Serviço público investe em carreiras transversais

0
118
@reprodução internet

Serviço público investe em carreiras transversais, que cruzam ministérios. Salários chegam a R$ 15 mil

O governo federal criou duas novas carreiras para reconfigurar a rigidez da atuação do Estado: Desenvolvimento Socioeconômico (ATDS) e Desenvolvimento das Políticas de Justiça e Defesa (ATJD). Essas representam uma mudança no modelo tradicional de pessoal, já que permitem atuação em diversas áreas temáticas e ministérios, conforme a demanda institucional. Os salários iniciais dos cargos giram em torno de R$ 9.700, podendo ultrapassar R$ 15 mil com as progressões. O processo seletivo para ambas as carreiras ocorrerá via Concurso Nacional Unificado (CNU) 2025.

De acordo com a pasta, as novas carreiras foram estruturadas para atender simultaneamente diversas instituições, fortalecendo áreas estratégicas com atuação técnica qualificada. A ATJD, por exemplo, será a primeira carreira civil estruturada com lotação no Ministério da Defesa e no Gabinete de Segurança Institucional, além de apoiar outros ministérios com políticas voltadas para Justiça, Defesa Nacional e Segurança Pública. Já a ATDS terá como foco a formulação e a avaliação de políticas voltadas ao desenvolvimento econômico, regional, urbano e rural.

Para o governo, esse novo arranjo organizacional representa um avanço em relação ao antigo modelo de carreiras estanques, vinculadas a ministérios específicos. Além de favorecer a mobilidade entre órgãos e o trabalho interministerial, as carreiras transversais pretendem promover maior integração e coerência na formulação de políticas públicas.

“Isso favorece uma atuação mais coordenada em projetos prioritários e maior coerência na implementação das ações de governo”, informou o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), em nota enviada ao EXTRA.

Interdisciplinaridade

A mudança de paradigma é vista com bons olhos por especialistas. Para o professor Antonio Batista da Silva Oliveira, coordenador do mestrado profissional em Administração Pública da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Profia/UFRN), a aposta em carreiras transversais tende a ser benéfica tanto para os órgãos quanto para os servidores:

— Há potencialmente uma maior interdisciplinaridade de atuação — necessária para a complexidade das atribuições — e um menor engessamento na carreira. Isso pode ser duplamente enriquecedor.

Ele destaca que a rigidez das atribuições e da progressão funcional nas carreiras públicas é um dos principais gargalos da gestão de pessoas no setor público brasileiro:

— O engessamento é muito mais grave do que as pessoas imaginam e atinge a franca maioria das carreiras públicas. Qualquer ação que reduza esse problema tende a melhorar a alocação, a gestão e quase todos os aspectos do trabalho e da carreira dos envolvidos.

Ainda segundo o professor, o novo desenho das carreiras transversais é mais “arejado” do que os modelos anteriores — como o das carreiras de Analista Técnico de Políticas Sociais (ATPS) e de Analista de Infraestrutura (AIE). No entanto, ele alerta que a efetividade dessas novas carreiras dependerá de uma revisão mais ampla da estrutura de cargos existente.

– Para que esse novo paradigma se consolide, precisa haver muitas atualizações no emaranhado gigantesco de legislações, redução do número de carreiras, fusão de cargos similares ou redundantes e até eliminação de cargos obsoletos.

Avanços

As novas carreiras transversais preveem curso de formação e avaliação de desempenho como critérios para progressão e desenvolvimento funcional — elementos que são apontados como avanços em direção a uma cultura de meritocracia e qualificação técnica.

Para o professor Antonio Oliveira, no entanto, essas ferramentas já existem em diversas outras carreiras, mas com pouca efetividade prática:

– O curso pode ser visto como meramente protocolar, e a avaliação de desempenho é, quase sempre, simbólica. Dar efetividade ao que já se tem talvez seja mais produtivo do que empilhar novas etapas.

O MGI, por sua vez, afirma que continua avaliando permanentemente a estrutura de carreiras da administração pública federal. Segundo a pasta, a criação de novas carreiras transversais dependerá da identificação de lacunas concretas nas áreas estratégicas.

Preparação pré-edital exige estratégia, resiliência e olhar crítico para a realidade do país

A criação de novas carreiras transversais no serviço público federal, como a de Analista de Planejamento, Gestão e Infraestrutura em Dados (ATDS) e a de Analista em Ciência de Dados e Justiça Digital (ATJD), tem despertado o interesse de milhares de concurseiros em todo o país. Mas com o ineditismo dessas carreiras, cresce também a dúvida: como se preparar, de forma eficaz, mesmo antes da publicação dos editais?

A orientadora pedagógica Aline Menezes, especialista do Gran Concursos, afirma que a fase pré-edital é decisiva para quem deseja conquistar uma vaga:

— Este é o momento ideal para que o candidato crie uma base sólida de conhecimentos nas disciplinas que, muito provavelmente, serão cobradas no próximo concurso, já que estiveram presentes no edital anterior do CNU.

Segundo Aline, as matérias essenciais a serem priorizadas nesse momento são: Ética e Integridade, Diversidade e Inclusão, Administração Pública Federal e Desafios do Estado.

– Essas disciplinas estão alinhadas à proposta das novas carreiras, que exigem não apenas conhecimento técnico, mas também uma compreensão mais profunda sobre a atuação estatal em contextos complexos.

A especialista recomenda que o estudo seja orientado por duas frentes: teoria e resolução de questões:

– A prática com questões é indispensável, especialmente se focada na banca organizadora prevista para o certame, a Fundação Getulio Vargas (FGV). Isso ajuda a entender o estilo da prova e os principais temas cobrados.

Rotina

Aline ressalta que o sucesso na preparação passa, obrigatoriamente, por uma análise realista da rotina de vida do candidato:

– É fundamental entender o próprio dia: trabalho, deslocamento, cuidados com filhos ou casa. Com esse diagnóstico em mãos, é possível construir um plano de estudos personalizado.

Para quem tem a agenda apertada, a recomendação dela é aproveitar cada intervalo disponível:

– Pode-se acordar uma hora mais cedo, usar 20 minutos do almoço para fazer questões, ouvir videoaulas enquanto dirige ou está na academia, ler enquanto espera uma consulta. São pequenas inserções que, ao longo do tempo, somam muito.

No entanto, Aline reforça que esses momentos devem ser um complemento:

– Nada substitui o momento dedicado à teoria e à prática com questões sentado, concentrado. Os encaixes são válidos, mas não suficientes.

Compreensão da realidade brasileira

Mais do que decorar conteúdos, o estudo para as carreiras do CNU exige uma postura ativa diante da realidade brasileira.

– É preciso desenvolver uma visão crítica e analítica sobre o país. Os conteúdos dialogam entre si e com a vida real: questões sociais, históricas, econômicas e jurídicas se entrelaçam. Quem consegue enxergar essas conexões sai na frente – avalia a especialista.

Aline também alerta para armadilhas emocionais comuns durante a preparação:

– Ficar preso a reclamações — do conteúdo, da banca, do professor — é desperdiçar energia. O foco deve estar no que realmente leva ao resultado. Ser resiliente e aceitar que se trata de uma fase passageira do processo é o que traz leveza e constância. Isso ajuda a enxergar sentido nos estudos e manter a motivação.

Crédito: Gustavo Silva / EXTRA – @ disponível na internet 23/6/2025

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui