosse espaço apenas para encenação de momentos nobres de superação, alegria, afeto, conhecimento.

Ah! Houve um tempo em que eu sabia que, a cada pisada neste palco, tudo se transformava e se harmonizava com a vida que sonhei enquanto esperava me formar.

Ah! Houve um tempo em que eu reinava absoluta, dona de meus saberes e doutora de meus conhecimentos, e nada, exatamente nada, calava meu falar.

Ah! Existiu um tempo em que meu ego de professora não me permitia duvidar do amor de meus alunos por mim. Os alunos idolatravam seus professores e tinham por eles uma admiração profunda.

Ah! Houve um tempo em que pais sabiam seus lugares de leigos e não se metiam em assuntos pedagógicos, faziam apenas o que lhes cabia fazer em casa: educar bem seus filhos.

E o tempo, tão dono de si, atrevido, desobediente, foi tirando as coisas do lugar, e eu, tão dona de mim, me perdi nesse tempo, sem saber pra onde caminhar. Resolvi, então, bater um papo com meu amigo tempo e fui revendo cada momento da minha vida profissional.

O tempo, com sua sabedoria, me ensinou que meu palco de atuação, poderia mudar, se transformar, e o que era pra ser exato poderia ser incógnita, e tudo bem. Se a sala de aula não é mais só minha, nela cabe, por exemplo, o conhecimento que chega na palma da mão do meu aluno. Que mal há nisso? Que eu deveria fazer as pazes com as outras maneiras de adquirir o saber e tá tudo bem se nem sempre ele sair dos meus discursos com as minhas aulas dissertativas.

O doutor tempo me levou a refletir sobre os sonhos. Que ninguém precisa me amar só porque eu tenho um diploma, que afeto não se pede, nem tampouco exige, conquista-se. Que amor é vivência e construção, mas levados pelo respeito, esse, sim, meu aluno precisa ter por mim.

Meu mestre, o tempo, sussurrou bem baixinho em meu ouvido, que quando os pais leigos em pedagogia chegam na escola pra questionar o que não lhes diz respeito, que é para eu aproveitar a presença deles e lhes falar sobre o filho, suas conquistas, suas lutas. Muitos deles nem conhecem bem os filhos.

E nesse bate-papo com o tempo, tomamos um café, espreguiçamos na rede e, em meio a devaneios, o tempo me fez lembrar do quanto eu quis ser professora, do quanto eu guardava em meu peito todo o atrevimento do mundo, quando eu sonhava e acreditava que poderia transformar a sociedade.

O sábio tempo me fez ver que tudo se transformou muito, que os sonhos com o alunos ideal, a família ideal, a escola ideal, o sistema ideal, tudo isso mudou e vai mudar muito mais e que isso é que vale a pena na vida.

Cochichando com o tempo, concordei com ele. Para a profissão que escolhi, as coisas não mudarem é que seria a verdadeira tragédia. Se na educação nada se transformasse, me obrigando a me transformar, a rever minha prática, minhas ideias e convicções sobre as coisas, certamente eu estaria condenada a morrer em vida.

A sala de aula, espaço privilegiado de construir cidadania, não pode ser algo estático, e as mudanças precisam acontecer porque estamos, a todo momento, falando com vidas, para vidas e em construção de vidas. Vidas que passam por nossas mãos e levam um pouco de nós em suas histórias. Vidas que continuarão a existir em outros tempos, pelo simples fato de termos marcado seus corações.

Meu bate-papo com o senhor tempo, com aquele cafezinho bem quentinho, acordou em mim a professora que se formou certa de que ia mudar o mundo. Ele despertou em mim a fúria de quem um dia se atreveu a brigar por seus alunos, de defendê-los com unhas e dentes quando percebesse que o mundo queria lhes dar pouco demais. A jovem professora que se lançou nas ruas, entre tantas causas para defender a educação e o direito dela para todos.

Renasceu em mim aquela menina que sonhava em ser professora. Essa menina ressurgiu na minha conversa com tempo e me fez lembrar do quanto ela ainda precisa lutar pela educação que, como disse seu amigo tempo, muita coisa ainda vai mudar.

Da menina que sonhava em ser professora à professora que sou, ainda tem muito sonho pela estrada, nada se perdeu no tempo. Às vezes, com o tempo, alguns sonhos adormecem com o desânimo de ver tanta desvalorização do professor e um sistema que ainda insiste em ser arcaico, mas, basta tomar um café com o tempo, que ele vai te fazer ter saudades do tempo em que você era mais coragem e sonho do que lamento e decepção.

 

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