A posse do novo Congresso, nesta quarta-feira (01/02), foi marcada pela eleição que reconduziu os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), respectivamente, para o comando das duas Casas.
A eleição de Lira já era esperada. Principal fiador de Jair Bolsonaro durante os últimos anos do mandato, sobretudo por meio do orçamento secreto, o parlamentar conseguiu o apoio de partidos que vão desde o PL de Bolsonaro ao PT de Luiz Inácio Lula da Silva para se reeleger, com um recorde histórico de votos.
Pacheco, por sua vez, teve a reeleição ameaçada pela candidatura do bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN). O mineiro precisou contar com a articulação de Lula para garantir a vitória.
Em entrevista à DW Brasil, o analista político Thomas Traumann afirma que os resultados desta quarta-feira mostram um Lira muito mais forte que nos mandatos anteriores, mesmo com a restrição do orçamento secreto.
“A habilidade de Lira é muito maior do que a gente imaginava […] Ele está muito mais poderoso do que estava antes”, afirma o professor da FGV e ex-ministro da Comunicação durante os governos de Dilma Rousseff (PT). Segundo ele, isso poderá resultar em mudanças no primeiro escalão do governo, com o presidente da Câmara tendo acesso a mais cargos do que teve até agora.
Já sobre o Senado, Traumann vê um Pacheco atrelado diretamente ao Executivo, sem agenda que não a própria defesa do governo Lula. “Menos de um mês depois do 8 de Janeiro, o bolsonarismo conseguiu fazer 32 votos. É muito”, destaca o analista.
DW Brasil: Em que sentido a reeleição de Rodrigo Pacheco e Arthur Lira são uma vitória para Lula e uma derrota para o bolsonarismo?
Thomas Traumann: Acho que são duas coisas distintas. Vamos começar com o Senado. Lá, houve uma vitória de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na eleição para a presidência, que é uma vitória de Lula, porque, se não fosse Lula, Pacheco não teria sido reeleito.
Ou seja, essa vitória de Pacheco significa que Lula tem 49 votos do Senado. É importante, para quem for fazer a avaliação do Congresso, que Lula agora tem esse número, que é a margem para aprovar Propostas de Emenda à Constituição (PEC) na Casa.
No entanto, o bolsonarismo conseguiu se articular a ponto de conseguir 32 votos. Estou surpreso que, menos de um mês depois do 8 de Janeiro, o bolsonarismo conseguir fazer 32 votos. É muito. Isso é uma coisa.
Já na Câmara, o que a gente viu foi uma vitória de Arthur Lira (PP-AL). Na primeira eleição dele à presidência da Casa, ele teve 302 votos. Agora, foram 464 votos, um crescimento absurdo. Então, a questão é a seguinte: se formos ver qual é a média, qual é o tamanho da bancada de Lula na Câmara, os analistas falariam algo em torno de 270 votos. O que significa que, com a eleição de ontem [quarta-feira], Lira tem 200 votos a mais que a bancada do governo.
Resumindo de forma geral o que aconteceu nessa quarta-feira: Lula garantiu a maioria no Senado, e o presidente do Senado deve a eleição dele a Lula. Agora, Arthur Lira está muito mais poderoso do que estava antes, e qualquer coisa que o governo quiser fazer vai ter que ser negociado com o presidente da Câmara.
Ou seja, isso vai contra a percepção de que, com o orçamento secreto, ele não teria mais tanto poder?
Ele fez uma aliança absurda, que foi do PL (partido de Bolsonaro) ao PT. Juntou todo mundo. Conseguiu arrumar cargos para todos. A habilidade de Lira é muito maior do que a gente imaginava.
Quais as diferenças e semelhanças entre Pacheco e Lira?
Eu não sei se ideológico, mas eles não fizeram uma dupla durante a gestão Bolsonaro. Muita coisa Lira aprovava e Pacheco segurava. Isso aconteceu muitas vezes. Não acho que vá mudar muito. Eles têm agendas distintas, não vejo os dois como “best friends”.
Lira tem algumas coisas que já vimos que ele quer. Ele quer fazer a reforma tributária, e ela passa ser a grande vitoriosa dessa eleição no Congresso. Lira quer e tem poder para fazer; o governo tem a maioria suficiente para passar a reforma.
Já Pacheco ficou sem agenda, a agenda dele é do governo. A agenda dele vai ser, na prática, defender os interesses do governo, que o elegeu.
Podemos prever possíveis pontos de conflito, arestas, entre Lira e o governo?
Tem, por exemplo, Renan Calheiros (MDB-AL) [adversário político de Arthur Lira em Alagoas], que é uma aresta gigante. Tem Renan Filho [do MDB, ministro dos Transportes de Lula]. Além disso, Renan apoiou Lula desde o início. Há uma disputa regional aí.
Acho que, no fundo, uma das consequências desse resultado de quarta-feira é uma reforma no ministério, que deve acontecer daqui a pouco. Claramente, o União Brasil não entregou os votos que prometeu para a eleição [o partido comanda atualmente três ministérios no governo Lula: Turismo, Comunicações e Integração e Desenvolvimento Regional] .
Qual o tamanho dela, vamos ter que olhar, se interessa ao governo trazer Lira mais para dentro do governo. Senão, vai ter que negociar caso a caso. Lá atrás, Lira queria o Ministério da Integração. Agora, não sei qual é mais o cargo pretendido, o que acho é que Lira ficou muito mais importante, e vamos ver isso na prática. Mas, para o governo, não sei qual é o preço disso.
Provavelmente Lula vai resolver abrindo espaço para todo mundo, como ele faz, uma “Arca de Noé”.
Por fim, como fica agora a questão de Bolsonaro, levando em consideração a votação expressiva de Rogério Marinho (PL-RN) na eleição para a presidência do Senado?
Ficou complicada a situação de Bolsonaro, com a denúncia do senador Marcos do Val (Podemos-ES). Acho que a coisa toda caminha para Bolsonaro ficar totalmente inelegível. Aí, veremos uma coisa interessante, que é para onde irão essas pessoas que o apoiam. Não acho que isso vai transformá-lo em um mártir, por exemplo.
Sobre Marinho, eu acreditava que, depois do 8 de Janeiro, o bolsonarismo estaria muito mais low-profile do que está. Estou até surpreso com eles terem se organizado tão rápido. Tenho que admitir que achava que eles não teriam a coragem de indicar um candidato para o Senado. A votação foi expressiva.
É o anti-Supremo. O que une todas essas figuras é Bolsonaro, mas também é a agenda anti-STF.
Crédito: Thomas Traumann/ Deutsche Welle – @ disponível na internet 03/02/2023
Esquece o entrevistado que o presidente tem cinquenta anos de política , conversas,acordos, com milhares de pessoas ,com todo tipo de discordâncias . Esquece que a vitória de Pacheco e de Lira nada mais foram que o terceiro e o quarto turno das eleições. O bolsonarismo , aqueles 23%, ainda está firme mas tem conhecimento do ocaso, e do que o espera. Os anti PT, ex apoiadores do ex governo precisam de tempo para saberem e se conscientizaram do papel feio que fizeram e do atraso que trouxeram estabilidade política do país. Falta apenas , a reforma tributária para colocar os apostadores do caos, nos seus devidos lugares, com suas rendas, ganhos e lucros controlados e o bico calado. Serão quatro anos de reconstrução, e já sabemos que o resultado virá, pois tudo estará nas escrituras e nos autos…..