“O plano de ação da ciência antártica para o Brasil terá melhores condições para desenvolver programas científicos que aumentem a participação brasileira no sistema do trabalho antártico, que envolve além do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e Fundação Oswaldo Cruz, de 13 universidades, contando com 250 pesquisadores”, comentou o vice-presidente.
O comandante da Marinha do Brasil, Ilques Barbosa, ressaltou a importância da presença brasileira por meio da reconstrução da base tanto para experiências científicas quanto para participar da governança da região.
“A base possibilitará a presença brasileira em uma plataforma sustentável que permitira conhecer melhor este enorme continente de características ímpares, bem como reafirmar compromisso do Brasil como membro consultivo do tratado para participar das decisões sobre os destinos dessa região”, pontuou.
Histórico
A Estação Comandante Ferraz foi criada em 1984. Passou por ampliações em anos seguintes, como em 1985 e passou a ser ocupado durante todo o ano. Em razão da sua atuação, o Brasil foi incorporado como membro consultivo do Tratado da Antártica.
Em 2012, a base foi atingida por um incêndio de grandes proporções. Na ocasião, dois militares morreram e 70% das suas instalações foram perdidas. O novo prédio foi erguido ao lado da atual base, que tem estrutura provisória.

Agência Brasil de Notícias 16/01/2020
Nova estação empolga cientistas na Antártica, mas verba para pesquisa preocupa
O primeiro passo para trabalhar por lá é entrar em um dos 19 projetos em andamento que compõem a pesquisa do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). A cada três ou quatro anos, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) lança editais. Quem tem o projeto aprovado ganha acesso à nova estação e à infraestrutura oferecida pela Marinha. Mas o trabalho in loco requer preparo.
— O estudante precisa ser perseverante. Trabalhar aqui é muito difícil. Para chegar é no mínimo uma semana de viagem. Uma fase da operação dura um mês, e você consegue trabalhar só três ou quatro dias. O clima não deixa você atuar em campo. Às vezes, às 8h, o céu está azul, às 9h, neva e, logo depois, aparecem ventos de 150 km/h. Exige preparação — conta o professor Luiz Rosa, da Universidade Federal de Minas Gerais, há 12 anos pesquisando fungos antárticos.
— Você vai ser bem recebido, terá o laboratório para usar, e o projeto vai receber, ainda, insumos, dinheiro para sequenciamento, comprar reagentes, tudo isso — conta o pesquisador. — A gente espera que os alunos se associem a esses projetos. O aluno pode vir fazer comigo um mestrado, uma iniciativa científica ou um doutorado com o tema Antártica. E, inevitavelmente, ele vai ter de vir.
Conforto e praticidade
Os cientistas se entusiasmaram com as novas instalações. Os biólogos, por exemplo, conseguem coletar o material em campo e examiná-lo com equipamentos adequados. No caso da botânica, é possível extrair o DNA das plantas e estabilizar amostras para enviá-las ao Brasil para o sequenciamento genético.
— Se a pessoa vier bem organizada, pode coletar os dados, processar as análises e já sair com um artigo científico pronto — diz Câmara.
Para Rosa, a estação brasileira na Antártica talvez esteja “entre as três mais bem equipadas do mundo”.
No entanto, o trabalho por lá historicamente representa menos de 30% da pesquisa brasileira na Antártica. O restante é feito no navio Almirante Maximiano ou em acampamentos, com recursos modestos. O Brasil possui também um pequeno módulo de pesquisa atmosférica, o Criosfera 1, instalado a 2.500 km ao sul de Comandante Ferraz, no meio do continente antártico, área inóspita que só acomoda visitas no verão.
A verba para essas outras atividades não está garantida. O Criosfera 2, por exemplo, que complementa o projeto do primeiro módulo, já foi construído mas está parado em Porto Alegre. A falta de verbas atrasou sua instalação.
O Proantar tem atualmente aporte de verbas previsto até 2022, situação relativamente confortável se comparada ao atual cenário de escassez de verba para ciência no Brasil. A preocupação, porém, é com a instabilidade de recursos no longo prazo.
— Você imagina que vai terminar a pesquisa em três anos, só que dura mais dois, e o dinheiro não aumenta — observa Câmara, que lembra que ainda não é possível fazer 100% da pesquisa in loco: — No meu caso, de DNA, o sequenciamento precisa ser concluído no continente. Quem normalmente faz esses estudos são os alunos, através dos programas de pós-graduação oferecidos pelas universidades federais. E, para isso, a gente precisa das bolsas.
Áreas prioritárias
Hoje é possível um aluno de iniciação científica desenvolver um trabalho de campo na Antártica, algo que nem sempre foi possível. Jefferson Simões, o coordenador da área científica do Proantar, já tem 30 anos de experiência no continente, e lembra de quando as viagens não eram tão frequentes.
— Demorei para pisar na Antártica pela primeira vez porque fiz meu doutorado antes. A primeira vez foi em 1990, quando voltei de Cambridge — conta.
Simões foi um dos cientistas que definiram o planejamento estratégico para a pesquisa antártica, e lista as áreas prioritárias agora.
— Os principais estudos estão nas conexões do clima antártico com o brasileiro, como implementar modelos meteorológicos e climáticos para avaliação do mar congelado antártico. Esse é o fenômeno sazonal de maior variação no mundo que conhecemos. O mar congelado salta de 2 milhões de km² no verão para 20 milhões de km² no inverno. —explica ele: — Outra é a questão do impacto do derretimento de gelo da Antártica no nível médio dos mares. Isso tem implicações para a costa brasileira.
Além das pesquisas biológicas e médicas como as lideradas por Paulo Câmara e Luiz Rosa, a Antártica abriga pesquisa em geologia com implicação para prospecção de petróleo, pesquisas sobre radiação solar e até astronomia, como o estudo de raios cósmicos.
Crédito: Elcio Braga, enviado especial e Rafael Garcia, de São Paulo/O Globo – disponível na internet 16/01/2020