- Arma de bolinha de gel vira febre e ‘paintball de rua’ preocupa PM; entenda riscos
- Inmetro alerta sobre o uso indevido do selo de conformidade em réplicas de armas com projéteis de bolas de gel
- Armas de brinquedo levadas por cantores de trap ao palco do Rock in Rio dividem opinião do público
Arma de bolinha de gel vira febre e ‘paintball de rua’ preocupa PM; entenda riscos
Dez armas de gel foram confiscadas na zona sul de SP após homem ser atingido no olho; Secretaria da Segurança diz que equipamentos podem ser confundidos com armas de fogo
Armas que disparam bolinhas de gel têm preocupado a Polícia Militar e moradores de várias cidades, incluindo São Paulo, especialmente nas zonas periféricas. Após a popularização do “brinquedo”, com divulgação nas redes sociais e convocação para “guerrinhas” – uma espécie de “paintball de rua” – em bairros como Jardim São Luís e Jardim Miriam, na zona sul, e Vila Verde, na leste, já há casos de pessoa atingida no olho e confronto de jovens com policiais usando a arma falsa.
A pasta diz que, na ocasião, um homem foi atingido no olho após jovens atirarem as bolinhas contra um estabelecimento comercial. “Ao tirar satisfação, um dos suspeitos ainda teria brigado com o homem, bem como ameaçado o seu colega, o que deu início à confusão. Os dois precisaram de atendimento médico.”
Armas de bolinha de gel se popularizam em São Paulo
Na Rua 25 de Março, o preço chega a R$ 380. Venda é ilegal, segundo Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP)
- As armas de bolinha de gel funcionam por meio de bateria e sistema de propulsão a mola. Geralmente são coloridas, em vermelho ou azul;
- São vendidas em lojas online e em centros populares de compras, como a Rua 25 de Março, no centro paulistano. O preço varia de R$ 80 a até R$ 380, dependendo do modelo;
- As bolinhas de gel têm cerca de 8 milímetros e são lançadas a distâncias entre cinco e dez metros, segundo o Exército. A reportagem encontrou fornecedores que prometem, no entanto, disparo até 30 metros e guiado por laser.
No caso do dia 10, os policiais apreenderam imagens de câmera de segurança para realizar a análise e, posteriormente, os envolvidos foram liberados. Um boletim de ocorrência foi registrado como lesão corporal e ameaça no 11° Distrito Policial (Santo Amaro).
Outras quatro ocorrências relacionadas ao paintball de rua foram registradas na Polícia Civil de São Paulo entre os dias 28 e 29 de agosto e 1 e 3 de setembro, todas na zona sul.
“A PM foi acionada porque diversos jovens estavam disparando essa munição em gel em pessoas que andavam pelo local. Quando as equipes chegaram, a multidão que brincava se dispersou, no entanto, os policiais notaram dois homens fugir em uma moto, quando um deles apontou a arma de brinquedo.”
A SSP diz que houve breve perseguição, até que os envolvidos perderam o controle da moto e o motorista conseguiu fugir a pé. O homem que estava na garupa foi detido e encaminhado à delegacia.
No Instagram e no TikTok, vídeos circulam convidando pessoas para as “guerrinhas” de bolinha de gel e chamando a arma falsa de “nova moda”. Procuradas, a Meta, dona do Instagram, e o TikTok não quiseram se manifestar.
Brincadeira perigosa
“Esse tipo de brincadeira pode ensejar vários problemas, desde acidente de trânsito, ferimentos e até um mal-entendido. Quem vê pode pensar que é um arrastão, por exemplo”, diz o capitão Felipe Neves, do Centro de Comunicação Social da PM de São Paulo. A SSP também vê risco de uso para a prática de crimes, afirma a SSP.
O Exército, responsável pela política de desarmamento do País, afirma por sua vez que “não se assemelham a arma de fogo, réplica ou simulacro e, dadas as definições dispostas na legislação em vigor, os lançadores de gel não se enquadram em como Produto Controlado pelo Exército, portanto fogem às atribuições regulatórias deste órgão técnico normativo.”
O entendimento do Exército é de que as bolinhas de gel são lançadas a baixas velocidades e a curtas distâncias, não causando danos às pessoas e ao patrimônio. Além disso, funcionam por meio de baterias e “não se confundem com armas de pressão, como airsoft”. “Suas características principais, como cor e peças (bulbo reservatório), não se assemelham a arma de fogo, réplica ou simulacro”, diz.
Médicos afirmam que o disparo de bolinhas por pistola a mola pode causar danos graves aos olhos e até cegueira, a depender da velocidade e distância de disparo. “É uma brincadeira muito perigosa para os olhos. A bolinha que é lançada tem o diâmetro menor do que a órbita (parede óssea que protege o globo ocular)”, diz Newton Kara Jose Junior, oftalmologista do Hospital Sírio-Libanês.
A órbita, composta pelos ossos que ficam abaixo da sobrancelha, por exemplo, protege o olho de impactos de objetos maiores, como bolas de futebol e de tênis. Mas no caso de bolas pequenas, como as de gel, a proteção não acontece e todo o impacto do disparo vai diretamente para o olho da vítima.
“A consequência para o globo ocular seria muito grave, podendo ocorrer lesão na córnea, descolamento de retina, inflamação ocular, catarata e até ruptura do globo. O risco de cegueira é grande”, afirma Jose Junior.
“Mesmo com óculos de proteção, uma das grandes críticas que a gente tem é de que precisa haver regulamentação. Quem garante que essas arminhas compradas na internet vêm com óculos adequados para isso? É diferente das armas e equipamentos de paintball, que são muito bem regulamentados”, diz Emerson Castro, também oftalmologista do Sírio-Libanês.
Na 25 de Março, arma é vendida a até R$ 380
A reportagem esteve na Rua 25 de Março, uma das principais de comércio popular na capital paulista, nesta quarta, 18, e quinta-feira, 19, e encontrou armas de bolinha de gel sendo comercializadas por ambulantes e lojistas. O preço variava de R$ 250 a R$380, a depender do modelo: similar a pistola ou a fuzil. Já na internet, o preço mínimo encontrado foi de R$ 79,90.
Os objetos têm cores chamativas em azul, vermelho ou rosa e possuem um recipiente no topo para armazenar as bolinhas em gel, que são vendidas separadamente. A pessoa precisa colocar as bolinhas, a princípio minúsculas, em recipientes com água para que elas inflem e atinjam o ponto de munição da arma falsa.
Uma cartela de bolinhas, capaz de encher cerca de dez vezes o recipiente da arma, custa cerca de R$ 20.
Segundo ambulantes, as armas são recorde de vendas e aumentaram de preço após a popularização. A reportagem encontrou pais comprando os “brinquedos” para filhos a partir de 5 anos. “Todas as crianças do bairro têm, não quero que meu filho fique de fora da brincadeira. É inofensivo, igual as arminhas de feijão que usávamos quando éramos crianças”, disse um homem, sem se identificar.
A Prefeitura de São Paulo, responsável pelo confisco de mercadorias proibidas para venda na Rua 25 de Março disse que “a venda de armas com munição de gel não é proibida”. “A GCM (Guarda Civil Metropolitana) reforça, entretanto, que suas equipes estão preparadas para atuar em casos de lesão corporal ou outros crimes, adotando as medidas cabíveis.”
Crédito: Giovanna Castro / O Estado de São Paulo – @ disponível na internet 23/9/2024
Inmetro alerta sobre o uso indevido do selo de conformidade em réplicas de armas com projéteis de bolas de gel
O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) está atento às recentes reportagens sobre as “réplicas de armas com projéteis de bolas de gel”. De acordo com a Portaria Inmetro nº 302, de 2021, esses produtos não são considerados brinquedos.
A regulamentação define que brinquedos são produtos destinados ao uso por crianças menores de 14 anos. Portanto, itens que não atendem a essa definição não podem ser comercializados como “brinquedos”, nem ostentar o Selo de Identificação da Conformidade do Inmetro.
O Inmetro também define requisitos específicos para armas de brinquedo. Réplicas de armas com projéteis de bolas de gel são semelhantes a equipamentos como airsoft e paintball, regulamentados pelo Decreto nº 11.615, de 21 de julho de 2023, o qual não está sob a competência do Inmetro.
Além disso, todas as armas de brinquedo, com ou sem projéteis, devem atender às advertências e requisitos de segurança estipulados para brinquedos. O Anexo C da Portaria Inmetro nº 302, de 2021, determina marcações específicas para brinquedos que se parecem com armas, enquanto o Anexo V, item 47, lista imitações de armas de fogo como produtos que não são classificados como brinquedos.
“O Inmetro reafirma, com base na regulamentação vigente, que as réplicas de armas com projéteis de bolas de gel não são classificadas como brinquedos”, destaca João Nery, diretor de Avaliação da Conformidade do Instituto.
Márcio André Brito, presidente do Inmetro, orienta a população a denunciar qualquer comercialização irregular de réplicas de armas de fogo que ostentem, indevidamente, o Selo de Conformidade do Inmetro.
As denúncias podem ser feitas à Ouvidoria do Inmetro: https://falabr.cgu.gov.br/web/home
Fonte: https://www.gov.br/inmetro/pt-br/centrais-de-conteudo/noticias/ inmetro-alerta-sobre-o-uso-indevido-do-selo-de-conformidade-em-replicas-de-armas-com-projeteis-de-bolas-de-gel – 23/9/2024
Armas de brinquedo levadas por cantores de trap ao palco do Rock in Rio dividem opinião do público
O show de abertura do Palco Mundo deste sexto dia de Rock in Rio chamou a atenção por itens utilizados pelos cantores. MC Cabelinho e MC Veigh carregaram armas de plástico com bolas de gel como munição em determinado momento da apresentação, que também foi marcada por problemas técnicos e um longo atraso. Parte do público se mostrou incomodada com os brinquedos ostentados por eles. Antes de entrarem no palco, a dupla postou uma foto no Instagram com os itens e escreveram: “bala vai comer no palco”.
Esse tipo de brinquedo tem sido vendido em camelôs de Rio e São Paulo. Há 10 dias, a polícia paulista prendeu 18 pessoas após um homem ter sido atingido por uma bala de gel no olho no bairro Jardim São Luis.
A temática da violência é comum na cultura trap, cujos artistas em geral são formados na periferia e vivenciam a criminalidade em seu dia a dia. Uns enxergam a abordagem como crítica; outros como uma apologia direta ao crime. Não é incomum canções do trap trazerem menções a armas. Cabelinho, por exemplo, tem uma música chamada “Gotham” que diz “Tô de pistola / No meu porte, tem uma pistola / Cabelin te apavora / Tipo o Coringa na cidade de Gotham”.
No Rock in Rio, o show foi visto por um público de até 100 mil pessoas esperadas no sábado na Cidade do Rock e milhares que acompanharam ao vivo na televisão. Além de Cabelinho e Veigh, também participaram Matuê, Filipe Ret, Kayblack, Orochi e Ryan SP.
Na plateia, como costuma ocorrer com polêmicas do tipo, as opiniões foram divididas:
Eles estão fazendo um show para jovens em formação. É um perigo naturalizar esse tipo de coisa — disse a psicóloga Maria Cristina Oliveira, de 49 anos.
— Não me incomodou. Não achei que estava fazendo uma alusão à violência. Me incomodou muito mais os problemas técnicos (no início do show) e eles não terem continuado fazendo a função de MC deles, de entreter o público. Se eles são pagos para entreter, não estavam fazendo a função. A arma foi entretenimento, estava na cara que era de água. Não acho que foi incitação à violência — afirmou a pedagoga Geise Freitas, de 40 anos.
— Acho que influencia. Eu nem conhecia as letras e levei um susto ao ouvir. Fui escutando e falei “meu Deus!”. Nem sabia que meus filhos sabiam cantar essas músicas. Onde será que eles as escutam que não tô vendo? Foi um susto” — opinou Franciellen Oliveira, técnica de enfermagem, de 30 anos, que veio com 2 filhos e 1 enteado.
— É normal ver em show de trap esse tipo de apologia. Não vejo problema por justamente conhecer os cantores e saber que em outros shows são assim. Eu entendo que quem vê de fora e, dependendo da conotação da música, pode ser algo ruim, ainda mais que tinha muita criança no show. Isso pode ser um ponto ruim — afirmou Ana Carolina Pereira, assistente comercial, de 21 anos.