Após o corte de energia elétrica em instalações da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) devido a inadimplência, algumas unidades da instituição amanheceram sem água.
A informação foi dada pelo reitor Roberto Medronho durante uma aula pública, na qual ele apresentou a situação orçamentária da universidade às escuras, com o auxílio de um gerador portátil.
De acordo com a Light, a dívida total da faculdade é de R$ 31,8 milhões.
Durante a sessão, o reitor enfatizou que os alunos mais vulneráveis socialmente serão os principais prejudicados, pois o restaurante universitário e a residência estudantil também podem ficar sem energia.
“Olha que crueldade, esse corte de energia vai atingir os mais vulneráveis. Os alunos que se alimentam no restaurante, os que vivem na residência estudantil e os alunos do curso noturno que não vão poder estudar sem iluminação. Então, afeta os mais vulneráveis, além de ser uma atitude extremamente arbitrária, ela é cruel”, afirmou.
Por ora, estão sem luz o prédio que abriga a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, a Escola de Belas Artes, o estacionamento do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (COPPEAD) e a editoria da UFRJ. A operação de corte foi suspensa após intervenção da Procuradoria da universidade.
Em nota, a concessionária Águas do Rio informou que várias reuniões com a reitoria foram realizadas para buscar um acordo em relação à dívida. Segundo a empresa, na última delas, ocorrida no dia 7 de novembro, na sede da Pró-Reitoria de Planejamento, no Fundão, foi alinhada uma proposta com desconto, formalizada no dia seguinte, 8 de novembro. A dívida é R$ 18 milhões.
A Concessionária informou que com o fim do prazo de validade dessa proposta em 12 de novembro, e sem retorno da universidade, foi iniciado o corte do fornecimento de água em algumas unidades. A empresa destacou que nenhuma unidade de serviço essencial será afetada.
O reitor Roberto Medronho destacou que o corte de energia e água na universidade pode impactar diretamente toda a comunidade acadêmica, composta por 4,9 mil docentes, 9,1 mil técnicos administrativos e 70 mil alunos de graduação e pós-graduação. Segundo Medronho, a situação se agrava devido ao déficit orçamentário da universidade, que atualmente chega a R$ 192 milhões, acumulado nos últimos oito anos. Apenas neste ano, o déficit chega a R$ 70 milhões.
A UFRJ informou que está redirecionando recursos destinados a outras finalidades para quitar parte da dívida e garantir o pagamento de uma parcela. A outra parte será coberta por um repasse emergencial do Ministério da Educação, no valor de R$ 1,5 milhão, previsto para ser liberado ainda nesta quarta-feira (13). Segundo o reitor Roberto Medronho, há também a expectativa de um projeto de repasse adicional de R$ 3 milhões.
“Pagando duas parcelas, eles serão obrigados a retomar a iluminação. Eu lamento que eles tenham tomado essa atitude, muito questionável, porque a atividade de ensino e pesquisa é essencial. Nós estávamos negociando, reconhecemos a dívida, precisamos pagá-la, mas não temos recursos para isso”, afirmou Medronho, criticando a medida da concessionária.
Segundo Medronho, as contas de luz e água são prioridades para a UFRJ, assim como o restaurante universitário e o serviço de vigilância. No entanto, o déficit orçamentário atual é muito expressivo, dificultando a cobertura desses custos essenciais. “Precisamos de um apoio, de suplementação orçamentária para manter a nossa universidade. A conta de luz, água, vigilância, assistência estudantil e restaurante são nossas prioridades, mas o déficit é muito maior. Por isso, deixamos de pagar alguns meses à Light e à Águas do Rio, até mesmo a vigilância, para que pudéssemos pagar esse conjunto enorme de verbas que precisamos”, explicou o reitor.
Museu Nacional
O Museu Nacional, que também pertence à UFRJ, chegou a ter suas instalações afetadas pelo corte de energia. No entanto, após um pedido urgente da universidade, a energia foi restabelecida. A instituição alertou que o corte de eletricidade em um espaço como o Museu Nacional representa um risco real de incêndio e de perda do acervo histórico. Isso ocorre porque algumas coleções são mantidas em álcool e necessitam de refrigeração constante, uma vez que a exposição a temperaturas elevadas, por períodos prolongados, pode comprometer seriamente a segurança e a preservação dessas peças valiosas.
“Ontem, cortaram a luz onde fica o Museu Nacional, mas tiveram juízo e religaram. Iam cortar a do Horto Botânico, onde está o Manto Tupinambá. O manto é um ancestral do povo Tupinambá, ele precisa estar em condições ótimas, de pressão, temperatura e umidade. Se eles fizessem isso, poderia comprometer um ancestral de quase 400 anos desse país. Ontem cortaram a energia na parte de baixo do Museu Nacional, em São Cristóvão, e religaram. Ali tem uma coleção de invertebrados que está em solução alcoólicas e se tivesse na temperatura que estivesse ontem no Rio, correria o risco de um novo incêndio”, explicou o reitor.
Ao DIA, o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, falou sobre a preocupação da falta de energia nas instalações. De acordo com ele, o risco de incêndio e perca de acervo é real. “Há três áreas sob responsabilidade do MN com três contas e marcadores de consumo de energia diferentes: o horto, onde está o Manto e tem energia), o Palácio Imperial, onde teve corte, e o campus de pesquisa, onde está parte do acervo e novas coleções. O último preocupa, pois a coleção de invertebrados é conservada em álcool e algumas salas já estão sem refrigeração. Há risco de novos incêndios ao acervo que está sendo recomposto”, disse.
Crédito: Redação do Jornal O DIA – @ disponível na internet 14/11/2024