A mais recente polêmica de trânsito referente ao teste do bafômetro não tem a ver com bebida alcoólica, mas sim com pães de forma. Um recente estudo da Pró-Teste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, apontou a presença de etanol no pão de forma industrializado, devido ao conservante anti-mofo borrifado com álcool sobre o produto, para que ele dure mais nas prateleiras.
Entretanto, sua ingestão tem causado dúvidas aos motoristas: afinal, ingerir pão de forma dá multa?
Primeiro, vamos aos resultados do teste. Segundo o estudo, existe, sim, a possibilidade de ter um resultado positivo no bafômetro após a ingestão de pão de forma, por conta do etanol presente.
Entretanto, trata-se de um resultado do tipo “falso-positivo“, pois a substância some do organismo após alguns minutos. O mesmo resultado é obtido na ingestão de doces com licor e enxaguantes bucais, por exemplo.
“Se eu comer pão de forma, o bafômetro pega?”
Sim, mas há ressalvas. Ou seja, o consumo de pão resulta em quantidades tão pequenas de álcool, que logo dissipam-se, evitando riscos futuros.
“Quando a gente ingere alimentos com etanol, a nossa cavidade bucal fica repleta de álcool. Esse álcool, no entanto, é dissipado a partir da interação com o ar, e deixa de ser detectado em dez, no máximo 15 minutos”, diz Alysson Coimbra, médico do tráfego e membro do Observatório Nacional de Segurança Viária.
“O bafômetro mede a concentração de etanol presente no ar exalado dos pulmões, que reflete a quantidade de álcool no sangue.
Se, por algum motivo, há detecção inicial de etanol no bafômetro após o consumo de pão de forma, ela seria tão pequena que logo se dissiparia, não resultando em uma leitura positiva em um teste posterior.
Isso ocorre porque o álcool do pão de forma não permanece na boca ou nas vias respiratórias significativamente”, afirma a médica nutróloga Eline de Almeida Soriano, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
O motorista que for “pego” com o resultado positivo, tem, segundo o artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), direito à contraprova. Isso assegura a realização de um segundo teste, capaz de dar o resultado verdadeiro.
Além disso, não há perigo de embriaguez aos amantes do pão de forma.
“O corpo humano metaboliza pequenas quantidades de álcool muito rapidamente. A quantidade de 1,69 g de etanol, encontrada em duas fatias de uma determinada marca, é logo metabolizada pelo fígado, impedindo a acumulação de álcool no sangue em níveis que causariam embriaguez”, disse a nutróloga.
Crédito: Rodrigo Tavares / Jornal do Carro coluna de O Estado de São Paulo 27/7/2024
Via de regra, não faz sentido a preocupação em embriagar-se com fatias de pão, enxaguantes bucais ou ingestao de medicamentos. A preocupação maior é com o rigor e possível excesso nas regras que definem qual o limite de álcool no sangue ou pulmão que caracteriza a “embriaguez” do motorista. A Lei deve ser para “proteger a vida”, mas a sensação que fica é que o desejo de multar atropela essa “lógica”.