Falar” e “dizer” são palavras de certa semelhança, mas não são sinônimas. “Falar” é um verbo e significa expressar alguma coisa por intermédio de palavras, já “dizer”, também verbo, tem vários significados de acordo com a sua transitividade verbal, isto é, sua relação com demais complementos, mas sempre está ligado à ideia de informar algo que tenha sentido e lógica, como declarar ou afirmar.
Podemos nos expressar economizando palavras por meio de outras representações, como gestos, imagens e melodias, dizer o que se tem em mente sem falar, daí o “corpo falar por meio de comportamentos, atitudes e aparências”.
Falar e não dizer nada, coisas irrelevantes, não significa a emissão de ideias, proposições, informações corretas ou pertinentes, e sim a divulgação de palavras desconexas da realidade ou falas desprovidas de argumentações.
O título nos remete a uma expressão popular que significa “falou tudo, está com a razão”, “mandou o recado” ou “mandou bem”, dando um aviso, se comprometendo com o discurso direto, claro, preciso e verdadeiro.
Pois bem, em continuidade e justificando o título resumidamente, vimos neste ano o presidente na Cúpula Internacional do Novo Pacto de Financiamento Global, em Paris, diante de líderes de vários países destacando as prioridades do Brasil na área ambiental, um puxão de orelha quanto ao acordo entre a União Europeia e o Mercosul, resultando em uma carta adicional reprovando pactos com punições.
Fez um convite para a participação futura dos presentes na COP 25 no Pará, mencionou a ideia de uma moeda comercial entre países livres da dominação do dólar e a apresentação da Amazônia para que conheçam.
Vimos também em extensão sua participação a convite da banda Coldplay, no Power Our Planet, um evento “massa” com artistas mundiais em um festival que se preocupa com futuro do planeta.
Comunicou que junto da atual questão climática seria necessário que todos se atentassem à desigualdade mundial, sendo incongruente que em uma reunião entre presidentes de países importantes a palavra desigualdade não fosse lembrada, como a salarial, a de raça, de gênero, na educação, e na saúde…
Frisou que a ONU havia reconhecido a saída do mapa da fome em seus mandatos, tirando 36 milhões de pessoas da miséria absoluta e com 40 milhões de pessoas mais pobres alcançassem maior poder de compra. Ao mesmo tempo, criticou o Conselho Nacional de
Segurança da ONU, que não mais representa os anseios dos países sobre uma nova ordem da política mundial, e a necessidade de maior e moderna representatividade.
O presidente colocou o dedo na ferida em questões de interesse mundial relativas ao Banco Mundial e FMI, citou que tais organismos precisavam investir em elementos estruturantes que permitissem mudar a vida dos países e citou que 900 milhões de seres humanos passam o dia com fome, resultado das desigualdades, da incompreensão social e dos pequenos investimentos no varejo.
Ainda alertou sobre a volta do protecionismo, uma vez que em uma reunião do G20 já se discutia sobre como evitar o favoritismo ao não se destinar investimentos para os países em desenvolvimento, e que na falta de ações concretas a pobreza passou a crescer no mundo.
Estranho que nos acostumamos durante seis anos com “muita fala e pouca dita”, ou disse me disse, as famosas narrativas e os desmentidos frequentes, com os discursos recheados de fanfarronice, quando nada tinham a acrescentar, pois eram ilógicos, sem sentido, polêmicos ou duvidosos.
E por isso mesmo ainda existem para testar nosso filtro cognitivo, comunicadores, jornalistas, âncoras e cronistas das antigas chapas brancas, renitentes com a nova forma de comunicação verbal e lógica que estamos ouvindo e que tentam interpretar nas entrelinhas algo que não foi externado, complementando a informação com suas culturas deformadas.
Essa gente estava acostumada com a fala das abobrinhas, muito palavreado e pouca consistência, e para se manterem na superfície da onda replicam as baboseiras já batidas, notícias manjadas, como os gastos governamentais com viagens, sofás, recepção de presidentes “ditadores”, as críticas sobre os juros altos.
A última reprovação significativa foi a fala sobre “relatividade da democracia”, ou seja, a democracia deveria ser única, não depender de referencial, mesmo que se diga com propriedade que países ditos democráticos empregam ações antidemocráticas como detenções, torturas e prisões sem julgamento e desequilíbrios socioeconômicos.
Crédito: Luiz Feranando Mirault Pinto / Correio do Estado – @ disponível na internet 10/08/2023