Gasolina adulterada: fraudes mais comuns incluem chip na bomba, álcool ‘batizado’ e ‘posto pirata’
Combustível “batizado” com substâncias mais baratas, chip na bomba para cobrar mais do consumidor e postos que imitam as características de franquias mais famosas: a variedade das fraudes adotadas por organizações criminosas na venda de combustíveis é tanta que, muitas vezes, exige atenção de motoristas que não querem se tornar vítimas.
Como mostrou o Estadão, flagrantes de uso irregular e adulteração com o metanol, por exemplo, ficaram mais comuns no último ano. Os autos de infração relacionados à substância emitidos pela ANP atingiram, em 2023, o recorde desde que começaram a ser contabilizados, em 2017. Foram 187, alta de 73,5% ante um ano antes (108). O metanol é tóxico e traz riscos à saúde e à segurança.
Estimativa do Instituto Combustível Legal (ICL) aponta que cerca de R$ 30 bilhões são desviados por ano no setor, sendo metade em sonegação de impostos e outra metade em fraudes operacionais, como justamente vender combustíveis adulterados.
Alguns dos prejuízos, porém, são difíceis de mensurar, uma vez que muitos consumidores sequer associam problemas no carro ao abastecimento. Diante disso, é importante observar o veículo para saber se há algo de errado e como não escolher um posto que comercializa combustível adulterado.
Conhecer os principais tipos de fraudes também é um caminho para não se tornar mais uma vítima desses esquemas.
A adulteração de combustível é talvez a principal fraude observada em postos de combustíveis, segundo autoridades ouvidas pela reportagem. No caso do álcool, uma fraude comum costuma ser o chamado “álcool molhado”, em que se mistura etanol anidro ao etanol hidratado (o etanol combustível).
A prática é considerada proibida, uma vez que apenas a gasolina pode receber adição de etanol anidro na proporção de 27% prevista na legislação. Ainda assim, em alguns casos, mesmo essa quantidade também costuma ser extrapolada.
Em fiscalização da ANP no Rio no ano passado, como mostrou o Estadão, a amostra coletada em posto de Niterói (RJ) indicou que a gasolina vendida por lá continha 66% de etanol anidro, mais do que o dobro do que permitido. Já o etanol não estava só “batizado”, como composto por 92,1% de metanol, uma substância tóxica – o limite permitido pela lei é de 0,5%.
Chip na bomba: tecnologia entrega menos do que é pago pelo cliente
No golpes do chip na bomba ou “bomba baixa”, que por vezes se utilizam de tecnologias diferentes para atingir o mesmo fim, o cliente paga por uma quantidade de litros, mas o tanque recebe menos combustível. Conforme autoridades, esse tipo de fraude se sofisticou nos últimos anos, permitindo até mudar remotamente o volume de litros entregue.
Não à toa, como forma de melhorar as fiscalizações, o Instituto de Pesos e Medidas do Estado de São Paulo (Ipem-SP) anunciou no ano passado uma bomba medidora de combustível mais tecnológica que, segundo o órgão, irá auxiliar no treinamento de equipes para identificar fraudes no abastecimento.
Posto pirata emula cores e sinais de marcas líderes
No caso do posto pirata, trata-se de estratégia mais simples e que, a depender do caso, sequer é considerada fraudulenta, mas que ainda assim requer atenção do consumidor. A prática consiste em emular cores e aspectos visuais comuns de marcas líderes para ludibriar o consumidor de que o posto em questão é conhecido.
O problema é que, em alguns casos, isso vem acompanhado de produto inferior ao referenciado ou mesmo de fraudes nos combustíveis, prejudicando o consumidor final. Se o cliente se sentir lesado quanto a práticas desse tipo, a orientação é procurar o Procon que atende a região. Denúncias também podem ser feitas à ANP (mais informações abaixo).
Sonegação fiscal: empresas fantasmas compram produto para fim industrial
Também há postos que, mesmo não apresentando combustível adulterado ao consumidor, sonegam impostos ou realizam processos fraudulentos para obter os insumos vendidos. Segundo autoridades, há quadrilhas que se aproveitam, por exemplo, de o álcool etílico hidratado, conhecido como carburante (usados nos veículos), ser basicamente o mesmo álcool para fins de indústria, só que normalmente com alíquota maior de imposto.
Diante disso, esses grupos criam empresas fantasmas para importar esse segundo tipo de álcool, supostamente para usar na indústria. Quando as cargas chegam, porém, usam para abastecer redes de postos, de forma a multiplicar os lucros.
Como mostrou o Estadão, investigação do Gaeco do Ministério Público do Maranhão apontam que, de janeiro de 2015 a outubro de 2020, só uma fraude desse tipo representou prejuízo de R$ 68,8 milhões ao Estado. Isso sem considerar possíveis multas e juros. De modo geral, a exigência de nota fiscal é uma prática indicada para evitar crimes de sonegação.
Bomba sem certificação: adesivos atestam aferição
Conforme a ANP, os equipamentos medidores, como as próprias bombas, devem obrigatoriamente estar aferidos e certificados pelo Inmetro ou por instituição credenciada por ele. Isso é atestado em adesivos nos próprios equipamentos, que indicam sua confiabilidade. Em alguns casos, a falta da sinalização pode indicar possibilidade de outras fraudes, como combustível adulterado.
Ao notar que há ausência de adesivo na bomba, a orientação é entrar em contato com a ANP para denunciar o que foi observado no local. Os caminhos indicados são o site da agência www.anp.gov.br/faleconosco ou o telefone 0800 970 0267
Também é recomendado o contato em casos em que o consumidor observa outros tipos de inconsistências ou irregularidades, como venda casada de produtos, falta de testes obrigatórios que podem ser solicitados pelo cliente (como o de proveta) ou ausência de sinalização da origem dos combustíveis. Segundo a ANP, mesmo os postos de bandeira branca (sem distribuidora exclusiva) devem informar o fornecedor em cada bomba.