
Com teto no benefício e instabilidade nas regras, professores recomendam educação financeira e aplicação disciplinada de recursos
Estabilidade no emprego, renda previsível e acesso a benefícios previdenciários são algumas das características que fazem do serviço público um ambiente propício ao planejamento financeiro.
Mas nem sempre essas vantagens se traduzem em tranquilidade no longo prazo. Com o avanço das reformas previdenciárias e o aumento do custo de vida, cresce a necessidade de servidores públicos pensarem em como proteger seu padrão de vida — e seus sonhos — mesmo após a aposentadoria.
Segundo especialistas ouvidos pelo EXTRA, é fundamental investir com inteligência e começar cedo, aproveitando o perfil de menor risco que costuma acompanhar esse grupo.
Servidores tem perfil de investimento conservador
A estabilidade da carreira é um privilégio que deve ser usado como base para construir um futuro financeiramente saudável,explica Graziela Fortunato, professora de Finanças da Escola de Negócios (IAG) da PUC-Rio.
— O grande erro é confiar apenas no contracheque ou no benefício previdenciário como garantia.
É preciso começar cedo, montar uma reserva de emergência, diversificar os investimentos e pensar no longo prazo.
Segundo a professora, é comum que servidores apresentem um perfil mais conservador ao investir — o que não significa manter todo o dinheiro parado na poupança ou em aplicações de baixo rendimento.
— Mesmo quem não gosta de correr riscos precisa vencer o medo de investir. Existem ativos seguros, como o Tesouro IPCA+, que protegem contra a inflação e garantem uma rentabilidade real para o futuro. São perfeitos para quem quer garantir uma aposentadoria mais tranquila — detalha Graziela.
Ela recomenda que o primeiro passo seja organizar as finanças e montar uma reserva de emergência equivalente a, pelo menos, seis meses de despesas.
Essa reserva deve ser alocada em produtos de alta liquidez, como CDBs com resgate imediato ou fundos de renda fixa atrelados ao CDI. A partir disso, o servidor pode passar a investir em ativos com diferentes prazos de vencimento e objetivos.
Estabilidade não elimina riscos, aponta professor
Para Ricardo Macedo, economista e professor da UNIFACHA, é fundamental que o servidor público trate seu planejamento financeiro com a mesma seriedade com que encara a estabilidade no trabalho.
— O fato de ter um emprego estável não elimina os riscos da vida. Problemas de saúde, mudanças na legislação, endividamento ou imprevistos familiares podem comprometer o futuro de quem não se planejou. Ter um bom salário não significa estar seguro financeiramente — adverte.
Macedo destaca que a educação financeira ainda é um desafio entre os servidores.
— Muitos acham que investir é coisa para quem tem muito dinheiro. Mas o mais importante é a regularidade dos aportes. Investir R$ 200 por mês de forma disciplinada e inteligente pode gerar um bom patrimônio em 20 ou 30 anos. O tempo e os juros compostos fazem o trabalho — afirma o economista.
A diversificação da carteira, segundo ele, é uma das principais estratégias para mitigar riscos e ampliar oportunidades.
— Um erro comum é colocar todo o dinheiro em um único tipo de aplicação. O servidor pode alocar parte em renda fixa, parte em fundos de previdência, e uma fração menor em fundos imobiliários ou até mesmo ações de empresas sólidas, se tiver o perfil e o conhecimento — sugere.
Previdência complementar é tida como alternativa
Ambos especialistas alertam para as mudanças recentes na Previdência do funcionalismo público, especialmente após a criação dos regimes de previdência complementar, como a Funpresp (no caso dos servidores federais).
— Quem entrou no serviço público após essas mudanças tem um teto de aposentadoria equivalente ao do INSS. Para manter o padrão de vida na aposentadoria, é essencial construir uma previdência complementar, seja por meio dos planos oficiais ou com investimentos próprios — explica Graziela.
Mesmo os servidores que ingressaram antes das reformas e têm direito à aposentadoria integral devem se planejar.
— O custo de vida sobe, a inflação corrói o poder de compra e há sempre o risco de alterações futuras nas regras. Contar apenas com a aposentadoria, mesmo que pareça confortável hoje, é arriscado — alerta a professora da PUC-Rio.
Macedo reforça a importância de revisar periodicamente os investimentos e ajustar a carteira conforme os objetivos e o momento de vida.
— Uma pessoa jovem pode correr mais riscos e buscar maior rentabilidade. Já alguém próximo da aposentadoria deve priorizar segurança e previsibilidade. Planejamento financeiro não é estático: é dinâmico, e precisa acompanhar as mudanças da vida e da economia — afirma.
Além disso, os especialistas recomendam buscar informação de qualidade, evitar decisões impulsivas e, se possível, contar com a ajuda de um profissional de finanças.
— Não é preciso ser especialista para investir bem, mas é importante ter curiosidade, estudar e fugir de promessas de ganhos fáceis. O servidor público tem o privilégio da estabilidade — agora precisa transformar isso em tranquilidade no presente e no futuro — conclui Graziela Fortunato.
Crédioto: Gustavo Silva / Extra – @ disponível na internet 22/4/2025