Fim da linha para o trabalho de pijama? Número de anúncios de vagas em home office para de crescer
Números mostram que proporção fica em torno de 10% do total de vagas; setor de tecnologia é o que mais utiliza modalidade.
Antes restrito a poucas profissões, o trabalho em home office se popularizou na pandemia – e muita gente descobriu as alegrias de não gastar tempo no trânsito e passar o dia de pijama.
Mas levantamentos realizados em anúncios de empregos no país mostram que o oferecimento de vagas na modalidade praticamente se estabilizou nos últimos meses.
À medida que as restrições sanitárias foram sendo flexibilizadas, muitas empresas que haviam colocado os funcionários para trabalhar à distância voltaram para o trabalho presencial ou híbrido – revezamento entre as duas modalidades na mesma semana.
O que os levantamentos confirmam é que o setor de tecnologia tem a maior adesão ao home office. Isso porque a própria atividade possibilita que o profissional possa trabalhar de casa e também é uma forma de atrair profissionais em meio à dificuldade de contratação de mão de obra especializada.
Estudo feito de 1º de outubro a 8 de novembro pela Cortex, empresa de inteligência de vendas B2B, mostrou que, das mais de 429 mil oportunidades abertas, mapeadas nos 15 principais portais de vagas do país, somente 39,3 mil citam o home office na descrição, o que corresponde a 9,16% do total.
Este é o terceiro levantamento realizado pela empresa neste ano. O primeiro, feito em julho, apontou que 8,4% das vagas eram para trabalho remoto. Já o segundo, realizado em setembro, mostrou que 8,6% das vagas citavam o home office na descrição.
O levantamento mostrou ainda que os setores de Serviços (4.569) e Tecnologia da Informação (3.686) são os que tiveram maior número de vagas no modelo remoto, somando 8.255 oportunidades. Em seguida, estão os setores de Varejo, com 1.745; Financeiro, com 893; e Indústria, com 643.
Já em relação às cidades com mais empresas abertas à possibilidade de oferecer vagas de trabalho à distância, São Paulo (2.411), Rio de Janeiro (533), Belo Horizonte (356), Curitiba (344), Porto Alegre (253), Florianópolis (240), Brasília (235), Barueri (177) e Campinas (145) são as que lideram a lista.
Sobre o porte das empresas com vagas abertas para home office, o levantamento apontou que 55% são micro, 19% grande, 17% pequeno e 9% médio.
Sobre o faturamento anual, os destaques são para as faixas de R$ 81 mil a R$ 360 mil, que concentram 32% das empresas com vagas remotas abertas; R$ 0 a R$ 81 mil, com 23%; e a faixa que vai de R$ 30 milhões a R$ 100 milhões, com 8%.
“Diversas pesquisas apontam o home office como o modelo de trabalho preferido entre muitos colaboradores, e ele possibilita a busca por profissionais especializados por todo o país. Porém, algumas empresas podem não se sentir seguras em garantir esse modelo como formato definitivo de trabalho, por isso, muitas ainda optam por não colocar isso na descrição das vagas”, ressalta Carolina Ballerini, gerente de People na Cortex.
Crescimento passou de 500% em 2020
Outro levantamento, feito pela Gupy, mostra que do total de vagas publicadas na plataforma de recrutamento e seleção atualmente, 10,36% são remotas. Em 2021, eram 10,45% no mesmo período.
Segundo a empresa, em 2020, houve um crescimento nas vagas com trabalho remoto de 504,62%. O avanço continuou em 2021, com aumento de 366,39%. Já neste ano, a alta é de apenas 5,93%.
Veja abaixo a proporção de vagas remotas abertas dentro do total ano a ano:
- 2022: 10,36%
- 2021: 10,45%
- 2020: 6,34%
- 2019: 2,87%
O estudo da Gupy foi feito em uma base de 70 mil vagas publicadas por mais de 3.000 empresas.
Tecnologia da informação
A pesquisa da Gupy mostra ainda que o setor de tecnologia da informação está isolado na liderança de representatividade de vagas remotas dentro das vagas totais publicadas na plataforma de empregos.
Além da alta representatividade, os dados indicam crescimento acelerado da cultura remota no setor. Em 2019, apenas 3% das vagas publicadas eram declaradas como remotas. O cenário mudou drasticamente com a pandemia e acelerou o aumento, marcando 24% em 2020.
Em 2021, mais da metade das vagas publicadas no setor de tecnologia foram remotas – 58% das oportunidades gerais. O crescimento segue acelerado, com potencial de chegar em até 3/4 das posições no segmento em 2022, informa a Gupy.
O segundo setor com maior presença e crescimento da cultura remota é o financeiro – em 2019, ele estava empatado com tecnologia, com 3% de representatividade, mas, no ano seguinte, o ramo financeiro subiu apenas 5 pontos percentuais, atingindo 8% de representatividade.
Os setores de telecomunicações, indústria e saúde tiveram uma leve queda na representatividade de vagas operacionais, diminuindo alguns pontos percentuais entre os anos de 2020 e 2021.
Pico foi em maio de 2021, mostra LinkedIn
Já um balanço feito pelo LinkedIn mostra que o mês de pico de vagas com trabalho remoto no Brasil foi em maio de 2021, com 47,74% do total. Desde então, há uma tendência de queda e, em setembro deste ano, a proporção é de 29,55%.
Além disso, o levantamento mostra que as funções remotas estão em declínio globalmente após análise de postagens de empregos no LinkedIn. Nos EUA, por exemplo, antes da pandemia, apenas 2% dos empregos no LinkedIn eram listados como remotos. Esse número atingiu quase 20% em abril de 2022 e agora voltou para 15%.
“Isso reflete uma tendência que estamos vendo em países ao redor do mundo e é um provável sinal de que o trabalho remoto já atingiu o seu pico e agora os empregadores desejam ver os funcionários de volta ao escritório”, informa o LinkedIn.
O estudo foi feito com mais de 2.900 executivos C-Level de grandes organizações em todo o mundo, sendo 250 do Brasil.
Os dados de empregos da plataforma destacam ainda uma crescente desconexão entre o que os profissionais desejam e o que as empresas estão oferecendo atualmente, visto que o controle está voltando para os empregadores à medida que as contratações diminuem.
Em setembro, somente o Brasil tinha praticamente a mesma proporção de vagas remotas abertas e candidaturas. Já os EUA têm a maior desproporção. Veja no quadro abaixo:
Número de vagas remotas e candidaturas em vários países — Foto: Reprodução/LinkedIn
De acordo com a pesquisa, os principais benefícios que os funcionários valorizam, além da remuneração, são trabalho flexível, desenvolvimento de habilidades e equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
Neste sentido, os profissionais estão se recusando a retornar às antigas formas de trabalho. Por isso, em muitos países, as aplicações para funções remotas superam amplamente a oferta, como mostra a tabela acima.
Segundo Milton Beck, diretor geral do LinkedIn para a América Latina, as empresas não devem voltar atrás das suas decisões.
“Os líderes que recuarem em relação ao trabalho flexível ou que que cortarem investimentos no desenvolvimento profissional de seus times correm o risco de desmotivar sua força de trabalho e dar margem para que esses profissionais busquem oportunidades mais atraentes. Tradicionalmente, a flexibilidade e o foco no desenvolvimento de habilidades são os primeiros a desaparecer em tempos de crise, mas são importantes para construir negócios diversificados e resilientes que possam se adaptar a um Brasil em constante mudança”, afirma.
Crédito: Marta Cavallini / Portal do G1 – @ disponível na internet 22/11/2022