Cibercrime mira pessoas de baixa renda

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Os golpes são os mais diversos possíveis, desde o Whatsapp clonado a falsas negociações de veículos por meio de plataformas on-line - (crédito: editoria de arte do Correio Braziliense)

Penas brandas, lucro alto: Cibercrime mira pessoas de baixa renda

Pesquisa do Instituto DataSenado apontou que, no ano passado, 51% das vítimas de golpes virtuais recebiam até dois salários mínimos. Outros 35% tinham renda entre dois e seis salários. Polícia e especialistas explicam como reforçar a segurança na internet

Assaltos com armas em punho, balaclavas e violência explícita estão dando lugar a uma nova era do crime: silenciosa, invisível e altamente lucrativa. As quadrilhas digitais, compostas por criminosos cada vez mais especializados, trocam o confronto direto pelas telas. Com penas brandas, retorno financeiro elevado e vítimas muitas vezes despreparadas, o cibercrime tornou-se terreno fértil para a atuação de grupos organizados. Um estudo do Instituto de Pesquisa DataSenado mostrou que pessoas com renda de até dois salários mínimos são as mais afetadas no país.   

Os golpes são os mais diversos possíveis, desde o Whatsapp clonado a falsas negociações de veículos por meio de plataformas on-line. Recentemente, bandidos aproveitaram até o escândalo de corrupção no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para enganar idosos e pensionistas. 

Para além da articulação, da especialização e das fraudes aplicadas por golpistas, o que se vê do outro lado é um cenário devastador: milhares de vítimas emocionalmente abaladas, muitas com perdas financeiras irreparáveis. É o caso de uma professora do DF, de 51 anos, que prefere não se identificar. Ao Correio, ela relatou ter sido vítima do golpe do WhatsApp.

Em agosto, a professora recebeu uma mensagem no aplicativo como se fosse da filha dela. O perfil tinha a foto e o nome da familiar. “Ele (golpista) disse que havia acontecido um problema no celular e que não estava conseguindo entrar em contato por ele, mas que estava nesse novo número e precisava de um dinheiro”, disse.

A mulher contou que, num primeiro momento, o golpista pediu R$ 3 mil. Depois, mais R$ 1,5 mil. “Eu acabei passando o dinheiro. Não olhei o nome do comprovante nem questionei o valor. Quando voltei para casa foi que caiu a ficha de que tinha caído em um golpe”, explicou, acrescentando que acionou a agência bancária e registrou um boletim de ocorrência, mas era tarde demais.

A pesquisa do DataSenado, realizada em 2024 e divulgada em abril deste ano, entrevistou cerca de 22 mil pessoas. O estudo revelou que os mais afetados por golpes virtuais são jovens entre 16 e 29 anos (27% das vítimas). A faixa com mais de 60 anos, considerada vulnerável por ter migrado para uma realidade totalmente nova, digital, já na idade adulta, representa 16% delas. No grupo de pessoas mais velhas, os criminosos escolhem quais golpes vão aplicar. Entre eles, a clonagem de cartão, golpe do Pix, central de banco fictícia, até a captura de dados por telefone e pela internet.

Escritório do crime 

Investigações da Polícia Civil do DF revelam que, em boa parte dos casos, as quadrilhas são de outros estados e montam verdadeiros “escritórios cibernéticos”, com horário de funcionamento e computadores, demonstrando um alto nível de organização.

O delegado Erick Sallum, da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), destacou que os golpistas são, por vezes, jovens com alto conhecimento em softwares. “Por mais de uma vez, quando fomos cumprir mandados de busca, encontramos um verdadeiro escritório, com computadores e telefones, onde o grupo passa o dia inteiro em busca de vítimas.”

O investigador faz uma comparação entre os crimes patrimoniais, como furtos e roubos, com os de fraude eletrônica. “Um assaltante que vai a uma parada de ônibus com um canivete e rouba um celular de R$ 5 a R$ 6 mil vai conseguir revendê-lo por, no máximo, R$ 2 mil. No caso dos golpes digitais, quando encontram as vítimas certas, os golpistas tiram R$ 100, R$ 200 mil”, assinalou.

Os casos de estelionato virtual dispararam entre 2019 e 2020, impulsionados pelo avanço da pandemia de covid-19 e pela digitalização forçada das relações sociais e financeiras no Brasil, afirmou o delegado. Segundo Sallum, foi nesse período de isolamento social que criminosos se aproveitaram não só da situação financeira, mas também da vulnerabilidade emocional. O delegado explica ressaltou que, na maioria dos casos, os criminosos optam por vítimas idosas e, de preferência, com alto poder aquisitivo.

Conscientização

O Correio conversou com Jesaias Arruda, vice-presidente Associação Brasileira de Internet (Abranet), sobre aumento na sofisticação dos ataques cibernéticos e sobre o papel das empresas associadas à entidade em ações de conscientização e na prevenção e combate a crimes cibernéticos. Segundo ele, relatórios indicam que o Brasil registrou mais de 700 milhões de ataques cibernéticos em um período de 12 meses, colocando o país em segundo lugar no ranking mundial de incidência desses ataques.

O vice-diretor explica que as empresas associadas à Abranet participam de iniciativas como o Acordo de Cooperação Técnica com a Polícia Federal, que visa unir esforços na prevenção a fraudes e combate a outros crimes financeiros no ambiente digital. “Promovemos ações de conscientização sobre segurança digital para empresas e usuários. Realizamos alertas de segurança, como no caso do novo recurso ‘Comunidades’ do WhatsApp, orientando os usuários sobre os riscos associados”, afirmou.

Arruda defende medidas para aprimorar a investigação e a repressão a crimes cibernéticos no Brasil, incluindo o alinhamento da Política Nacional de Segurança Cibernética com órgãos e normas existentes, especialmente as relacionadas à proteção de dados.

Crédito: Darcianne Diogo / Correio Braziliense – @ disponível na internet 16/5/2025

 

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