De Bem com a Vida: Como emagrecer seu fígado. Estratégias para tratar a gordura hepática

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Excesso de gordura no fígado pode provocar inflamação e fibrose Foto: Sebastian Kaulitzki/Adobe Stock

Como emagrecer seu fígado: estratégias para tratar a gordura hepática

Quadro acomete principalmente pessoas com sobrepeso, obesidade ou diabetes e pode evoluir por anos sem causar sintomas
 

Silencioso e cada vez mais comum, o excesso de gordura no fígado, tecnicamente chamado de esteatose hepática metabólica (antigamente conhecido por esteatose hepática não alcoólica), já atinge cerca de um terço da população mundial — e a tendência é continuar aumentando. Ter gordura no fígado significa que as células hepáticas estão acumulando lipídios, algo que pode acontecer em qualquer pessoa, mesmo magra, mas é mais comum entre quem tem sobrepeso, obesidade ou diabetes.

“Esse acúmulo de gordura se torna uma doença quando ultrapassa 5% das células do fígado. Acima disso o órgão já está sobrecarregado e pode evoluir com inflamação, fibrose e, nos casos mais graves, cirrose e câncer hepático, caso o problema não seja diagnosticado e tratado adequadamente”, explica a hepatologista Natália Trevizoli, do Hospital Sírio-Libanês, em Brasília.

O aumento da esteatose hepática é impulsionado por dietas com produtos ultraprocessados, sedentarismo, sono irregular e estresse. Por isso, especialistas chamam a condição de “epidemia silenciosa”. “Muitas pessoas descobrem por acaso, em exames de rotina, porque a doença pode evoluir por anos sem causar sintomas”, diz Natália.

Emagrecer o fígado

Mas o que significa, afinal, “emagrecer o fígado”? Segundo os especialistas, a expressão traduz o esforço de reduzir a gordura acumulada nesse órgão, algo que depende diretamente de mudanças no estilo de vida.

“Trata-se de reduzir a gordura corporal como um todo, especialmente a gordura visceral, que é aquela que se acumula na região abdominal. Esse tipo de gordura é mais perigoso, pois libera substâncias inflamatórias que agravam o dano hepático e aumentam o risco cardiovascular”, diz o hepatologista Luís Edmundo Fonseca, do Centro Especializado em Aparelho Digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Estudos mostram que perder entre 7% e 10% do peso corporal já pode normalizar enzimas e melhorar a estrutura do fígado, por isso os médicos reforçam que perder peso é o principal caminho, mas a qualidade dessa perda também faz diferença. “Qualquer perda já traz benefícios. Mesmo 5% de perda de peso pode reduzir a gordura hepática e melhorar os exames”, pontua Fonseca.

O que comer (e o que evitar)

Ao contrário do que muita gente imagina, não é preciso cortar toda a gordura da dieta para reduzir a quantidade de gordura no fígado. O segredo está na qualidade dos alimentos e no controle dos excessos.

“As gorduras boas, como aquelas presentes no azeite de oliva, nas castanhas e nos peixes, são até protetoras. O problema são as gorduras saturadas e trans, presentes nos alimentos ultraprocessados, nas frituras e embutidos”, diz Natália.

 
E, curiosamente, o café sem açúcar entra na “lista do bem”, com efeito protetor comprovado. “Estudos mostram que o consumo regular de duas a três xícaras por dia, sem açúcar, está associado a menor risco de fibrose, cirrose e até de câncer hepático”, comenta Natália.
 

Planos alimentares como a dieta low carb e o jejum intermitente podem até trazer benefícios pontuais, desde que sejam bem orientados. “Essas estratégias podem ser eficazes se forem orientadas por profissionais e adaptadas ao perfil de cada paciente. O jejum intermitente, por exemplo, não é indicado para todos, especialmente para pessoas com diabetes, que fazem uso de medicamentos ou possuem distúrbios alimentares”, diz a médica.

O que funciona mesmo é um plano alimentar equilibrado e que seja sustentável a longo prazo, com redução de açúcares, farinhas refinadas e ultraprocessados, associado à prática regular de exercícios e ao controle do peso e do metabolismo. “Seguir modismos sem orientação pode piorar o quadro metabólico e agravar outras condições de saúde. O acompanhamento médico e nutricional é essencial”, ressalta Fonseca.

Exercício é parte do tratamento

A boa notícia é que a atividade física ajuda o fígado a melhorar antes mesmo da perda de peso visível, já que o exercício reduz inflamação, melhora o metabolismo da glicose e a função hepática. Por isso, o ideal é combinar treinos aeróbicos e de força, pois ambos atuam de forma complementar. “O aeróbico reduz a gordura total e visceral, e a musculação aumenta a massa magra, acelerando o metabolismo”, diz Natália.

As recomendações internacionais sugerem ao menos 150 minutos de exercício moderado por semana, ou 75 minutos de atividade intensa, combinando treino aeróbico e de resistência. Mas Fonseca lembra que mais importante do que a intensidade é a constância: “Encontre uma prática que traga prazer e tente se movimentar todos os dias.”   

E as Canetas?

Nos últimos anos, medicamentos como semaglutida e tirzepatida ganharam destaque por promover perda de peso e melhora do metabolismo. Agora, estudos mostram que eles também reduzem a gordura hepática.

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Além disso, em 2024, o FDA aprovou o resmetirom, medicamento indicado para pacientes com fibrose moderada a avançada. Também são opções o pioglitazona (para pessoas com diabetes) e a vitamina E (tradicionalmente recomendada para não diabéticos), recomendados em diretrizes internacionais para casos selecionados, com evidência de melhora. Mas, em todos os cenários, o estilo de vida — com perda de peso, alimentação equilibrada e atividade física — permanece como o pilar do tratamento.

“Novos fármacos estão em fase avançada de pesquisa, como agonistas de FGF21 e FXR (classes de medicamentos que mimetizam a ação do hormônio FGF21 e do receptor FXR) e moléculas com ação combinada sobre metabolismo, inflamação e fibrose. São medicamentos voltados para o tratamento direto da MASH, com resultados animadores, o que deve mudar o cenário terapêutico nos próximos anos”, finaliza Natália.

Crédito: Fernanda Bassette / O Estado de São Paulo – @ disponível na internet 13/11/2025

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