Se a empresa é uma “firma organizada”, por que existem tantas firmas desorganizadas?

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@ reprodução linkedin

Introdução

Apesar das estruturas organizacionais estabelecidas, muitas firmas parecem enfrentar desafios significativos na coordenação eficiente de suas atividades. A desorganização dentro das empresas pode ser atribuída a uma série de fatores interligados, que vão desde desafios na coordenação interna, limitações na racionalidade dos tomadores de decisão, adaptação à incertezas do ambiente onde atuam, falhas na comunicação e cultura organizacional e falta de habilidades de gestão. A organização eficaz é um pilar fundamental para o sucesso empresarial e apesar do reconhecimento generalizado da importância da organização dentro das empresas, muitas delas ainda lutam para atingir um nível ideal de estruturação e eficiência operacional. A expressão “firma organizada” é frequentemente empregada para descrever o estado desejável em que uma empresa integra de maneira harmoniosa seus esforços com práticas organizacionais sólidas, resultando em uma operação eficaz. No entanto, a realidade muitas vezes revela uma série de desafios e obstáculos que impedem as empresas de alcançar esse ideal. Nesse texto serão exploradas algumas das razões para a existência de tantas firmas desorganizadas, os fatores que contribuem para essa realidade e algumas estratégias potenciais para superar esses desafios.

Por que existem tantas firmas desorganizadas?

Embora a expressão “firma organizada” denote um ideal a ser alcançado no mundo dos negócios, a realidade muitas vezes revela uma gama diversificada de empresas, algumas das quais não conseguem atingir esse patamar de organização desejado. A desorganização dentro das empresas pode surgir de uma variedade de fatores interligados, que vão desde questões estruturais e culturais até desafios de liderança e recursos limitados. Uma das razões para a desorganização dentro das empresas reside na falta de experiência em gestão por parte dos empreendedores e líderes empresariais. Muitas vezes, os fundadores de empresas são especialistas em suas respectivas áreas de atuação, como tecnologia, engenharia, medicina, etc., mas podem carecer de habilidades e conhecimentos em gestão empresarial. A ausência de uma base sólida em princípios de gestão, incluindo planejamento estratégico, gestão de recursos humanos e finanças corporativas, pode levar à falta de estrutura organizacional dentro da empresa.

Herbert Simon (SIMON, 1945), em “Administrative Behavior”, ofereceu insights sobre as limitações da racionalidade dos tomadores de decisão dentro das organizações. Essas limitações podem levar a decisões ruins ou até equivocadas, mesmo em empresas com estruturas organizacionais claras. A falta de informações completas, pressões do ambiente organizacional e falta de conhecimento podem contribuir para uma aparência de desorganização nas decisões empresariais. A falta de liderança eficaz pode ser um fator importante na desorganização das empresas. Uma liderança fraca ou inadequada pode levar à falta de direção e coordenação dentro da empresa, resultando em uma falta de clareza sobre os objetivos e prioridades organizacionais. Os líderes empresariais precisam ser capazes de inspirar e motivar suas equipes, fornecendo uma visão clara e orientação sobre como alcançar os objetivos da empresa.

O rápido crescimento pode representar um desafio significativo para a organização empresarial. À medida que as empresas se expandem rapidamente para atender à demanda crescente do mercado, elas podem lutar para acompanhar esse crescimento em termos de desenvolvimento de processos organizacionais adequados e infraestrutura interna. Isso pode resultar em uma falta de alinhamento entre os diferentes departamentos e equipes, bem como em problemas de comunicação e coordenação. Ronald Coase, em sua obra “The Nature of the Firm” (COASE, 1937), provocou uma mudança de paradigma ao destacar que as empresas surgem como uma resposta aos custos de transação de realizar atividades no mercado. No entanto, mesmo que uma empresa opte por internalizar suas operações, isso não garante uma organização perfeita. Desafios na coordenação interna, como comunicação deficiente ou conflitos entre departamentos, podem resultar em uma aparência de desorganização.

Além disso, a falta de uma cultura organizacional forte e coesa pode levar à desorganização dentro das empresas. Se os valores e objetivos da empresa não forem claramente definidos e comunicados, os funcionários podem se sentir desorientados e desmotivados, o que pode afetar negativamente a coesão e a eficácia organizacional. Uma cultura que não valoriza a organização e a eficiência pode levar a uma falta de responsabilidade e comprometimento com a implementação de processos e procedimentos estabelecidos. A disponibilidade de recursos limitados também pode contribuir para a desorganização dentro das empresas, aumentando a incerteza e o risco do negócio. Especialmente para empresas iniciantes ou de pequeno porte, os recursos financeiros, humanos e tecnológicos podem ser escassos, o que torna difícil investir em sistemas de gestão robustos, treinamento de pessoal ou consultoria especializada em organização empresarial. Como resultado, as empresas podem se ver operando de maneira reativa e improvisada, em vez de adotar uma abordagem proativa e estratégica para a organização e o planejamento.

Segundo Knight (KNIGHT, 1921), a natureza incerta do ambiente econômico no qual as empresas operam pode exigir adaptações rápidas e flexíveis por parte das empresas, resultando em decisões que podem parecer desorganizadas no curto prazo. O ambiente de incerteza também pode criar dificuldades na previsão precisa dos resultados das ações empresariais, aumentando a aparência de desorganização. Outro desafio comum é a resistência à mudança por parte dos funcionários e líderes empresariais. Implementar mudanças organizacionais significativas pode ser difícil e muitas vezes encontra resistência por parte daqueles que preferem manter o status quo. A falta de apoio e engajamento dos funcionários pode minar os esforços para melhorar a organização e eficiência dentro da empresa, perpetuando assim a desorganização e a ineficácia.

Conclusão

Joel Franceschini – Servidor público federal desde 2010. Atualmente Chefe do Núcleo de Gestão Técnica da Superintendência do Inmetro no RS., Engenheiro Mecânico, Mestre em Engenharia, Especialista em Administração Pública para o Século 21 e Doutorando em Administração pela UFRGS, Membro da Rede LideraGov de Desenvolvimento de Líderes da Administração Pública Federal, egresso da turma 2022 (Enap).

É importante reconhecer que a aparência de desorganização nem sempre reflete a realidade da eficácia e eficiência das empresas. Muitas vezes, as organizações enfrentam desafios complexos que exigem soluções igualmente complexas. Portanto, é essencial que as empresas procurem meios para melhorar sua organização interna, promovendo uma cultura de comunicação aberta, investindo no desenvolvimento de habilidades de gestão e adotando práticas de tomada de decisão mais informadas e adaptáveis. Além disso, a conscientização e o compromisso com a melhoria contínua são essenciais para criar uma cultura de excelência organizacional. É importante ressaltar que não há uma solução única para todos os desafios de organização empresarial. Cada empresa é única em sua estrutura, cultura e desafios específicos, e é necessário um enfoque personalizado e adaptado às circunstâncias individuais de cada organização. No entanto, ao reconhecer os fatores que contribuem para a desorganização e adotar uma abordagem estratégica e centrada no desenvolvimento organizacional, as empresas podem progredir em direção ao objetivo de se tornarem firmas verdadeiramente organizadas.

Referências

COASE, Ronald (1937). “The Nature of the Firm”. WILLIAMSON, O.E. & WINTER, S.G. (eds.). The nature of the Firm. Origins, Evolution, and Development. Oxford, Oxford University Press, 1993.

SIMON, Herbert A (1945). Administrative Behavior. Nova York, Free Press, 1997.

KNIGHT, Frank (1921). Risco, Incerteza e Lucro. Rio de Janeiro, Ed. Nacional, 1972.

Crédito: Joel Franceschini / https://www.linkedin.com/pulse/se-empresa-%C3%A9-uma-firma-organizada-por-que-existem-joel-franceschini-hak8f/ – @ Linkedin 25/4/2024

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