“Se nada for feito, Brasil caminha para se tornar um narcoestado”

0
60
@reprodução internet

“Se nada for feito, Brasil caminha para se tornar um narcoestado”, diz promotor que investiga o PCC

A execução do ex-delegado-geral de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, é mais um capítulo da força do crime organizado no País. Se não frear a escalada das facções, o Brasil corre o risco e se tornar um país dominado pelo tráfico de drogas, alerta o promotor Lincoln Gakiya, que investiga o Primeiro Comando da Capital (PCC) há cerca de 20 anos.

A polícia ainda investiga o atentado contra Ferraz Fontes, mas já identificou dois dos seis suspeitos – um deles têm ligação com o PCC. A vítima foi fuzilada na segunda-feira, 15, em uma emboscada na segunda-feira, 15, em Praia Grande (SP), onde era secretário-municipal.

Com cerca de 40 anos de carreira na Polícia Civil, o ex-delegado-geral foi o responsável pelo indiciamento de Marcola, líder máximo do PCC, nos anos 2000. Ele havia se aposentado da corporação havia dois anos.

Um narcoestado é um país onde as instituições são infiltradas pelo poder e pela riqueza de organizações de tráfico de drogas, resultando na corrupção de agentes públicos e na influência do crime organizado em políticas governamentais.

Gakiya compara a execução do ex-policial ao ataque do PCC contra o delator Vinícius Gritzbach, em novembro de 2024, no Aeroporto de Guarulhos.

“Embora os executores fossem policiais militares cooptados, tinha o envolvimento do PCC no crime de mando, porque ele era jurado pelo PCC”, afirmou o promotor.

“O que precisa entender é que o PCC escalou, é uma organização criminosa que já saiu dos muros do sistema prisional. Não é mais uma facção de prisão, já ganhou as ruas”, acrescentou.

Segundo Gakiya, que acompanha a investigação sobre o caso, um dos suspeitos já esteve no sistema prisional e é vinculado ao PCC. Ele ressalva que o envolvimento da facção na execução ainda precisa ser confirmado pela investigação.

“Que é de uma organização criminosa, não tenho dúvida. Os executores são criminosos profissionais e o suspeito é ligado ao PCC. Não quer dizer que necessariamente tenha sido obra do PCC, mas há essa ligação.”

As cenas do crime mostram que os assassinos tinham treinamento. O grupo fez um tocaia à espera de Ferraz Fontes e o perseguiu de carro. Depois, três bandidos desceram do automóvel, armados com fuzis, para executá-lo enquanto outro ficou à espera, na retaguarda.

Segundo ele, a infiltração da facção – como na economia informal e em alguns setores no mercado financeiro – mostra o avanço do crime organizado. “Essa associação do PCC, que já é uma máfia, com esses outros tipos de criminosos, como os do mercado financeiro, de empresas, aumenta a periculosidade do PCC e fazem com que a gente precise ter realmente uma legislação nova no País”, destaca o membro do MP paulista.

“Por isso, defendo uma legislação antimáfia para que preveja um tipo penal mafioso. É um fenômeno que não existia quando foi criada a Lei das Organizações Criminosas que tem hoje”, continua.

Ele diz não ter receio nenhum de apontar a facção como organização mafiosa. “Não digo que o PCC é uma organização terrorista porque perante nossa legislação, não são considerados terroristas, já que precisa ter ali motivação de raça, religião ou política. Se eles explodirem o Metro da Sé às 7 horas da manhã numa segunda feira, não será considerado ato terrorista, mesmo sendo assinado pelo PCC. O que costumo dizer é que os atos que praticam são de natureza eminentemente terrorista.”

Ministério prevê projeto para fortalecer combate a facções

O Ministério da Justiça e Segurança Pública diz que está em discussão na pasta um projeto para fortalecer o combate às facções criminosas. Além de endurecer a legislação com o objetivo de estancar a atuação desses grupos, o projeto prevê proteção a agentes do Estado que atuam no enfrentamento a esses grupos.

Crédito: José Maria Tomazela / O estado de São Paulo – @ disponível na internet 18/9/2025

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui