
Quadro geralmente é “silencioso” e pode provocar infarto, AVC e até morte súbita
Cerca de 40% dos adultos brasileiros têm um nível alterado de colesterol, segundo o Ministério da Saúde. O problema é que esse quadro costuma se instalar de forma silenciosa e, assim, muitas pessoas convivem por anos com níveis perigosos dessa gordura no sangue antes de iniciar o tratamento.
“Na grande maioria da vezes, o colesterol alto não dá sintomas, por isso a importância da prevenção e da identificação dos níveis alterados”, diz Fabiana Hanna Rached, cardiologista da Unidade Clínica de Aterosclerose do Instituto do Coração (InCor/USP) e diretora cientifica do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Para você
Essa atenção é necessária porque as consequências do quadro podem ser graves: infarto, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência vascular e até morte súbita.
Apesar do “silêncio”, existem alguns sinais que indicam a necessidade de buscar um médico. Veja a seguir.
Entendendo o colesterol
O colesterol é um tipo de lipídio (gordura) naturalmente presente no organismo. Produzido no fígado, ele ajuda a formar as paredes das células e é usado como matéria-prima para produzir ou processar substâncias importantes, como hormônios e algumas vitaminas.
Como outras gorduras, ele não se mistura bem com a água. Por isso, não circula sozinho no sangue, mas se liga a proteínas, formando partículas chamadas lipoproteínas.
Diferença entre HDL e LDL
O LDL é o tipo de colesterol que mais circula no nosso corpo. Ele carrega o colesterol do fígado para as células e tecidos. Mas quando está em excesso, o LDL vira problema.
Essa lipoproteína pode se juntar a triglicerídeos, gorduras que vêm de calorias não gastas, e começar a se acumular nas paredes das artérias, os vasos que levam sangue do coração para os órgãos e tecidos.
Esse processo, no qual se formam placas de gordura nos vasos, é chamado de aterosclerose, o que chamamos popularmente de “entupimento das veias”.
Já o HDL faz o caminho inverso. Ele é uma espécie de “faxineiro” do sistema. A lipoproteína de alta densidade circula pelo sangue recolhendo o excesso de colesterol das artérias e levando tudo de volta para o fígado, onde a substância é metabolizada e eliminada. Estima-se que o HDL transporte entre 25% a 30% do colesterol LDL.
Além disso, o HDL tem funções extras que valem destaque. “Ele tem propriedades anti-inflamatórias, antiapoptóticas (evita a morte de células) e antioxidantes”, explica Fabiana.
Principais sintomas
Na maioria dos casos, o colesterol alto é assintomático, o que torna ainda mais importante a prevenção e o monitoramento. No entanto, sinais e sintomas de colesterol alto podem surgir quando os níveis estão muito elevados. Entre eles estão:
- Bolinhas de gordura nas pálpebras, chamadas xantelasmas;
- Anel acinzentado ao redor da íris, chamado arco corneano ou arco senil, principalmente quando aparece em pessoas jovens;
- Nódulos de gordura em mãos, joelhos, cotovelos e calcanhares, chamados xantomas.
Além disso, quando há quadro de aterosclerose, podem surgir:
- Dor ou desconforto no peito;
- Falta de ar e fadiga quando é realizado um esforço físico;
- Dores nas pernas ao caminhar que melhoram com o repouso (por má circulação);
- Pele fria e palidez nos dedos.
Como explicam as normas da SBC, esses já são sinais tanto de que o coração pode não estar recebendo sangue ou oxigênio suficiente quanto de um comprometimento das artérias que irrigam o corpo.
Quando procurar um médico?
“A avaliação do colesterol deve fazer parte dos check-ups de rotina”, destaca Márcio Weissheimer Lauria, coordenador do Departamento de Dislipidemia e Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
E esses exames de rotina não se restringem aos mais velhos. É recomendado medir os níveis de colesterol entre 9 e 11 anos de idade, na adolescência e quando adulto jovem. “Não é apenas após os 40 anos, como se falava antes. Quanto mais cedo identificarmos alterações, maior a chance de prevenção”, diz Fabiana.
Todos devem conhecer seus níveis de colesterol e, se houver alteração nos exames, procurar orientação médica.
Também é importante buscar um médico quando há histórico familiar de doenças cardíacas, especialmente se surgiram precocemente, ou em caso de fatores de risco como obesidade, diabetes, hipertensão ou tabagismo.
Quais os riscos associados à elevação do colesterol?
Em excesso, o colesterol alto pode causar problemas cardiovasculares, incluindo quadros como aterosclerose (acúmulo de placas de gordura nas paredes das artérias, dificultando a passagem do sangue), infarto e AVC.
O infarto, por exemplo, acontece quando o sangue não consegue chegar a uma parte do coração, deixando a área sem oxigênio e levando à “morte” da região. Isso geralmente ocorre devido ao acúmulo de placas de gordura, que bloqueia a passagem de sangue nas artérias. Já o depósito de placas nas artérias cerebrais pode levar a um AVC.
Segundo a SBC, os riscos envolvem ainda eventos como aneurisma da aorta, doença vascular periférica, encefalopatia isquêmica e morte súbita.
Como é feito o diagnóstico de colesterol alto?
O diagnóstico é feito pelo médico, após a avaliação dos resultados de um exame de sangue. Nele, é apresentada a soma do colesterol bom (HDL) com o colesterol ruim (LDL), ou seja, o “colesterol total”. O teste também aponta os valores individuais de cada tipo de colesterol.
De acordo com a diretriz da SBC, os valores ideais de colesterol são:
- Colesterol total (soma de HDL e LDL): abaixo de 200 mg/dL;
- Colesterol LDL: abaixo de 130 mg/dL para pessoas com risco baixo;
- Colesterol HDL: acima de 40 mg/dL.
Pacientes que já tiveram um infarto ou têm diagnóstico de doença cardiovascular são considerados de risco “muito alto”. Nesses casos, o valor ideal de LDL é abaixo de 50 mg/dL.
Já para pessoas com risco intermediário, como aqueles com histórico familiar de doença coronariana em idade jovem ou sinais de síndrome metabólica, o valor recomendado é abaixo de 100 mg/dL.
Os testes são disponibilizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e podem ser feitos em qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS).
O que causa colesterol alto?
O excesso de colesterol ocorre por fatores genéticos e alimentares.
Como explica a Sbem, depois de passar pela circulação sanguínea, o colesterol precisa ser removido pelo fígado para formar bile, líquido liberado no intestino delgado para auxiliar na digestão de gorduras.
Os níveis de colesterol dependem, portanto, da capacidade do fígado de removê-lo da circulação. Isso varia de pessoa para pessoa, com base nos genes.
Além disso, há o impacto da dieta. Cerca de 70% do colesterol é fabricado no fígado e os outros 30% vem da alimentação.
O que fazer para diminuir o colesterol?
Equilibrar a alimentação é muito importante para manter níveis saudáveis de colesterol bom e ruim. “É fundamental adotar uma dieta balanceada, rica em fibras, frutas, vegetais, grãos integrais e com baixo teor de gorduras saturadas e trans”, diz Fabiana.
Ao mesmo tempo, é necessário praticar atividade física regularmente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a prática de pelo menos 150 minutos de exercícios por semana.
Outra recomendação é evitar o cigarro e, por fim, quando necessário, iniciar o tratamento medicamentoso para controlar os níveis de colesterol, sempre com orientação médica.
O que evitar quando o colesterol está alto?
A nutricionista Stéfany Datovo Prado, diretora do Serviço de Nutrição do InCor, explica que, após o diagnóstico de colesterol alto, é fundamental evitar ou reduzir o consumo dos seguintes alimentos:
- Carnes processadas e embutidos (como salsicha, linguiça, bacon e salame);
- Carnes vermelhas com gordura aparente e cortes com alto teor de gordura;
- Leite integral e derivados integrais (como queijos amarelos, manteiga e creme de leite);
- Frituras e alimentos ultraprocessados: além da gordura saturada, eles podem conter gordura trans, que é especialmente prejudicial ao perfil lipídico;
- Doces industrializados (bolos, biscoitos recheados, sorvetes);
- Óleos vegetais em excesso (mesmo os saudáveis). “O uso indiscriminado pode contribuir para o excesso calórico e ganho de peso, fator associado ao aumento do colesterol total”, diz Stéfany.
Crédito: Layla Shasta / O Estado de São Paulo – @ disponível na internet 25/7/2025
Embora o colesterol seja um tema conhecido, ainda existem muitas dúvidas sobre os reais efeitos do HDL e LDL no organismo. Crédito: Jefferson Perleberg