Levantamento da consultoria NielsenIQ mostra que em 2019 esse porcentual era de 16%; canal online superou as lojas físicas, sinal de que essas marcas conquistaram a confiança do consumidor
Neste ano, pela primeira vez a participação de fabricantes chineses nas vendas de geladeiras, lavadoras, aparelhos de ar condicionado, TVs, computadores, eletroportáteis, smartphones respondeu por mais de 20% do faturamento do varejo nacional de eletroeletrônicos. Outro sinal de confiança nas marcas chinesas é que a venda online desses itens em 2025 superou pela primeira vez a da loja física.
No primeiro semestre de 2025, a fatia das marcas chinesas no total das vendas de eletroeletrônicos representou 21% do faturamento. No mesmo período do ano passado, chegou a 20%. Até 2019, a participação girava em torno de 16%, apontam os dados da consultoria NielsenIQ, que acompanha as vendas na ponta, junto aos varejistas, o chamado sell-out.
Segundo Mateus Rabello, gerente sênior de sucesso do cliente para Tech&Durables (T&D) da consultoria, a expansão das marcas chinesas no setor de eletroeletrônicos é uma tendência em aceleração. O movimento reflete os expressivos investimentos realizados recentemente por empresas da China em fábricas instaladas no Brasil, com o objetivo de produzir localmente.

Além disso, as empresas chinesas têm feito aportes significativos para a construção de marcas no varejo. Investem em patrocínios esportivos e até em painéis de rua, por exemplo. “O investimento contínuo deve avançar”, prevê Rabello.
Terceira onda asiática
Por questões contratuais, a consultoria não divulga quais são as marcas avaliadas no levantamento nem as suas respectivas participações de mercado em cada segmento.
Mas o que se nota é que, desde meados de 2023, gigantes chinesas de eletroeletrônicos, como Gree, Midea, Hisense e TCL, por exemplo, iniciaram uma ofensiva no mercado brasileiro avaliado como de grande potencial de consumo para itens das linhas branca (geladeiras, lavadeiras, por exemplo) e marrom (aparelhos de áudio e vídeo).
Mais recentemente, marcas chinesas de smartphones Oppo e Jovi chegaram ao mercado com opções de aparelhos premium para competir com nomes como Samsung, Motorola e Apple, conforme mostrou reportagem do Estadão.
A ofensiva das fabricantes chinesas a partir de 2020 marcou o início de uma terceira onda de empresas asiáticas no segmento de eletroeletrônicos no País. Nos anos 1990, houve crescimento das japonesas. E na década seguinte, foi a vez das sul-coreanas.
“O mercado brasileiro de eletroeletrônicos é extremamente atrativo para muitos países e muitos investidores”, afirma José Jorge do Nascimento, presidente da Eletros, que reúne os fabricantes do setor.
Com 212 milhões de habitantes e dimensões continentais, Nascimento ressalta que é possível vender todos os tipos de produtos simultaneamente. Por exemplo, enquanto no Norte é calor, e a procura por ventiladores e aparelhos de ar condicionado cresce, no Sul o inverno é intenso e as vendas de aquecedores bombam. Isso garante equilíbrio na receita da indústria o ano todo.

O presidente da Eletros acrescenta outro fator que tem feito empresas chinesas investirem com produção local no País. A China identificou que ter indústrias somente no seu país pode criar problemas em momentos de crise, como ocorreu na pandemia. Quando o país fecha, a economia acaba sendo afetada, porque as exportações ficam inviabilizadas.
“Depois da pandemia, a China está expandindo seus negócios pelo mundo”, diz Nascimento. “Se houver necessidade de fechar o país por algum motivo, a economia não vai estar tão abalada e o Brasil é uma ponto de atenção e investimento para o capital chinês.”
Produtos de maior valor
O estudo da consultoria também mostra que, no último ano, a participação das marcas chinesas no mercado brasileiro de eletroeletrônicos cresceu mais em valor do que em número de unidades vendidas.
Erica Andrade, gerente de sucesso do cliente para as categorias de áudio e vídeo, observa que de três anos para cá houve uma mudança de paradigma: as marcas chinesas passaram a atuar em segmentos de produtos mais premium. “Automaticamente, temos um aumento maior em valor de vendas do que em volume.”
Rabello observa que os fabricantes chineses estão posicionados em produtos de tíquete médio alto, como TVs com telas maiores, computadores mais robustos, processadores sofisticados, lavadoras de roupa do tipo lava e seca, geladeiras com bastante tecnologia embarcada, por exemplo. “Há uma quebra do paradigma de que marcas chinesas têm atuação em segmento de entrada, produtos mais simples e, portanto, mais baratos.”
Outro indicativo de que as chinesas estão quebrando tabus e conquistando a confiança dos consumidores brasileiros de eletroeletrônicos é que, neste ano, pela primeira vez a venda do canal online em número de unidades desses itens chineses superou a da loja física, com uma fatia de 54%, ante 46% dos pontos de venda do varejo tradicional.
“Tivemos em 2025 uma inversão da importância desses canais, foi um ponto de inflexão”, observa Erica. O peso dos canais vai se invertendo à medida que as marcas conseguem ter um amadurecimento maior no mercado.
Quando o consumidor não conhece a marca, ele não se arrisca em comprar online. Ele precisa ter o contato da loja física, ver o produto, conversar com o vendedor. “Conversar com o vendedor é extremamente relevante para uma marca que precisa conquistar o coração do consumidor”, argumenta Rabello. O que os números indicam é que esse estágio no mercado brasileiro agora foi superado pelas chinesas.
Erica acrescenta que a participação em volume neste ano de marcas chinesas entre todos os eletroeletrônicos vendidos no País foi 14%, ante 13% em 2024. “Ter um share de 10% em volume já é muita coisa, dependendo da categoria. E os chineses estão acima desse patamar em todos os canais, isso é relevante”, diz a gerente.
Crédito: Márcia De Chiara / O Estado de São Paulo – @ disponível na internet 25/8/2025