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Veja golpes mais comuns contra servidores e como se proteger deles
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As armas psicológicas que os golpistas usam, e como se proteger delas
Veja golpes mais comuns contra servidores e como se proteger deles
No mundo cada vez mais digital em que vivemos, os servidores públicos enfrentam uma crescente ameaça: os golpes online.
Essas fraudes podem variar desde esquemas de engenharia social, onde e-mails falsos solicitam informações pessoais, até ataques de vírus que bloqueiam o acesso aos arquivos do computador.
Além disso, há também as fraudes de suporte técnico, onde os golpistas se passam por técnicos de empresas de tecnologia para obter acesso remoto aos sistemas dos servidores.
A falta de conhecimento sobre esses golpes e a boa fé dos servidores muitas vezes os tornam alvos fáceis.
E é por isso que o EXTRA consultou especialistas para tratar da conscientização e da educação sobre segurança contra tentativas criminosas.
Os estatutários devem aprender a reconhecer os sinais de um possível golpe, como solicitações de informações pessoais em e-mails não solicitados ou ofertas de investimento que parecem ser boas demais para ser verdade.
Outro golpe comum é a “compra de precatórios”, em que bandidos tentam se aproveitar de decisões judiciais favoráveis aos funcionários públicos para obter vantagens financeiras.
Além disso, é importante que os servidores adotem medidas proativas para proteger seus dados. Isso inclui manter os softwares de antivírus atualizado, fazer backups regulares dos arquivos importantes e nunca compartilhar informações confidenciais com fontes não verificadas.
Em caso de suspeita de fraude, os servidores devem relatar o incidente imediatamente às autoridades competentes e buscar orientação junto aos sindicatos, indica Rodrigo Lelis, presidente da Associação de Servidores do Estado do Rio. Essas organizações podem oferecer suporte e encaminhamento para as medidas adequadas a serem tomadas, como o registro de ocorrência policial ou a denúncia aos órgãos de proteção ao consumidor.
– Depois, é preciso ir até o banco comunicar que a movimentação nos valores foi feita por criminosos. Os bancos têm responsabilidade pela utilização indevida do seu nome para fins de práticas criminosas.
Fraude do empréstimo fantasma é muito comum
O advogado Roberto Marinho, especialista em administração pública e diretor jurídico do Sindicato dos Trabalhadores Federais em Saúde e Previdência, explica que é muito comum a realização de empréstimos fantasmas no nome dos servidores, que só descobrem quando o valor já passou a ser debitado no contracheque.
– Tem muito bandido que liga para o servidor e diz que, para ele receber uma quantia que lhe é devida, ele deve fornecer informações pessoais, como senhas, documentos de identificação etc. Então, em posse desses dados, eles correm para bancos e fazem dívidas altíssimas.
Como são estatutários e podem ter descontos direto na folha de pagamento, bancos concedem consignações em valores mais elevados. Pensando nisso, bandidos fazem de tudo para obter informações pessoais dos agentes públicos e, assim, abrir dívidas bancárias.
Aposentados precisam ter atenção redobrada
Normalmente, as pessoas que mais caem nos golpes são os servidores aposentados, afirma Chyntia Pena, advogada especialista em administração pública. O motivo, segundo ela, é que agentes públicos em atividade, por conviverem no dia a dia com outros colegas, ficam mais alertas. Já os aposentados estão mais vulneráveis devido o isolamento. Além disso, como na maioria das vezes a aposentadoria é menor do que o salário de quando estava na ativa, esses estatutários se inclinam a acreditar nas falácias.
– Criminosos ligam, se passando por representantes dos sindicatos, e dizem que o aposentado tem uma quantia a receber do Estado. Então, eles pedem dinheiro para que seja dado ‘prosseguimento’ ao processo.
O aconselhável é que essas pessoas fiquem alertas ao receberem comunicações de empresas que não foram contratadas por elas, como escritórios de advocacia ou mesmo sindicatos dos quais não fazem parte.
Crédito: Gustavo Silva / EXTRA – @ disponível na Internet 04/02/2024
As armas psicológicas que os golpistas usam, e como se proteger delas
Não passa um dia sem que haja uma notícia sobre uma vítima sendo enganada e perdendo dinheiro. Somos constantemente alertados sobre novos golpes e sobre como nos mantermos seguros contra os criminosos cibernéticos. Sites como o Scamwatch também informam como identificar golpes.
Então, por que as pessoas ainda estão sendo enganadas, e às vezes de forma dramática?
Os golpistas usam técnicas psicológicas sofisticadas. Eles exploram nossas vulnerabilidades humanas mais profundas e ignoram o pensamento racional para explorar nossas respostas emocionais.
Essa “guerra psicológica” coage as vítimas a tomar decisões impulsivas. Às vezes, os golpistas espalham seus métodos entre muitas vítimas em potencial para ver quem é vulnerável. Outras vezes, os criminosos se concentram em uma pessoa específica.
Os golpistas começam com pequenas solicitações para estabelecer um sentimento de compromisso. Depois de concordar com esses pequenos pedidos, é mais provável que atendamos a demandas maiores, motivados por um desejo de agir de forma consistente.
A chamada não virá de um número da sua agenda ou de um número que você reconheça, mas o golpista pode fingir ser alguém que você contratou para trabalhar em sua casa, ou talvez um de seus filhos usando o telefone de um amigo para ligar para você.
Se for um golpista, talvez mantê-lo ao telefone por muito tempo dê a ele a oportunidade de descobrir coisas sobre você ou sobre as pessoas que você conhece. Ele pode usar essas informações imediatamente ou em uma data posterior.
2. Criar um senso de urgência
Os golpistas fabricam cenários que exigem ação imediata, como alegar que uma conta bancária está em risco ou que uma oferta está prestes a expirar.
Essa tática visa impedir que as vítimas avaliem a situação de forma lógica ou busquem aconselhamento, pressionando-as a tomar decisões precipitadas.
O golpista cria uma situação artificial na qual você se sente amedrontado e levado a fazer algo que normalmente não faria.
Chamadas de golpes alegando ser da Receita Federal são um exemplo. Você tem uma dívida a pagar (aparentemente) e as coisas ficarão ruins se você não pagar agora mesmo.
Os golpistas se aproveitam das emoções para provocar reações que ofuscam o julgamento. Eles podem ameaçar com problemas na Justiça para colocar medo, prometer altos retornos de investimento para explorar a ganância ou compartilhar histórias angustiantes — mas falsas — para obter simpatia e bens financeiros.
3. Construindo relacionamento
Por meio de conversas prolongadas, os golpistas criam um compromisso psicológico com seu esquema. Ninguém vai muito longe simplesmente exigindo sua senha, mas é natural ser amigável com pessoas que são amigáveis conosco.
Depois de ficar na linha por longos períodos, a vítima também fica cognitivamente cansada. Isso não apenas torna a vítima mais aberta a sugestões, mas também a isola de amigos ou familiares que poderiam reconhecer e combater o golpe.
4. Ajude-me a ajudar você
Mais tarde, ele lhe pede algo que você normalmente não faria, e você o faz por causa da “dívida social”: ele o ajudou primeiro.
Por exemplo, um hacker pode atacar uma rede corporativa, causando lentidão.
Em seguida, ele liga para você, fingindo ser da sua empresa, talvez como um recém-contratado que ainda não está na lista de contatos. Eles o “ajudam” desativando o ataque, deixando-o devidamente agradecido.
Talvez uma semana depois, eles ligam novamente e pedem informações confidenciais, como a senha do presidente da empresa. Você sabe que a política da empresa é não divulgá-la, mas o golpista perguntará se você se lembra dela (é claro que você se lembra) e apresentará uma desculpa para explicar por que ele realmente precisa dessa senha.
O saldo da dívida social diz que você os ajudará.
5. Apelo à autoridade
Ao se passarem por gerentes, funcionários de agências governamentais, bancos ou outros órgãos com autoridade, os golpistas exploram nossa tendência natural de obedecer à autoridade.
Esses golpes operam em vários níveis de sofisticação. A versão simples: seu gerente de banco lhe envia uma mensagem com uma solicitação urgente para que você compre alguns cartões-presente e os envie por meio de seus números.
A versão complexa: seu gerente liga e pede para transferir com urgência uma grande quantia de dinheiro para uma conta que você não reconhece. Você faz isso porque soa exatamente como seu gerente ao telefone – mas o golpista está usando um deepfake de voz. Em um grande caso recente em Hong Kong, esse tipo de golpe envolveu até mesmo uma chamada de vídeo deepfake.
Isso é profundamente desafiador porque as ferramentas de inteligência artificial, como o VALL-E da Microsoft, podem criar um deepfake de voz usando apenas três segundos de amostra de áudio de uma pessoa real.
Como você pode se defender de um golpe?
Em primeiro lugar, verifique a identidade. Encontre outra maneira de entrar em contato com a pessoa para verificar quem ela é. Por exemplo, você pode ligar para um número genérico da empresa e pedir para entrar em contato.
Em face das falsificações de voz desenfreadas, pode ser útil combinar uma “palavra-senha” com seus familiares. Se ligarem de um número não reconhecido e você não ouvir a palavra de segurança, desligue.
Cuidado com as táticas de pressão. Se a conversa estiver indo muito rápido, lembre-se de que o problema de outra pessoa não é seu para resolver. Pare e passe o problema para um colega ou membro da família para verificar o caso.
Uma empresa ou banco legítimo não verá nenhum problema se você fizer isso.
Por fim, se você não tiver certeza nem mesmo dos mínimos detalhes, o mais simples é desligar ou não responder. Se você realmente tiver uma dívida tributária, a Receita Federal entrará em contato com você.
*Mike Johnstone é pesquisador em assuntos de segurança e professor associado na área de sistemas resilientes na Edith Cowan University. (Declaração de transparência: Mike Johnstone recebe financiamento da União Europeia para um projeto de autenticação e autorização, e do governo da Austrália para um projeto de identificação forense de deep fakes)
Geórgia Psaroulis é pesquisadora de pós-doutorado na Edith Cowan University
**Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original.
Crédito: Mike Johnstone & Georgia Psaroulis / The Conversation Brasil na BBC News Brasil – @ disponível na internet 04/03/2024