O brasileiro que pretende criar ‘MIT da Amazônia’, instituto de tecnologia voltado à floresta
Um dos cientistas mais influentes de sua geração, o meteorologista brasileiro Carlos Nobre se espelha na própria história pessoal para fazer um sonho virar realidade.
“Será uma instituição pan-amazônica, capaz de produzir ciência de ponta no padrão dos melhores centros do mundo”, antevê.
Nobre aponta que “não há nenhum país tropical que desenvolveu a bioeconomia baseada em recursos naturais, biodiversidade e florestas” e que essa pode ser uma grande oportunidade para o Brasil.
O cientista projeta que o instituto terá recursos públicos e privados e pode virar realidade nos próximos dois ou três anos.
Os eixos fundamentais
A premissa principal do instituto é a de que “o conhecimento da Amazônia deve ser fundamentado na ciência e na tecnologia direcionadas à inovação para garantir a inclusão socioeconômica no desenvolvimento da própria região”.
Em outras palavras, a ideia é fazer pesquisas científicas para desenvolver tecnologias, descobrir potenciais usos dos recursos naturais da floresta de modo sustentável e gerar riquezas para as próprias pessoas que vivem lá.
Usando como exemplo o próprio ITA, o pesquisador lembra que, graças às pesquisas feitas no local, o Brasil desenvolveu a terceira maior companhia de aviação do mundo: a Embraer.
Além de Nobre, fazem parte do projeto do AmIT os cientistas Maritta Koch-Weser, presidente da ONG Earth3000 e Adalberto Val, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
O meteorologista destaca que o AmIT terá cinco eixos principais.
“Nós desenhamos grandes unidades de pesquisa e desenvolvimento local para guiar a lógica de formação dos alunos”, explica.
“Vamos trabalhar com florestas, paisagens alteradas ou degradadas e como restaurá-las, infraestrutura sustentável de transporte e energia, biodiversidade e manejo da água”, conta.
Segundo o pesquisador, o grande objetivo é aliar “a ciência indígena de milhares de anos, com a ciência contemporânea, de forma harmoniosa e operativa”.
Desafios para o Brasil e para o mundo
Nobre, que está participando da Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP27), que acontece em Sharm El Sheik, no Egito, também acredita que o Brasil pode (e deve) assumir o papel de liderança global nas políticas ambientais.
“Nosso país pode ser a primeira grande economia a zerar suas emissões de carbono”, pontua.
O cientista aponta que isso representa um enorme ganho para a economia — a manutenção da floresta é fundamental para o regime de chuvas que irriga e sustenta as plantações espalhadas pelo resto do país, por exemplo.
Ele ainda reforça a necessidade de que o mundo atinja as metas estabelecidas em 2015 no Acordo de Paris, de preferência com o limite de aumento de 1,5°C na temperatura do planeta em comparação com a era pré-industrial.
Por fim, Nobre vê com boas perspectivas a eleição de Lula e o início do novo governo sob o ponto de vista do meio ambiente.
“Há uma experiência no passado em que vimos a queda no desmatamento e na degradação ambiental, a melhora da qualidade de vida da população brasileira e especificamente da Amazônia, a criação de várias unidades de conservação e demarcação de territórios indígenas”, lista.
“As eleições de 2022 foram a última chance de manter a Amazônia e de combater o crime organizado na região, que sempre existiu, mas se sentiu empoderado nos últimos anos”, diz.
“Me parece que a política do novo governo vai toda na direção do desmatamento zero e existe, claro, uma pressão internacional para que se obtenha sucesso.”
“Nós temos quatro anos para acabar com o desmatamento, a degradação e a ilegalidade na Amazônia”, completa.
Crédito: André Biernath / enviado a Sharm El Sheik (Egito) pela BBC News Brasil – @ disponível na internet 21/11/2022
UM PROJETO AMBICIOSO E INOVADOR PARA UMA AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL
No início de 2020, começou a emergir um entendimento coletivo sobre a importância da criação de um instituto Pan-Amazônico, inspirado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), com a premissa de que o conhecimento da Amazônia deve ser fundamentado na ciência e na tecnologia direcionadas à inovação para garantir a inclusão socioeconômica no desenvolvimento da própria região, observando os preceitos fundamentais da conservação ambiental.
A ideia foi concebida pelo Prof. Carlos Nobre, cientista da Universidade de São Paulo (USP), em conjunto com a Prof. Maritta Koch-Weser, presidente da ONG Earth3000, que mais tarde convidaram o Prof. Adalberto Val, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), os quais estiveram diretamente envolvidos com as iniciativas que resultaram na presente proposta do AmIT, aqui inicialmente formulada no que se refere a sua visão, sua missão, seus objetivos, seus componentes, sua viabilidade e sua governança. Para a elaboração desta pré-proposta foi constituída uma equipe multidisciplinar em Manaus que tem mantido diálogo com colegas de diversas instituições da região e do MIT.
O AmIT se propõe a buscar soluções criativas, envolvendo um olhar holístico e transdisciplinar, para os problemas estruturais que resultem no desenvolvimento sustentável da região. Isto posto, as metas e propostas elaboradas pelo AmIT vão ao encontro das discussões atuais entre os países detentores das florestas e os doadores de recursos no contexto das agendas globais como a COP-26.
Fonte: https://amit.institute/sobre 21/11/2022