Centrais Sindicais e Governo debatem PEC 38 enquanto dados do Ipea revelam realidade dos servidores

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As centrais sindicais — CUT, CTB, UGT, Força Sindical, Nova Central e outras — estiveram nesta quinta-feira (6) no Palácio do Planalto, em reunião convocada pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Guilherme Boulos, para discutir a PEC 38/2025, conhecida como “PEC Trezoitão”.

O encontro reforçou a posição unânime das entidades sindicais contra a reforma administrativa, hoje capitaneada pelo presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB). 

Governo reafirma que o texto não é do Executivo

Logo na abertura, Boulos foi enfático: 

“A proposta não é do governo Lula, e não pactuaremos com iniciativas que desestruturem carreiras, fragilizem o concurso público ou ataquem a estabilidade do servidor.”

Segundo o ministro, a estabilidade é pilar de proteção das políticas de Estado e condição para que servidores atuem com independência, mesmo diante de pressões políticas. O governo, afirmou, permanecerá atento no diálogo com o Congresso, mas não apoiará medidas que impliquem redução salarial — exceto no enfrentamento de supersalários, tema sobre o qual já existem projetos parados na Câmara por decisão da própria presidência da Casa. 

Centrais reafirmam mobilização permanente

As centrais sindicais reiteraram a necessidade de intensificar a pressão sobre o Parlamento, destacando que a PEC 38 representa um ataque direto à estrutura do Estado e aos serviços prestados à população.

O secretário das Relações de Trabalho da CUT, Sérgio Antiqueira, alertou que a proposta:

  • engessa investimentos sociais, ao replicar o Teto de Gastos para estados e municípios;
  • fragiliza o vínculo dos servidores, e facilita assédio e perseguições políticas;
  • mantém privilégios, pois ignora projetos sérios contra supersalários;
  • retira autonomia de prefeitos e governadores, submetendo-os a órgãos externos nas decisões orçamentárias.

Os sindicalistas ressaltaram que, após a marcha nacional do dia 29 de outubro, 14 deputados recuaram da assinatura da PEC, evidenciando a força da mobilização.

A Realidade dos Servidores Públicos: Média Salarial é de Apenas R$ 3,2 mil

Levantamento do Ipea desmonta o discurso de privilégios

Durante a reunião, as entidades apresentaram dados fundamentais para combater a narrativa que sustenta a PEC. Segundo estudo do Ipea (2023), realizado pelo pesquisador Félix Lopez:

  • A mediana salarial no serviço público brasileiro é de R$ 3.281.
  • Metade dos servidores do país recebe até esse valor.
  • 60% de todos os vínculos do setor público estão nos municípios, onde a mediana salarial é ainda menor: R$ 2.640.

Ou seja: A imensa maioria dos servidores brasileiros ganha pouco e atua na ponta — em escolas, hospitais, prefeituras e serviços essenciais. 

Quem ganha altos salários?

As distorções salariais, quando existem, concentram-se:

  • no Judiciário Federal, onde os 20% com menor renda já começam em R$ 11,5 mil;
  • no Legislativo Federal, que possui as maiores médias salariais do país, chegando a R$ 36,7 mil no topo.

Esses cargos, embora chamem atenção da mídia, representam uma fração mínima dos 12 milhões de vínculos do setor público. 

Reforma baseada em diagnóstico errado

A crítica central do Ipea e das entidades sindicais é direta:   

Os defensores da PEC 38 usam os salários do topo do Judiciário e do Legislativo para justificar cortes que atingirão principalmente servidores municipais e estaduais — justamente os que ganham menos.

Ao flexibilizar estabilidade, ampliar contratações temporárias e precarizar vínculos, a PEC ameaça sobretudo as áreas que mais dependem de servidores concursados: educação, saúde, segurança, assistência social e fiscalização.

A reunião com o ministro Guilherme Boulos reforçou três mensagens essenciais:

  1. A PEC 38/2025 não é do governo e não conta com apoio do Executivo.
  2. As centrais sindicais permanecem unidas na defesa do serviço público e da estabilidade.
  3. O discurso de privilégios é falso: a realidade dos servidores brasileiros é de baixos salários e alta responsabilidade social.

O ASMETRO-SI seguirá acompanhando cada passo da tramitação e defendendo os servidores do Inmetro e de todo o país, com informação qualificada, diálogo institucional e mobilização responsável.

Diretoria Executiva do ASMETRO-SI 8/7/2025 

Fontes:
• CONDSEF – Informes sobre a reunião das centrais sindicais com o ministro Guilherme Boulos
• CUT – Cobertura sobre a posição das centrais em relação à PEC 38/2025
• Ipea – Estudo de Félix Lopez sobre a remuneração média dos servidores públicos (2023)

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