Segmento é responsável por 13% das emissões de gases poluentes no Brasil; País deverá ter novas fábricas de biocombustíveis e de veículos eletrificados
Responsável por 13% das emissões de gases poluentes no Brasil, o transporte terá de recorrer a veículos elétricos e a biocombustíveis para se descarbonizar (ou seja, reduzir a emissão de gás carbônico na atmosfera) – e o País tem investimentos sendo feitos para essas duas alternativas.
Os projetos estão em diferentes fases de implementação. No caso dos automóveis elétricos, empresas chinesas como BYD e GWM têm chamado atenção pelo tamanho de seus projetos. As duas, no entanto, estão com a instalação de suas plantas atrasadas.
Em relação aos biocombustíveis, há projetos para a produção local de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês). Não há, no entanto, nenhuma planta em operação no País – apesar de o Brasil frequentemente ser apontado como um dos países com maior potencial na área.
Nesta semana, o Estadão mostra como projetos de “economia verde” estão avançando no País. Confira abaixo como os empreendimentos que podem ajudar na descarbonização do transporte no Brasil estão caminhando.
Assim como o hidrogênio verde, o SAF também tem preço superior quando comparado ao querosene de aviação tradicional – o que dificulta sua implementação. Filipe Bonaldo, diretor da A&M Infra, braço da consultoria Alvarez & Marsal especializado em infraestrutura, no entanto, vê com maior otimismo a probabilidade de os projetos de usinas avançarem no País do que os de hidrogênio.
O SAF pode ser produzido a partir de soja ou milho, entre outros cultivos – daí o potencial brasileiro. “O Brasil tem capacidade agrícola. Poucos países no mundo tem isso”, diz ele. “Quando as empresas aéreas forem obrigadas a reduzir suas emissões (a partir de 2027 em rotas internacionais), a velocidade de implementação crescerá”, afirma Bonaldo.
SAF de macaúba e soja
Um dos projetos de SAF em desenvolvimento no Brasil é o da Acelen, empresa de energia do fundo Mubadala(dos Emirados Árabes Unidos). A companhia trabalha para produzir o combustível a partir da macaúba e seu projeto avança relativamente no prazo esperado. Há um ano, a empresa esperava plantar sua primeira fazenda de macaúba até o fim de 2024. Não conseguiu, mas já tem o licenciamento necessário e deve começar a semear em março. Depois disso, em até quatro anos deve estar produzindo frutos.
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Enquanto as palmeiras de macaúba não estiverem em tamanho adequado para produção, a Acelen vai trabalhar com soja. A empresa pretende começar a construção de sua usina no segundo semestre de 2025, um investimento que, junto aos recursos necessários para a plantação de macaúba, vai demandar US$ 3 bilhões.
Segundo o diretor de operações da Acelen, Marcelo Cordaro, usinas de SAF desaceleraram em todo o mundo porque a demanda pelos combustíveis diminuiu. “Isso afeta o financiamento das plantas”, diz ele. “Por outro lado, os resultados do nosso projeto de macaúba tem avançado. Estão vendo a planta como uma matéria-prima do futuro, com potencial de aceitação no mercado americano e europeu.”
Biodiesel
Outra empresa que estuda investir no SAF é a gaúcha Be8. Por ora, a companhia – que está investindo em uma planta de SAF no Paraguai – analisa o mercado brasileiro. “Isso está no nosso radar, mas não estamos prontos para falar sobre o assunto”, diz o presidente da Be8, Erasmo Carlos Battistella.
Por ora, a Be8 avança na produção de um biocombustível que pode substituir o diesel em 100% e que, diferentemente do biodiesel, não danifica o veículo quando usado sem mistura. Batizado de Be8 BeVant, o combustível custa metade do diesel verde (HVO) e já está disponível no País, enquanto o HVO deve entrar em produção aqui apenas em três anos.
A Be8 investiu R$ 50 milhões em sua fábrica em Passo Fundo (RS) para poder fabricar esse combustível lá. Agora, aguarda o aumento da demanda para fazer o mesmo na unidade de Marialva (PR). “O crescimento é por escada, não por elevador. Vamos investindo conforme temos clareza de que vai ter mercado”, acrescenta Battistella.
A companhia também está construindo uma planta de etanol em Passo Fundo, que deve atender a demanda do Rio Grande do Sul. A unidade receberá aporte de R$ 1,3 bilhão e deve começar a operar em 2026.
Carros eletrificados
Após dois anos de atraso, a montadora chinesa GWMpretende inaugurar sua fábrica em Iracemápolis (SP) neste semestre. Na unidade, produzirá carros híbridos (com um motor elétrico e outro a combustão).
O diretor de assuntos institucionais da companhia, Ricardo Bastos, afirma que o atraso ocorreu por causa do aumento do imposto de importação sobre veículos eletrificados. “A alta veio em um momento em que estávamos importando nossos veículos para testar a aceitação do consumidor”, diz.

À época, a montadora mudou a estratégia de qual seria o primeiro modelo produzido no Brasil, alterando o projeto inicial e atrasando o início das operações.
Após ser inaugurada, a planta deve trazer as peças dos automóveis para o Brasil, pintá-las aqui e montá-las. Aos poucos, passará a substituir essas peças por produção local. “Nosso objetivo é atingir 60% de conteúdo local a partir de 2028.”
Outra chinesa, a BYD planeja produzir carros elétricos ainda neste ano. No começo das operações, porém, a empresa deve trazer kits de peças semi-montados para a planta em Camaçari (BA), onde apenas uma última etapa será feita.
O início dos trabalhos na unidade também está atrasado. Inicialmente, a companhia prometia começar a operar no Brasil no fim de 2024. A BYD promete investir R$ 5,5 bilhões na fábrica e empregar 20 mil pessoas.

No fim do ano passado, 163 operários chineses que trabalhavam na construção da planta foram resgatados em condições análogas à escravidão. Questionada se isso poderia atrasar o início das operações da unidade, a empresa não respondeu.
A BYD afirmou que contratou uma construtora brasileira para realizar as adequações nas obras da fábrica de Camaçari, criou um comitê de compliance e rescindiu o contrato com a Jinjiang (empresa terceirizada cujos trabalhadores estavam em condições análogos à escravidão). Informou também que, “para acelerar o ritmo da obra”, vai “expandir a contratação de trabalhadores locais, tanto por meio de construtoras especializadas quanto por empregos diretos”.
Crédito: Luciana Dyniewicz / O Estado de São Paulo – disponível na internet 27/2/2025