O plano bilionário da China para se tornar uma superpotência em IA

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Foto: Ling Tang / Unsplash

Nos últimos 10 anos, Pequim incentivou empresas locais a desenvolver capacidades de manufatura em setores de alta tecnologia antes dependentes de importações. A estratégia agora se estende aos blocos fundamentais da IA: poder computacional, engenheiros qualificados e dados

Quando a OpenAI bloqueou o acesso da China aos seus sistemas avançados de inteligência artificial em julho do ano passado, desenvolvedores chineses não se abalaram. Preferiram apostar em sistemas de código aberto para continuar seus projetos.

Na época, isso significava recorrer ao produto de código aberto da Meta, uma empresa americana.

Mas, no ano seguinte, a corrida global por IA avançada mudou significativamente. Empresas chinesas como DeepSeek e Alibaba lançaram sistemas de IA open source que estão entre os melhores do mundo.

A China está rapidamente reduzindo a distância para os Estados Unidos na disputa por tecnologias que imitam o cérebro humano — e isso não aconteceu por acaso. O governo chinês canalizou recursos por uma década para se transformar em uma potência em IA, usando a mesma estratégia que fez do país líder em veículos elétricos e energia solar.

“China está aplicando apoio estatal em toda a cadeia de tecnologia de IA, desde chips e data centers até energia”, afirma Kyle Chan, pesquisador associado do RAND Corp., um think tank.

Nos últimos 10 anos, Pequim incentivou empresas locais a desenvolver capacidades de manufatura em setores de alta tecnologia antes dependentes de importações. A estratégia ajudou a China a se destacar na produção global — incluindo baterias, painéis solares e veículos elétricos — e agora se estende aos blocos fundamentais da IA: poder computacional, engenheiros qualificados e dados.

Essa política industrial ocorre enquanto três administrações nos EUA tentaram conter o avanço tecnológico chinês, restringindo a venda de chips da Nvidia, principal fabricante americana de IA.

Funcionários da Mindverse em escritórios no Parque de Inovação da gigante de tecnologia Alibaba, que a empresa construiu para alugar espaço para startups, em Hangzhou, China, em 27 de junho de 2025. (Qilai Shen/The New York Times)

Na segunda-feira, a Nvidia anunciou que obteve uma licença do governo dos EUA para vender um chip específico para a China, o H20. Apesar disso, empresas como a Huawei aceleram o desenvolvimento de alternativas com apoio estatal.

Ao contrário dos EUA, onde empresas como Google e Meta investem bilhões em data centers, na China o governo financia grande parte da infraestrutura e dos semicondutores necessários à IA.

Pequim também criou uma rede de laboratórios — muitos em parceria com gigantes como Alibaba e ByteDance — para concentrar talentos em pesquisas avançadas de IA.

Além disso, governos locais e bancos foram orientados a liberar crédito para centenas de startups. Desde 2014, o governo investiu cerca de US$ 100 bilhões na indústria de semicondutores, e em abril anunciou aporte de US$ 8,5 bilhões em startups de IA.

Nos EUA, sistemas como o ChatGPT foram treinados com dados de websites como Reddit e Wikipedia, inacessíveis na internet chinesa censurada. Para isso, a China criou bases de dados oficiais – como o “corpus de valores da mídia estatal” – garantindo que os conteúdos sigam a censura do governo.

Empresas como a ByteDance, da TikTok, têm acesso a dados de usuários em larga escala, o que impulsiona o desenvolvimento de seus sistemas de IA.

Mas essa abordagem de cima para baixo é ineficiente. Muitas startups disputam espaço num mercado acirrado, oferecendo modelos a preços baixos para atrair engenheiros.

Esse modelo dificulta a redistribuição rápida de recursos frente às rápidas mudanças tecnológicas. A China investiu pesadamente em reconhecimento facial e foi surpreendida pela evolução da IA generativa, como a usada no ChatGPT.

“É difícil saber onde investir e alocar recursos. IA não é algo estável como siderurgia ou construção naval”, ressalta Chan.

Grande parte dos recursos públicos foi destinada à Semiconductor Manufacturing International Corp. (SMIC), maior fabricante local de chips, que produz semicondutores para a Huawei e Qualcomm. A SMIC está desenvolvendo chips de IA para competir com os da Nvidia.

Embora os chips da Huawei possam atender a algumas demandas, eles ainda ficam atrás dos da Nvidia. A produção em larga escala também é um desafio ainda não superado pela SMIC.

“A ideia é: se formos bloqueados, haja uma alternativa viável — ainda que menos potente — para o setor de IA continuar avançando, sem parar”, explica Chan. c.2025 The New York Times Company

Crédito: Meaghan Tobin / The New York Times no InfoMoney – @ disponível na internet 18/7/2025

Sede da gigante de tecnologia Alibaba em Hangzhou, China, 27 de junho de 2025. (Qilai Shen/The New York Times)

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